Capitulo 20 - No way

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Narrador POV

- Acho que agora vem a parte mais difícil, né? – Camila perguntou receosa.

- Eu diria que ela já passou. – Lauren respondeu, correndo os dedos pelo braço nu da menina. –Meu maior medo era sua mãe.

- Mas os seus pais... – Camila procurou palavras para explicar a Lauren o que ela estava tentando dizer. – Quer dizer, o que eles vão achar de mim? Eu não sou exatamente o tipo de garota que... – Lauren interrompeu, revirando os olhos.

- Para com essa porra, Camila. – Falou séria. – Eu já te disse que isso não importa.

- Para você com isso, Lauren. – Camila não parecia nem um pouco feliz com o rumo da conversa e se levantou do colo de Lauren, começando a andar pela sala. – É muito fácil para você falar que não importa, que não faz diferença, que não isso, que não aquilo. Você não tem a mínima ideia de como eu me sinto, ninguém tem.

- Princesa, não fala assim. Eu só quero ajudar você.

- Ajudar o que? A única pessoa que pode me ajudar sou eu mesma, mas acredite, isso não é lá uma tarefa muito fácil. –Camila estava brava consigo mesma.

Camila sempre se sentiu "confortável" dentro da sua condição. Ela estava acostumada a viver daquela forma, era a única forma de vida que ela conhecia. Nunca havia tentado mudar, ela não tinha motivos que a fizessem querer melhorar. Nem mesmo sua mãe, visto que respeitava e já havia desistido de forçar Camila a tentar começar algum tipo de tratamento, ela sabia que não daria certo, não se a filha não quisesse.

O problema disso tudo era que agora ela tinha um motivo. Motivo esse que a encarava como se não soubesse o que fazer, porque, falando daquele jeito, realmente parecia que não havia nada a ser feito. Lauren se sentia mal por não haver nada a seu alcance, apesar de saber que poderia fazer qualquer coisa que Camila pedisse, não parecia... Suficiente.

Agora, Camila tinha que se forçar a tentar ser alguma coisa que ela não era, não como uma segunda personalidade, um alter ego ou qualquer coisa do tipo, mas exatamente a pessoa que ela deveria ser, e a menina não sabia lidar com isso. Isso tudo não a dava vontade de fazer nada diferente em sua vida e, para piorar, ela ainda se sentia confortável em sua condição, apenas com alguns ajustes.

O que Camila não percebia, mas Lauren e Sinu sim, era que Camila já havia feito grandes avanços, ainda que não enxergasse isso. O que ela tinha com Lauren, era um tipo de conexão que ela não achou que iria estabelecer nunca, com ninguém, em toda a sua vida e sim, aquilo, com certeza, se tratava de um grande avanço. Ela só precisava transmitir tudo isso a outras pessoas, o problema era que a menina não sabia como utilizar essa ponte aparentemente inexistente entre ela e o resto do mundo.

As pessoas eram cruéis. A maioria das pessoas não se importava com os sentimentos de Camila, ninguém nunca se importou e aquilo a fazia ter repulsa das pessoas normais, embora ela soubesse que toda a generalização era uma falácia e ela não poderia falar por toda a humanidade. Lauren era uma prova de que as pessoas podiam ser diferentes, mas seria a sua família outro enorme conjunto de exceções? Camila daria essa sorte, novamente?

Ela não sabia.

E aquilo a fazia ter medo da família de Lauren, medo do que eles poderiam achar dela. Medo da própria reação, quando se visse cara a cara com eles. Camila não podia sair correndo deles, não parecia justo, não parecia – e não era – normal.

- Fica calma. – A voz de Lauren saiu baixa, mais rouca do que o normal. – Não tem nada de errado com você, amor, é só... – Camila a interrompeu.

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