Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)

Uma forma de contato - 38

          Seguem os três, mais uma vez de volta ao bunker. Jow pilota com extrema pressa e cautela até chegarem no abrigo.

          — Morgana, vamos comer algo e descansar o quanto antes. Pretendo te levar a cidadela ainda esta madrugada. Você deve atravessar o muro no horário de troca de plantão dos guardas, isso geralmente acontece entre as cinco e às sete da manhã. Temos que estar lá antes disso pra garantir uma passagem segura.

          — Tudo bem. Mas não parei de pensar em uma coisa todo esse tempo.

          — E o que é?

          — Este abrigo aqui é um achado e tanto. Cara, dá pra morar e ser feliz nesse lugar. Tem tudo que precisa, água limpa, comida boa, energia elétrica, conforto, segurança.

          — Você se encanta com pequenos prazeres e esquece-se dos riscos à volta. Estamos em território da Natihvus, vigiado constantemente por militares, se nos descobrem aqui somos ratos presos em uma caixa de concreto, não tem pra onde fugir.

          — O que vai fazer com tudo isso aqui?

          — Vou lacrar e ocultar a entrada. É um ótimo ponto de apoio, estoque e suprimentos, pode vir a calhar um dia.

          — O que vai fazer da sua vida depois que me deixar lá no curral amanhã?

          — Eu fui designado a uma nova tarefa além das terras do Leste.

          — Como assim designado? Pra lá só tem mata e deserto. Que tarefa é essa?

          — Coisa da Nona. Ainda não sei ao certo exatamente que tarefa é essa. Ela me disse que depois de um dia ou dois de viagem chegarem a uma planície de terra fértil, e lá devo procurar alguém.

          — Depois que você se for, se eu precisar da sua ajuda novamente... Como farei?

          — Vou te dar um presente... Sabe o que é um pager?

          — Acho que sim. É um daqueles aparelhinhos de mandar mensagem muito antigos?

          — Isso mesmo. Tenho dois, quero que fique com este. Caso precise de mim, basta mandar uma mensagem. Este outro vou instalar direto no display do Norffi. Assim que você fizer contato, ele receberá imediatamente. Em questão de segundos, terei sua mensagem e sua localização via satélite.

          — Eu também quero te dar um presente. Não é grande coisa, mas é pra se lembrar de mim.

          Morgana retira do bolso uma foto sua sorridente de biquíni vermelho em uma praia. Jow olha a foto por um instante e agradece.

          — Jow você acha que vamos nos ver novamente?

          — Não sei Morgana, nossos caminhos são muito distintos. Lutamos por causas diferentes.

          — E por quais causas você luta?

          — Carrego grandes responsabilidades comigo, que envolvem meu passado, minha família e algo que pode ameaçar o futuro da vida na Terra. Por isso não sou boa companhia. Todos que se aproximam demais de mim se machucam de alguma forma.

          — Jow, eu te conheço há apenas quatro dias, te confiei minha casa, minha família e minha vida. Não lhe custa confiar a mim sua história.

          — Tudo bem Morgana, eu te conto minha história confusa. — Jow respira fundo como que se se preparasse pra aquilo e começa: — Quando tudo acabou, eu perdi o que restava da minha família, estava longe do meu avô e vi meu pai desaparecer bem diante dos meus olhos... — Jow de repente fica em silêncio com o olhar fixo congelado no copo de suco sobre a mesa.

          — Então, Jow. Vai contar ou não? — Morgana diz sorrindo.

Jow faz sinal de silêncio com a mão e aponta para o copo sobre a mesa onde o líquido dentro dele começa a vibrar. Jow pressentindo o perigo se apressa.

          — Morgana apague as luzes e se esconda com Norffi. Eu vou lá em cima ver o que está acontecendo.

          — Tudo bem, tome cuidado. — Seu semblante muda para assustada instantaneamente e ela o obedece.

          "Sou eu que eles querem. Eles só querem a mim. — Diz a si mesmo em pensamento enquanto empunha o revólver antes de subir a escada.

          Assim que chega na superfície já pode ouvir ao longe na estrada, o som dos veículos se aproximando. Ele atravessa a pequena faixa de mata que o separa da estrada. Rapidamente os veículos passam por ele e continuam o caminho sem nem ao menos diminuir a velocidade. Jow continua olhando até sumirem de vista. Ele sabe que não tem mais muito tempo.

          — Morgana, já pode sair, eles já foram.

          — Quem eram?

          — Uma patrulha ou duas, pela quantidade de soldados e veículos não era somente uma.

          — A essa hora? O que devem estar procurando?

          — Pela pressa que passaram, não estão procurando. Já encontraram ou sabem onde achar. Vamos descansar logo. Temos pouco tempo pra isso. Partiremos às duas da manhã.

          — Tudo bem, boa noite, Jow. Boa noite, Norffi.

          — Boa noite Morgana.