Capítulo 13: Doko ka Betsu no Gishiki (Series Finale)

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Kyoto

2011

O corpo não importa, se a mente está livre, eu estou livre.

Sakura repetia seu mantra em meio a escuridão. Não fazia diferença se estava de olhos abertos ou fechados, via a mesma coisa. Já não tinha mais lágrimas para chorar. Fazia o possível para controlar sua respiração, mas já tinha hiperventilado tanto, que era apenas uma questão de minutos para que seu ar acabasse. Ela já tinha visto o rosto da Morte; a escuridão onde estava era do mesmo tom do abismo que eram suas órbitas vazias.

Se a mente está livre, eu estou livre.

Entretanto, sua mente não estava livre, muito pelo contrário. Estava presa ao passado, a Za'an e a Akira, que levada, tinha o destino tão certo quanto o dela mesma: morte. Sakura estava a poucos minutos de morrer, enquanto Akira ainda tinha alguns meses de vida, já que ela seria sacrificada apenas depois do ano novo. Imaginou que Nomura faria o ritual logo na primeira lua nova. Ou pelo menos, era o que esperava.

Eu estou livre.

Obviamente, não estava. Estava em um caixão de madeira enterrada a vários metros de profundidade, ela não sabia dizer a distância exata. Estava presa a suas preocupações e medos. Estava presa a um mantra, que naquele momento era tão útil quanto a katana com a qual havia sido enterrada. Estava presa em sentimentos que jamais poderiam ser correspondidos, nem por Za'an nem por Akira.

Sakura estava, literal e figurativamente, sozinha.

Podia sentir o ar ficando cada vez mais rarefeito. Tentou respirar mais fundo, porém com menos frequência – não tinha ideia se isso ajudaria ou não, mas a lógica de o fazer e estar bem pouquinho no controle da situação a fez sentir-se melhor. Já havia aceitado que logo a Morte a teria em seus braços, tanto que sua claustrofobia já tinha desistido de atacar.

Sua respiração falhou, quase como um soluço. Fez uma tentativa para puxar o ar, mas outra vez não passou apenas de um soluço. Mais algumas vezes, mas não conseguiu respirar. Já estava sem ar. Seu coração acelerou, sua mente se desesperou com a falta de oxigênio. Fechou os olhos – ou abriu, já não tinha certeza de qual era qual –, deu uma leve batida na tampa, apenas para enganar a si mesma de que havia tentado fugir.

Então tudo ficou escuro, mas isso já não era novidade.

Com um susto, como se voltasse à vida, ela respirou fundo em desespero. Fez o mesmo duas ou três antes de conseguir abrir os olhos. Uma brilhante luz vinha da base do caixão, acima de seus pés. Seus olhos doeram com a mudança súbita de luz; e Sakura sorriu por isso. Preferia a dor ao nada que era a morte.

– Sakura? – Ouviu o chamado. A voz era familiar, mas ao mesmo tempo, a tinha ouvido apenas em poucas ocasiões anteriores. O Demônio, aquele que limpava todos os vestígios e mantinha a Magia em segredo.

Procurou chamar por ele, responder, dizer que ainda estava viva, contudo não encontrou sua voz. A garganta estava seca demais. Usou toda sua força para usar a katana para bater na tampa; quase não fez som, mas foi o suficiente. Ele disse, aliviado:

– Ainda está viva!

Ao respirar o ar puro com cheiro de folhas e terra molhada, Sakura sentiu como se seu mantra finalmente fizesse sentido. Estava livre, ou pelo menos, seu corpo estava. Estava ao ar livre e, diferente da última vez que fora enterrada viva, sabia quando e quem a tinha salvado.

Abraçou o Demônio em agradecimento. O beijaria, se ela gostasse de homens e ele não fosse casado – tinha que admitir que ele tinha seu charme.

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