Capítulo 2

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O fastidioso discurso sobre a classificação das plantas avança, todos alunos parecem desatentos e algumas conversas rolam solta durante a aula da senhora Gomes, ela continua falando da relevância que Biologia tem e depois sublinha com o giz no quadro negro as palavras: Reino vegetal.

Já estamos na última aula e é quase palpável a mudança na atmosfera dentro da sala desde que retornei do intervalo e encontrei o lugar de Hidden vazio, será estranho dividir este pequeno espaço semanalmente com ele, eu até cogitei ir na secretaria e pedir a troca de lugares, na verdade criei uma pequena lista com os motivos, mas quando os li pareciam tão bobos que foram parar dentro do vaso sanitário. Eu posso lidar com isso, sua falta de diálogo vai contribuir e se ele quiser tirar um zero em todas as matérias o problema é unicamente dele, quando verem nossa incompatibilidade em relação as notas aí talvez eu tenha uma alegação decente.

Já se passam das doze horas quando chego em casa e encontro papai uniformizado no meio da sala, se preparando para ir trabalhar.

"Uau! A farda caiu bem no senhor." Lhe abraço com alegria, ele é o melhor pai do mundo e seu coração é tão caridoso que ele sempre procura enxergar o que tem de bom nas pessoas. O inverso de minha mãe.

"Como foi seu primeiro dia de aula?" Pergunta enquanto me presenteia com um sorriso afetuoso.

"Diferente, eu acho." Penso em contá-lo sobre meu novo parceiro de aula, mas temo que meus medos bobos o preocupe e não quero aborrecê-lo desnecessariamente. "Tudo questão de adaptação." Rio nervosa.

"Então somos dois, mas logo a gente pega jeito." Ele chacoalha meus cabelos e depois beija o topo da minha cabeça.

Depois de tentar vários concursos públicos na área de segurança, finalmente ele foi aprovado em um, ele agora é guarda municipal de Anchieta, a cidade que escolhemos morar depois de um amigo de papai ter sugerido, segundo ele por proporcionar uma qualidade de vida superior em comparação à nossa cidade natal, e também pela educação ser diferenciada na região sul do Brasil. A princípio não era o tipo de trabalho que meu pai escolheria, mas alguém precisa pagar as contas no final do mês e manter nossa dispensa cheia.

Dou um tchauzinho enquanto ele caminha para a porta e quando ele finalmente desaparece corro para as escadas.

Decido fazer hidratação nos meus cabelos, hoje tem célula na casa de uma das irmãs e minha mãe sempre exige que eu vá decente e limpa. Será a primeira que vou participar nessa cidade estranha, cheia de garotos rebeldes e dominados por seus corpos carnais. Enquanto lavo meus cabelos me recordo de minha cidade natal, em como a vida era mais simples e o ato de respirar confortável.

(...)

Por sorte hoje o ônibus passou de novo pontualmente e consegui chegar na sala antes de todos, resolvi checar a programação dessa semana e ir anotando as matérias que mais vão precisar da minha dedicação.

Estava tão absorta em meus livros que nem me dei conta quando a sala encheu e o professor começar pedir silêncio.

"Todo mundo com o livro aberto na página 75 agora." Pelo tom de voz é notório que com ele, um simples sussurrar fora de hora é motivo para está encrencado.

O silêncio ligeiramente toma conta da classe e eu estou quase abaixando os olhos para meu livro quando, o garoto punk entra atraindo olhares em sua direção.

Como esperado o professor não perdoa.

"Hero Tiffin!" Seus olhos o encaram com censura. O professor é um homem na faixa de quarenta anos e os cabelos precocemente grisalhos. "Acho que já tivemos essa conversa antes."

Hidden [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora