Capítulo 54 - Hello beautiful

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Camila POV

Mordi a parte de dentro da bochecha, encarando o teto do meu quarto. Eu não queria estar ali, eu não queria estar naquela casa e muito menos dentro daquele cômodo observando o que parecia ser uma imensidade de branco, que não tinha fim e era agoniante, mas eu me recusava a desviar o olhar simplesmente porque eu precisava de outra coisa para me distrair, eu precisava de alguma coisa, qualquer coisa que não me fizesse lembrar que ainda faltavam dias para Lauren voltar. Dias esses que eu preferia não contar, mas era menos de três semanas, já que já havia se passado uma vez que eu fui para a clínica. Contar os dias parecia pior, parecia dividir a dor e fazê-la aumentar cada vez que eu colocava isso em números, por mais que eles só tendessem a diminuir, era como se eles estabelecessem um prazo para que isso tudo acabasse e eu não queria pensar nisso, eu só queria me distrair e deixar isso tudo de fora da minha mente.

Ir a clínica sem Lauren foi ruim do mesmo jeito, já que eu tive que entrar novamente naquela salinha maldita e tentar desesperadamente não morrer, não quebrar nada, não chorar e não me desesperar. Fiquei olhando para a mesa de vidro enquanto parecia que o zumbido em meus ouvidos não me deixava ouvir o que a médica dizia, não que eu realmente quisesse, mas eu não achava que isso fosse valer de algo se eu não ouvisse nada. O suor frio escorreu pela minha testa quase durante a sessão toda e eu só queria chegar em casa e chorar, e foi o que eu fiz. Apenas deitei na minha cama e chorei sozinha até dormir, apesar de saber que eu estava cansada de chorar, algumas vezes era a droga da minha única opção. Chorei por ter consigo me controlar, chorei por querer ter feito mais do que só tentar controlar meu corpo, chorei porque sentia falta de Lauren e quase cheguei a ligar pra ela, mas eu não quis incomodar e eu sabia que ela devia estar ocupada, então apenas chorei sozinha, talvez também por ter nascido.

Quando Lauren me ligou naquele dia, mais tarde, eu apenas atendi e disse que estava tudo bem, ainda com os olhos inchados depois de uma longa sessão de choro e sono posterior. Não contei sobre o choro tanto porque eu achava que não tinha necessidade de incomodar ela com esse tipo de coisa quanto porque eu sabia que ela provavelmente tinha uma ideia de que isso tinha acontecido, porque sempre acontecia. Lauren também não pressionou nem insistiu, ela apenas pareceu entender depois de alguns segundos em silêncio e introduziu um outro assunto e isso era o que eu mais amava nela. A forma com a qual ela entendia e respeitava o meu espaço, parecia que era uma coisa a qual só ela no mundo tinha.

Às vezes, parecia que eu iria enlouquecer. Lauren me ligava muito mais do que uma vez por dia e eu gostava de ouvir sua voz, mas quase sempre não parecia o suficiente. Somente nos meus momentos mais insanos que meu subconsciente me deixava em paz apenas com uma ligação, mas fora isso, eu sempre desligava o telefone com aquela sensação de que havia algo faltando.

Não obstante, tudo o que eu tinha a fazer naquele momento era me sentar e aceitar que eu teria que esperar Lauren voltar. Ponto.

A única coisa eu me distraia era ir à escola, porém, não era lá do jeito mais legal do mundo. Por mais diferente e legal que a escola fosse, eu continuava tendo pequenos ataques, como sempre internos, me esforçando ao máximo justamente para não parecer a pessoa que eu era. A parte boa era que ficar perto de Hailee e Ally, de alguma forma muito esquisita, já havia se tornado uma coisa normal. Eu escutava elas conversarem e, de vez em quando, sentia como se eu estivesse falando também, por mais que eu soubesse que passava do o tempo em silêncio e não conseguisse compreender como é que Hailee e Ally e preocupavam tanto em ficar perto de mim sendo que eu era quase um peso morto ao lado delas.

Eu me distraía escutando as suas conversas e quase me sentia amiga delas de tanto que eu já sabia sobre suas vidas, ainda que eu nunca tivesse projetado a minha voz mais alto do que o suficiente para suspirar perto delas. Me sentia como aquela amiga com problema que anda geralmente com duas meninas normais e sempre fica na dela. Muitos filmes, principalmente aquelas comédias românticas água com açúcar, retratam esse quadro ou outros parecidos. A diferença é que nos filmes você sempre acha engraçado as cenas com a menina que tem problemas mentais, ela serve somente para gerar humor e ninguém para pra pensar em como ela realmente se sente de estar ali, de ser motivo de piada e arrancar risadinhas até de suas próprias "amigas". Mas, como benefícios da ficção, principalmente desse gênero, tudo sempre acaba bem demais. Todo o mundo arruma um par, inclusive a menina esquisita e geralmente encontra um cara tão estranho igual a ela ou um bonitão que ela nunca pensou que daria bola para ela.

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