Capítulo 13

19.9K 1.6K 1.2K
                                    

Estou uma pilha de nervos andando em círculos pelo quarto enquanto os minutos passam em um vexame estranho. Tem quase duas horas que telefonei para Camila e combinamos dela forjar minha ida para sua casa, eu nem sei como consertar as rachaduras que o envolvimento com Hero está causando na minha vida espiritual, me resta ter esperança e acreditar que nem tudo está perdido.

Pela janela ainda no meu quarto contemplo o sol se pondo por detrás dos pinheiros — e se escondendo no horizonte, enfeitando o céu com os últimos raios solares do dia que se findou, vislumbro tudo maravilhada antes que a noite chegue com sua capa e oculte o crepúsculo.

Por fim, a escuridão se manifesta como um lembrete de que tenho um encontro às escuras. Disparo para o banheiro como uma daquelas adolescentes empolgadas, que estão começando sentir uma euforia de novos sentimentos e sensações, e sem juízo algum na cabeça.

Visto um vestido preto rendado e com bolinhas douradas na saia. Ele é soltinho da cintura para baixo, alguns comentários indiscretos  de Hero me vem à mente e ruborizo instantaneamente com o pensamento dele tentar repetir o que fizera no nosso primeiro encontro, estou tão afundada no mundo que ele me fez criar dentro de mim, que não sei mais como refrear alguns impulsos.

Como de costume minha mãe está na sala bordando, visivelmente atenta ao noticiário das sete.

Meu pai me encara por cima dos ombros e depois volta sua atenção para a tv, ele tenta tocar na minha mãe quando a vejo se esquivar dele, ela é sempre seca e não gosta de carinho, me pergunto como alguém igual papai pode ter escolhido uma mulher ranzinza como minha mãe para passar o resto de sua vida, talvez ela não tenha sido sempre assim.

“Já está na hora Lorena! Meu turno começa às oito.” Ele se despede beijando o topo de sua cabeça e ela apenas murmura um ‘Deus te acompanhe’, mais pelo hábito, julgo eu.

Papai se aproxima para se despedir de mim e pela expressão facial, ele ainda deve está considerando o meu encontro com Hero, embora eu tenha lhe dito que cancelei. Talvez seja difícil convencê-lo do contrário depois de flagrar-me trocando olhares com Hero na sua frente.

Uma batida na porta me faz disparar até ela e escancará-la, Camila entra sorridente, e como esperado meu pai relaxa e parece finalmente convencido.

Me sinto uma pior filha do mundo por enganá-lo.

Depois que ele saiu, deixei que minha mãe conversasse um pouco com a Camila e fui tomar um pouco de água na cozinha.

Outra batida na porta me faz se engasgar com o líquido, e talvez seja coisa da minha cabeça, só que a batida soou mais firme e tenho quase como afirmar que se trata dele.

Hero!

Fecho a geladeira ligeiramente e escuto o rangido da porta ao ser aberta, certamente pela minha mãe.

Na pressa bato meu cotovelo no suporte do bebedouro que está fixado na parede, tento absorver a dor e disparo para sala, mas meus passos se detém com o que ouço.

“Boa noite! Sou o detetive Braga e este o policial civil Edilson, viemos fazer algumas perguntas para sua filha.” Um silêncio sinistro paira na minha sala. “Recebemos uma denúncia anônima ontem e viemos até aqui apurar alguns fatos.” A voz grave do detetive me lança no medo e tenho certeza que estou encrencada.

“Eva!” O grito da minha mãe me força a caminhar e entrar na sala contra minha vontade.

Pela maneira como está me olhando, deve acreditar que eles se equivocaram ao bater na nossa porta e que tudo se trata de um mal entendido.

Camila está surpresa, sentada no canto do sofá sem entender nada.

Os dois policiais são altos e ambos devem ter entre trinta a trinta e cinco anos, julgo eu. O mais sério e com expressão rabugenta é o detetive, ele é careca e tem olhos claros, mais para dourado do que castanho.

Hidden [COMPLETO]Where stories live. Discover now