Hidden [COMPLETO]

Capítulo 12

Espero impaciente a água do chuveiro aquecer, a temperatura tornou a cair hoje pela madrugada e amanheceu bem frio. Moro em um bairro nobre da cidade e que fica a poucos quilômetros da reserva do exército, talvez isso explique o motivo de não terem aumentado o perímetro urbano por aqui, nossa casa — que papai paga mensalmente para morarmos, é praticamente mergulhada na floresta e meu quintal envolto de muito verde, o que favorece a temperatura serem baixas na madrugada. O cenário é lindo não vou negar, mas chega a ser claustrofóbico as vezes a constância do frio, agora entendo porque umas pessoas me diziam que ele dói e olha que ainda não experimentei o inverno rigoroso daqui.

Apesar de ter passado toda minha vida em uma cidade pequena e habitualmente debaixo do sol escaldante, eu aprendi a amar o calor e suas temperaturas elevadas — o único ponto negativo, porque sempre existem os dois lados, era a intolerância de minha mãe em relação as minhas vestimentas, sempre tendo que seguir o padrão que ela estabeleceu, não importava o quão quente o clima ficasse.

Ainda sonolenta medito na conversa que tive com meu pai ontem antes de subir pro meu quarto, eu já estava estranhando sua atração espontânea pelo Hero.

Flashback on:

“Você tem certeza que ele é apenas um amigo?” Papai me perguntou com uma certa desconfiança enquanto saia da cozinha, naquela noite eu já estava preparada para subir as escadas e fugir de algum tipo de conversa com ele.

“Sim.” Eu respondi apressadamente e com medo do que ele pode ter interpretado, ainda mais depois do convite ousado de Hero. “Por que o senhor está me perguntando isso?” Eu tentei bancar a inocente.

Ele me encarou pensativo e demorou tempo demais para responder.

“Eu nunca tinha visto você tão... vermelha e não parava de mexer nos cabelos, a maneira como ele te olha não nega que está interessado e eu arriscaria dizer que você parece alimentar o interesse dele, sei lá, alguma coisa entre vocês soa muito evidente, embora seja apenas especulações, mas essa foi a impressão que me passou.” Eu tentei controlar os batimentos cardíacos do meu coração e não blefar, eu devia ter me controlado mais e não ficado admirando Hero descaradamente, porém o estrago já estava feito, meu comportamento desajustado tinha plantado uma dúvida na cabeça de meu pai.

“Talvez eu só esteja agradecida demais pelo que ele fez.” Tento mudar o rumo da conversa. “E sem acreditar que tive tanta sorte.” Seguro no corrimão da escada me preparando para escapulir.

“Eu só dei permissão para sair com ele amanhã para que você esclareça as coisas entre vocês, eu não sou cego e sei que você não é mais uma criança, e deve atrair um bocado de garotos.” Meu pai acariciava meus braços enquanto falava. “E você certamente em algum momento da sua vida se sentirá atraída por alguém, se é que já não está, contudo vou te falar uma coisa muito valiosa, não como pai — mas como amigo e conhecedor da palavra, creio firmemente que o relacionamento entre crentes e descrentes não é uma atitude sábia, porém quando a pessoa descrente tem alguma noção bíblica sobre ética, princípios e valores, o envolvimento é menos problemático, e eu espero de verdade que você não precise lidar com isso um dia, e espero menos ainda, que na pior das hipóteses chegue a se relacionar com um ateu, agnóstico, ou qualquer tipo de pessoa que tenha uma moral oposta à da fé cristã, pois nesse extremo eu a incentivaria a desistir de vez.” Suas palavras nocautearam minhas ilusões e eu tive que tentar enfiar aquelas palavras contra minha vontade no fundo da minha cabeça. Eu estava realmente desestimulada a continuar vivendo assim, numa constante renúncia.

“Eu não sei em qual parâmetro aquele rapaz se encaixa, a única coisa que sei é que ele não é pra você.” Papai sorriu pra mim tristemente. “Eu não vou interferir nas suas decisões, mas espero que leve em conta seus princípios e no fundo do meu coração te aconselho a abrir mão da sua vontade e buscar a vontade de Deus, sempre.” Ele beijou minha cabeça e se retirou, me deixando sozinha no meio da bagunça que suas palavra causaram.