Capítulo 61 - Back at one

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Narrador POV

Camila passou pelo corredor da clínica como um animal passa indo para o abatedouro. Ela tinha seu caderno de desenhos embaixo do braço e entrou na sala, querendo tapar os ouvidos com os mais pequenos ruídos que eram emitidos. Geralmente ela não ficava mais tão nervosa para essas sessões, principalmente em um dia como hoje, onde tudo o que ela tinha que fazer era sentar em um canto e ficar desenhando até dar a hora de ir embora enquanto até as piores pessoas pareciam mais normais e interagiam uns com os outros.

Mas hoje não era um dia completamente normal, hoje era o dia do baile. E isso fazia com que ela tivesse o dobro de preocupação, o dobro de medo e o dobro de pressão em cima de seus ombros. Se ela tivesse que lidar com um médico naquela sexta feira, provavelmente iria preferir limpar a estátua da liberdade com uma escovinha de dente.

Provavelmente.

Sentou-se em um canto, sua mãe do lado, Lauren do outro, como costumava ser. Lauren cumprimentou Hailee e Dinah, já que parecia que Normani e a irmãzinha de Hailee estavam na sala sendo torturadas por algum médico. Camila se arrepiou com o pensamento e voltou para o seu caderno, concentrada em terminar o desenho que ela havia começado hoje de manhã, na aula de física.

Suspirou começando a fazer algumas curvas para dar forma ao moinho que ela queria desenhar. Não sabia porque esse desenho em específico, só lembrava que havia visto em algum livro de história e resolveu desenhá-lo, colocando uma casinha muito velha atrás e alguns pássaros sobrevoando o local. Seria um dia nublado e Camila utilizou ao máximo os recursos que ela tinha para fazer um sombreado que indicasse tal, já que ela detestava colorir seus desenhos. E nem era dizer que era preguiça, sombreado dá tanto trabalho quanto colorir, já que ele tem de ser aplicado perfeitamente para que o desenho fique com a sensação de profundidade e proporção exata, sem parecer muito "seco" ou vazio.

Para ela, cor era algo que deveria ser imaginado, se ela colocasse cores no desenho, ele perdia completamente a graça. Ainda que ela desenhasse a bandeira dos EUA e as cores fossem indiscutíveis, ela não colocaria cor. Isso tudo porque ela achava que esse tipo de coisa ia do ponto de vista de quem via e não deveria ser imposta por quem desenhou. Exemplo, você está andando com sua amiga na rua, as duas avistam um pássaro amarelo sobrevoando o local, você diz que ele é uma ave muito bonita e ela acaba discordando. Não existe um certo ou um errado, não existe um padrão para gostos e opiniões e por isso Camila não pintava seus desenhos, mesmo que soubesse que ela desenhava praticamente para si mesma, já que não mostrava a quase ninguém. Porque, na vida, as pessoas são responsáveis por colocar as cores no que veem e só elas podem mudar o próprio ponto de vista.

Não cabia a Camila decidir esse tipo de coisa.

Depois de quase uma hora curvada sobre as próprias pernas, onde o caderno estava apoiado, Camila se sentia cansada e com dor nas costas, então se apoiou no encosto da cadeira e fechou os olhos, ignorando quase que inconscientemente tudo o que acontecia a sua volta.

Dinah voltava com Normani de dentro de uma daquelas salas daquele corredor maldito; a irmãzinha de Hailee brincava sozinha com suas duas Barbies; o menino autista estava sentado em um canto jogando sudoku em uma dessas revistinhas; uma outra adolescente se balançava no outro canto da sala, conversando com a mãe; Camila tinha os olhos fechados, o caderno de desenhos no colo e não fazia a mínima ideia de que estava suando frio pelo esforço de se manter alheia a tudo aquilo.

Lauren olhou para a amada algumas vezes, para se certificar de que estava tudo bem. Ela parecia nervosa, mas sob controle. De vez em quando ela fazia algum comentário com Dinah, mas nada que fosse capaz de gerar uma conversa duradoura nem nada do tipo. A energia daquele lugar em si era pesada, densa, palpável. Todas as pessoas presentes ali estavam nervosas por algum motivo, apreensivas, se segurando para não dar um ataque, desejando estar em outro lugar. E até mesmo os familiares das pessoas estavam nervosos, se sentiam impotentes, queria fazer algo a mais e não podiam. Isso criava uma atmosfera na qual todos se sentiam desconfortáveis por ali de alguma forma.

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