Capítulo 48

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"Vocês não acham que estão pegando pesado demais com a menina?" Mia reclama ao ouvir meu gemido de dor, em resposta ao chute na canela que recebi. "Me devolve a tesoura Malu, você nos disse que seria apenas um susto, não quero mais encrenca pra cima de mim, meus pais já estão na minha cola." Fito o tênis de Mia, ela está bem próxima de Malu, e eu começo ter esperanças de que ela retroceda e não cause nenhum dano no meu cabelinho que tanto amo e cuido.

"Mudei de ideia, acho que um susto não será suficiente." Ela ri visivelmente fora de si, ainda num clima rixoso evidente.

"Faça o que você quiser, eu tô fora, não quero problemas com o Hero, você estará fodida nas mãos dele." Mia avisa e começa se distanciar da gente.

"Meu sonho." Malu gargalha em relação ao duplo sentido na resposta de Mia.

"Sua vaca maldita." Me espanto com a agressividade de minhas palavras, não é costumeiro xingar alguém em voz alta.

"Como é que é?" Ela finge ter ficado surpresa, se atrevendo espalhar meus cabelos com os dedos, bagunçando. "Vou acabar te poupando tempo, você deve demorar uma eternidade para mantê-los sedosos e brilhantes." Uma gaitada perversa. "Acho que até eu vou chorar viu? Em Pati faz um rabo de cavalo improvisado; eu não tenho tempo para pensar num corte criativo, repicado cairia bem, enfim, desculpa se não ficar legal, sou um desastre com a tesoura na mão." Ela começa brincar com a tesoura na minha cara, cortando algo invisível.

Se ela... juro que vou matá-la, nunca odiei tanto uma pessoa na minha vida, ela é pior do que uma aluna que não ia com minha cara no ensino fundamental, e me fez comer areia na saída da escola, até hoje a lembrança me causa um desconforto na garganta, mas essa rivalidade já passou do limite, não somos crianças e a ideia de ser por causa de macho é intolerável.

Sou péssima em brigar, a única pessoa que agredi até hoje foi meu próprio namorado e o Daniel quando tentava me beijar no palco da boate.

Como a ausência deles me chicoteia, nunca pensei que sentiria falta até da perseguição do Daniel.

"Hora do show." Ela dá pulinhos em resposta ao meu cabelo domado pelas suas amiguinhas maldosas, que ficam rindo de mim.

Vejo sua mão desaparecer do meu campo de visão, e logo sinto ela pesar o braço no alto da minha cabeça, como se buscasse uma posição mais confortável.

Me debato com o máximo de força que consigo, decidida lutar até o último segundo, dificultando as coisas, se é meu cabelo que está em jogo preciso ao menos tentar.

Grito alto por ajuda, até que uma delas cobre minha boca com a mão, possuída de ódio eu cravo meus dentes com tudo, sem me abalar pelo sangue que começa escorrer, e tampouco ao ouvir o grito agonizante que ela emite.

"A vadia me mordeu." Uma menina bem morena salta pelo banheiro, se contorcendo de dor.

Malu se afasta de mim sorridente, me encarando divertida e ainda com a tesoura na mão.

As outras três permanecem me segurando, eu sigo me sacudindo, tornando o ato de me domar trabalhoso.

"Por mim a gente raspava a cabeça dela." A morena que levou a mordida expõe uma infinidade de caretas na minha direção.

"Que tal você cortar então?" Malu oferece a tesoura pra ela. "Tenho certeza que será mais criativa, acho que vou até gravar o momento." Ela puxa o celular do bolso da calça, se mostrando ainda mais baixa, nunca desejei tanto saber lutar, vou ter que iniciar a aula que Hero mencionou, nem sempre estará por perto para me acudir.

Meu coração se acelera no peito, o alívio me banha por completo com a presença de mais uma pessoa adentrando o banheiro feminino, eu venho lidando com tantos demônios e anjos na minha vida ultimamente, o qual o destino permanece plantando no meio da minha caminhada, diferente do que sempre acreditei, eles não são apenas uma parte imaterial do humano; que supostamente se abrigam dentro das pessoas, algumas são de fato o próprio anjo ou demônio, sem condições.

Hidden [COMPLETO]Where stories live. Discover now