Be Your Everything

Capítulo 85 - Necklace

Ou talvez eu estivesse e fosse burra demais para notar tal coisa nos dois anos que estávamos juntas.

Já havia sido magoada outras vezes por outras pessoas, tanto por ações quanto por dizeres, mas nenhuma delas tinham doído tanto quanto agora. Eu podia ter levado um tiro e não me machucaria tanto quanto as palavras de Camila naquele momento, não só porque ela aparentemente quis dizer cada sílaba, mas porque eu sabia que fiz tudo o que podia por essa garota e não era isso que eu merecia em troca.

Não que eu fizesse as coisas por ela esperando um retorno, eu fazia porque a amava e só queria vê-la melhor, mas que aparentemente não era bem assim que as coisas funcionavam na cabeça dela. Queria que Camila tivesse me falado isso antes, pois teria me poupado muita coisa.

Quer dizer, ela disse que eu deveria ir viver a minha vida ao invés de tentar ajudar ela a viver a dela e eu não conseguia lembrar daquilo sem lágrimas virem aos meus olhos. Eu quase não saía com as minhas amigas porque eu sabia que por mais que ela dissesse que não, ela ficaria mal em casa porque não podia me acompanhar por causa de sua condição. Não que Camila não conseguisse, mas ficaria se martirizando por ter ido só para "me dar trabalho" e aquelas besteiras que sempre dizia quando se culpava de coisas que ela não podia ter culpa. Ela não tinha culpa de nascer com uma Síndrome e muito menos de sofrer com os sintomas, mas eu a via se esforçar para melhorar e era só isso o que importava, independentemente se ela iria ter recaídas ou não.

E eu nunca me importei de sair com ela, ainda que eu soubesse que podia ser difícil. Ela não devia ser privada de nada por conta de seu problema, então eu fazia de tudo para me certificar de que Camila estava tendo uma experiência legal e era só o que importava. Se ela quisesse ficar em casa, tudo bem também. A minha prioridade era e sempre foi o seu bem estar.

Eu procurava ficar mais tempo em casa dando atenção a Camila porque sabia que ela gostava – pelo menos até então, pois até onde eu lembro ela ficava mal porque eu tinha que trabalhar e só chegava em casa à noite. Fiquei me sentindo péssima quando tive que viajar por causa da faculdade porque, se eu lembro bem, Camila chorou praticamente um dia inteiro por causa disso e passou o pior mês da vida dela quando eu estava fora. Claro que ela não me contou muita coisa, mas sua mãe me disse como foi quando eu voltei e eu me senti horrível por fazê-la ficar daquele jeito. E é óbvio que eu também fiquei triste e sentiria muitas saudades, mas tudo ficava muito diferente a partir do momento que eu era ciente da condição dela e da posição em que isso me colocava. A última coisa que eu queria na vida era ver Camila mal ou sofrendo por qualquer que fosse o motivo e se esse motivo fosse eu, eu faria tudo o que estivesse em meu poder para evitar tal coisa.

Isso incluía abrir mão da minha vida social e de uma porção de coisas que eu não me importava de não fazer para que Camila não se sentisse mal.

Eu evitava deixá-la sozinha porque nunca me saía da memória o dia em que Camila enfiou uma gilete no pulso enquanto eu dormia. Nunca parei de me culpar por esse episódio porque ela quase morreu e nada disso teria acontecido se eu tivesse ficado de olho. E eu era completamente ciente do quanto ela tinha melhorado, mas o dia não havia sido dos melhores e eu preferi perguntar se ela queria mesmo ficar sozinha do que simplesmente sair do quarto e deixar alguma coisa de ruim acontecer.

Talvez eu estivesse fazendo as coisas de forma errada, eu era perfeitamente capaz de entender e admitir isso se fosse necessário. Eu podia mudar e ficar mais na minha, só tentar ajuda-la quando ela realmente precisasse ou pedisse, isso não era nenhum bicho de sete cabeças para mim. Como eu disse, eu só queria vê-la bem e se isso incluísse recuar um pouco e deixá-la sozinha, eu faria numa boa. Não estava magoada por Camila querer espaço, mas sim pela forma com a qual ela solicitou o mesmo.