Be Your Everything

Capitulo 1 - Someone different

Contudo, Camila iria tentar ser o mais gentil possível com Lauren - desde que ela fosse gentil com ela também - e parar de ser tão anormal. Ela e sua mãe já haviam ido a milhares de médicos que lhe disseram que sua síndrome tinha cura, mas era preciso muito apoio das pessoas a sua volta e força de vontade para conseguir curá-la. Talvez fosse a hora de Camila dar uma guinada em sua vida.

- Mas que merda. - Lauren xingou, descendo da moto, tirando o capacete e sua mochila das costas. - Que merda de mochila pesada dos infernos. - Havia trazido algumas coisas na mochila e o resto chegaria em uma caminhonete que saíra de sua cidade pela manhã e chegaria no fim da tarde, provavelmente.

Sim, Lauren era louca o suficiente para enfiar algumas roupas em uma mochila e passar boa parte da madrugada e a manhã inteira indo de moto de San Miguel até Los Angeles, apenas com uma parada para comer um sanduíche em uma lanchonete de beira de estrada. Sua mãe ficava para morrer quando Lauren fazia isso, mas ela sempre ligava para avisar que estava viva entre uma parada e outra, então não havia muito com o que se preocupar. Além do que, a mulher já havia feito aquilo muitas e muitas vezes, indo a distâncias maiores até.

Seu pai havia se oferecido para levá-la de carro até a casa de Sinu, mas Lauren negou, dizendo que se havia comprado uma moto justamente para poder ir aonde quisesse na hora que quisesse sem depender de seus pais, isso não faria sentido se ela ficasse andando de carro com o pai toda a hora. Até porque, era uma viagem desnecessária porque San Miguel não era tão longe assim de Los Angeles, apenas 292 km e voilá, Cidade dos Anjos.

Parou e conferiu se estava na rua e no número certo, pois não seria nada legal ela pagar o mico de bater na porta errada com uma mochila nas costas e aquela cara de "agora eu moro aqui". Depois de conferir no GPS do celular duas vezes se havia mesmo chego a casa certa, foi até a porta e tocou a campainha.

- Oi minha querida. - Sinu abriu um sorriso enorme ao ver Lauren na sua porta e prontamente abraçou-a. - Como você cresceu... - Ela comentou, assim que Lauren se afastou um pouco e ela pode ver o tamanho dela que costumava ser uma menina, mas agora, sem dúvidas, havia se tornado uma linda mulher.

- É bom te ver, Tia Sinu. - Ela não era irmã da sua mãe nem nada, mas o costume de lhe chamar de tia vinha desde criança.

- Entre, você deve estar cansada da viagem. - Sinu parou por um momento. - Aliás, como você veio?

- De moto. - Lauren apontou para a Yamaha XJ6 amarela atrás dela.

- Minha filha, mas isso é muito perigoso, pelo amor de Deus. - Sinu falou, puxando Lauren para dentro da casa. - Porque não veio de carro com o seu pai?

- Porque seria desnecessário ele vir e voltar sendo que eu podia vir sozinha. É o dia de folga dele, deixa o velho descansar. - Lauren deu uma risadinha e passou a mão nos cabelos, reparando em uma menina sentada no sofá com um caderno em mãos, aparentemente fazendo um desenho. Não conseguia ver seu rosto direito, pois uma longa cabeleira castanha caía sobre ele pelos dois lados e ela não parecia incomodada com isso.

- Só toma cuidado, ok? - A mulher alertou e Lauren assentiu.

- Eu estou acostumada tia, relaxa. - Respondeu a Sinu, sem conseguir tirar os olhos da menina no sofá. - Aquela é sua filha? - Perguntou baixo.

- Sim. - Sinu respondeu, no mesmo tom baixo. - Você lembra que ela...

- É, eu lembro. - Lauren torceu a boca, se lembrando de tudo o que tinha lido na internet sobre a Síndrome que Camila tinha. Ela resolveu pesquisar para não fazer nada que assustasse a menina ou a fizesse ficar trancada no quarto como costumava fazer quando Lauren e seus irmãos eram pequenos e sua mãe os levava para visitar Sinu. - Eu posso falar com ela?

- Pode, é claro. - Sinu concordou, ficando parada na porta enquanto via Lauren se afastar devagar até se sentar ao lado de Camila no sofá. Desenhando a menina estava, desenhando a menina continuou. Nem parecia que alguém havia acabado de se sentar do seu lado.

- Oi Camila. - Falou baixo, em um tom que só Camila podia ouvir. Ela não tinha muita certeza do que estava fazendo, mas ser sutil era a melhor opção. - Meu nome é Lauren e eu vou morar aqui uns tempos, por causa da minha faculdade. - A mais velha falava e se sentia cada vez mais frustrada porque Camila continuava desenhando como se nada tivesse acontecendo. Considerou o fato da menina não estar lhe escutando, mas desistiu da hipótese quando olhou para Sinu e ela fez um sinal para Lauren continuar. - Eu... Realmente espero que possamos nos dar bem. - Se levantou, decidindo que já havia falado o suficiente e decidindo se calar antes que falasse alguma merda. Não pode evitar dar uma espiada no que Camila desenhava, mas não possuía nenhuma forma para ela até então, considerando que ela estava vendo o desenho de cabeça para baixo.

Enquanto Sinu entupia Lauren de perguntas como "você está com fome?", "com sono?", "com sede?" e essas coisas, Camila aproveitou para levantar o rosto e ver Lauren, mesmo que de lado e meio de longe, considerando que a mulher estava do outro lado da sala. Ela havia se sentido feliz com o fato da mulher se preocupar em sentar do seu lado e falar com ela, ainda que soubesse que ela provavelmente não iria responder. Seu nome parecia tão doce dito por aquela voz grave e meio rouca... Ninguém nunca havia falado com ela daquele jeito e a menina não estava sabendo lidar com isso.

Ela apertou os olhos, desejando ter um "zoom" na visão para poder enxergá-la melhor, mas tudo o que ela podia fazer era ver Lauren de longe. E Camila podia dizer que estava bem impressionada com o que via. Quem diria que uma daquelas crianças que gritavam pela casa e atormentavam Camila quando ela tinha cinco anos de idade podia crescer e se tornar uma mulher tão... Bonita? O que? Camila estava achando Lauren bonita?!

O espanto da menina se dava ao fato de que geralmente Camila não gostava reparar muito no rosto das pessoas, tanto porque não interessava quanto porque ela tinha aquela ideia firme de que as pessoas achavam que ela não possuía sentimentos. Mas talvez ela tenha olhando Lauren diferente justamente por ter gostado da atenção da menina de se sentar ao seu lado para falar exclusivamente com ela.

Camila desejou não ter sido tão retardada e ter tido coragem para levantar o rosto e ver Lauren de perto, enquanto se apresentava. Queria ter visto aqueles olhos verdes de perto e ver a expressão da mulher enquanto falava com ela. Mas Camila estava tão presa às expressões que Lauren fazia conversando com sua mãe que ela quase podia imaginar. Ela deve ter levantado as sobrancelhas levemente, para tentar fazer um tom de voz gentil. Ela deve ter dado um pequeno sorriso e provavelmente deve ter xingado Camila mentalmente por aparentemente não estar prestando atenção. Depois deve ter passado a mão nos cabelos e se levantado, voltando para falar com Sinu, que parecia bem feliz por ter alguém para conversar em casa.

Mas, apesar de tudo estar sendo muito legal até agora, Lauren logo perceberia que Camila era uma estranha e se afastaria dela. As pessoas eram assim e Lauren não poderia ser diferente. Poderia?