Capítulo 77

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Pov Derek Halles

- Shane? - perguntei assim que cheguei ao último degrau. Ele estava lá, com a sua mala no chão, e algo no seu olhar deixou-me tenso. Aproximei-me rapidamente, confuso com a sua presença inesperada.

- Preciso de ti. - A sua voz soava embargada, e vi lágrimas prestes a escaparem dos seus olhos. Sem hesitar, envolvi-o num abraço, sentindo a sua tensão dissolver-se por um momento antes de ele se afastar. Os seus olhos encontraram os de Ballie quando ela se juntou a nós, e um sorriso trémulo apareceu no seu rosto.

- Shane? - Ela aproximou-se, abraçando-o. A sua expressão transformou-se em confusão quando não encontrou a Val ali. Depois de respirar fundo por alguns segundos, ela soltou a bomba -  Tenho que ir para os Estados Unidos. - O choque atingiu-me como um raio. O Shane olhou para o chão, e a confusão só aumentou.

- Eu e a Val... decidimos dar um tempo. As coisas não estavam a funcionar, eu precisava de espaço. Conhecer novas pessoas, novas culturas. Foi uma decisão difícil, mas necessária. - As palavras do Shane ecoaram baixo, mas o peso delas atingiu-me como uma avalanche.

- Mas... como assim? Eu não entendo. - A minha voz vacilou, refletindo a minha crescente confusão.

- Eu explico-te depois. Agora, só preciso de dormir... - Ele desviou o olhar, e eu concordei, respeitando o seu desejo por espaço. Subimos as escadas juntos, mas cada degrau parecia pesar toneladas. Ao chegar ao quarto de hóspedes, abri a porta para ele e vi-o desaparecer lá dentro, fechando-a atrás de si. Voltei para o meu quarto, onde Ballie estava a arrumar rapidamente a sua mala.

- Estás mesmo a ir embora? E nós? - A minha voz saiu desesperada, à busca de respostas que pareciam esquivar-se.

- Tenho de ir, Derek. - Ela engoliu em seco, os seus movimentos rápidos e frenéticos deixavam-me doido.

- E nós, Ballie? - Os meus olhos imploravam por uma resposta que ela parecia relutante em dar.

- Não sei o que somos, Derek. Só sei que não somos apenas amigos. - As suas palavras cortaram-me como uma lâmina afiada, deixando-me desnorteado.

- Fica comigo, Ballie. - A minha voz saiu baixa, suplicante, mas ela parecia resignada.

- A Val precisa de mim, o Shane precisa de ti. Eles têm algo que não pode acabar. - A sua voz era firme, mas o seu rosto mostrava uma dor que não conseguia ignorar.

- E nós? O nosso vínculo também vai acabar? - As palavras escaparam dos meus lábios, carregadas de angústia e incerteza.

- Acabou quando partiste para o Canadá, Derek. - A dor na sua voz era palpável, atingindo-me como um soco no estômago.

- Pensei que tínhamos superado isso, Ballie. Para mim, nós tínhamos. E para ti? - A minha voz tremia, o meu coração apertado no peito enquanto tentava entender onde erramos.

Ela colocou a mão no meu braço por um instante, deixando um beijo suave no meu peito antes de sair do quarto com a sua mala. Fiquei ali, paralisado, enquanto a porta se fechava atrás dela.

Minutos depois, saí do quarto, mas era tarde demais. O carro já estava a afastar-se, levando a Ballie embora. Os meus pais e as minhas irmãs acenavam da janela, mas os meus olhos estavam fixos no carro a desaparecer na curva da rua. A realização atingiu-me como um golpe, ela foi, e não há nada que eu possa fazer para trazê-la de volta. Voltei para o meu quarto e fechei a porta com força, deixando os meus sentimentos tomarem conta de mim. Derrubei tudo o que tinha na secretária ao chão e dei alguns socos na parede, até sentir a dor física na minha mão. Sentei-me no chão e respirei fundo por alguns minutos, tentando conter a avalanche de emoções que me inundava. Passei as mãos pelo cabelo e puxei-o com força, tentando aliviar a dor que consumia cada fibra do meu ser. Olhei para os objetos derrubados no chão e peguei na pulseira da Ballie, que estava ao meu lado. Apertei-a com força e senti a angústia a envolver-me como uma névoa densa. As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto e eu encostei-me à parede, sentindo a dor da perda, mais uma vez. A porta do meu quarto abriu-se e o Shane entrou, em silêncio. Ele sentou-se ao meu lado e começou a chorar também. Éramos dois adultos, mas naquele momento éramos como duas crianças perdidas, lembrando-me dos tempos em que as nossas mães puniam-nos pelos nossos erros, deixando-nos de castigo sem o nosso gelado preferido ou o brinquedo que tanto amávamos.

- Deu merda. - ele disse baixo, a sua voz estava embargada pela dor.

- Muita merda. - respondi, a minha voz estava igualmente carregada de tristeza. Em meio às lágrimas e à dor, ao menos tínhamos um ao outro para compartilhar o peso da nossa desilusão.

Dallie - o reencontro (PT-PT) (2°)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora