Capítulo 4

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Não foi difícil localizar a travessa onde se encontra a cafeteria, fica situada à poucos quarteirões da rua que moro, eu liguei o localizador no meu celular e tive sorte de não ser muito longe, assim não vou precisar gastar com o transporte público.

O clima está desastroso agora a tarde com as temperaturas que despencam deixando o ar carregado, já posso sentir minha garganta arranhando, ainda não me habituei com as mudanças repentinas na temperatura e pelo que dizem, aqui é uma cidade onde pode chover a qualquer momento.

Entro correndo para dentro da cafeteira quando uma ventania sacode meus cabelos.

Ela é pequena, aconchegante e quente. Vários lustres coloridos decoram o ambiente e as paredes do fundo são pintadas de uma cor creme que me lembra areia, as portas que dão acesso aos fundos são de madeira e perfeitamente envernizadas. O que mais me chamou atenção foi a parede de vidro ao lado dos assentos, todos devidamente enfileirados e dando visão para o lado de fora.

Escolho um banco nos fundos e de costas para a recepção, ponho minha mochila em cima da mesa e começo revisar meu questionário de pesquisa, ou melhor, perguntas. Apesar de ter feito inúmeras pesquisas no Google não encontrei nada útil, acho que essa conduta do professor é totalmente invasiva. Tudo bem que seja louvável que ele queira melhor nossa escrita, mas daí pedir para tentarmos espreitar no recôndito da alma de alguém é um pouco nocivo demais, ou melhor, é absurdamente ofensivo e antiético.

"Olá boa tarde! Já escolheu?" Uma garota com o sorriso gentil pergunta, pegando o bloquinho de anotações de dentro do bolso da frente do avental.

"Só um chocolate quente por enquanto." Informo sem consultar o cardápio e a vejo bufar depois de anotar meu pedido e ficar mirando a porta.

"Algum problema?" Questiono-a depois de vê-la preocupada.

Ela leva um susto, com certeza estava absorta em seus próprios pensamentos.

"Oh me desculpe! Já já trago seu chocolate." Ela se retira sem jeito e murmura algo para si mesmo que não consigo entender.

Olho meu relógio aflita e fico satisfeita por ainda faltar vinte minutos.

Estou no meio de algumas anotações para o dever de amanhã, decido espiar pelo vidro e sinto um frio ridículo na barriga ao ver um jeep estacionado, eu nunca fui muito observadora, mas tenho quase certeza que não estava lá quando entrei.

Não consigo entender meu receio de ficar perto de Hero, estou começando achar que sua aparência grosseira tem mais efeitos positivos em mim, do que um dia eu possa admitir.

Como esperado, um par de botas pretas param perto da mesa. Levanto o rosto para encará-lo e encontro um olhar divertido.

"Dois minutos atrasado." Ele diz olhando no celular. No início gelei com a possibilidade dele escolher sentar ao meu lado no banco, o que seria embaraçoso, mas ele resolveu se sentar de frente pra mim, me imitando ao ficar escorado na parede de vidro.

Engulo seco por não ter ideia de como começar isso.

Ele definitivamente não é o tipo de pessoa que gosta que fiquem xeretando sua vida particular, e também não imagino ele tendo o mínimo de interesse em saber da minha. Seria até bizarro contar com a possibilidade que ele tenha preparado uma lista de perguntas, por mais que eu me esforce, não consigo imaginá-lo sentado enquanto ler um livro ou algo relacionado à escola, o máximo que ele dever ler é o rótulo de uma cerveja.

"Muito pontual então." Sorrio nervosa e com certeza estou mais vermelha que uma pimenta.

Ele hoje está usando jaqueta de couro e os cabelos parecem mais esvoaçantes, também dei por falta do rímel nos olhos e isso só confirmou minhas dúvidas, de nunca ter visto um rosto tão perfeito.

Hidden [COMPLETO]Where stories live. Discover now