Capítulo 12: A Ilha

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A Cuca colocou ambas as mãos sobre os dois ombros de Haddock que simplesmente não soube como reagir quando os intensos olhos verdes caíram sobre os seus. Então, ela o puxou para um abraço. O menino não soube como reagir por alguns segundos; quando levantou os braços para retribuir o gesto, ela o soltou e voltou a encará-lo profundamente.

– Obrigada. – Ela disse, o que simplesmente o deixou mais confuso. Pelo jeito, a Cuca notou essa confusão, pois acrescentou: – Eu sei, tudo começou por sua causa, mas algo muito importante aconteceu por causa dela. Tem alguém que eu quero que você conheça.

A mulher, se é que poderia ser chamada assim, que esteve conversando com alguns dos lobisomens veio caminhando na direção deles. Ela tinha a pele vermelha, não queimado vermelho como o próprio Haddock ficava quando tomava sol, mas sim vermelho, como um tomate, porém fosco.

Tirando os seios e suas cochas, que estavam cobertos com roupas feitas de pele de onça, todo o resto estava a mostra. Suas orelhas eram pontudas, ultrapassando até mesmo seu cabelo volumoso em um tom mais escuro de vermelho. Quando ela sorriu para Haddock, seus dentes eram pontiagudos.

– Esta é...

– Caipora. – Haddock interrompeu, quase ganhando um sopapo por isso.

– Sim. Desde que Miguel Corte-Real esteve em Akuawa, ela partiu para construir nosso novo lar. Desde então, não tive contato com ela. – A Cuca contou. – Graças a você, eu finalmente tomei coragem para buscá-la, pois os perigos do lugar onde estava eram muitos. Eu sei que diversos sykyes morreram, e isto sempre pesará em nossos corações, mas fui capaz de recuperar minha irmã, assim como o Boitatá agora está livre de sua função.

– De nada. – O menino respondeu hesitantemente, sem entender a lógica da Cuca, mas não fazia diferença; o importante era que a bruxa não o culpava mais, não que ele mesmo não o fizesse. – O que vai fazer agora?

– Vou me juntar aos outros sykyes assim que você trouxer Vicente. Preciso da Itamaní de Tupã para impedir que inimigos – ela enfatizou muito bem essa palavra, como que para demonstrar que já não odiava todos os humanos – tentem nos fazer mal. Eu decidi que vou com você.

Os olhos de Haddock abriram-se como laranjas. Imediatamente, a pressão de ter uma semideusa o tempo todo observando e julgando suas decisões. Virou-se para Dandara, que fazia o possível para conter uma gargalhada.

– Sem problema. – Ele disse pausadamente.

Então, a Caipora, a Cuca e Dandara começaram a rir alto e animadamente. Haddock sentiu o rosto esquentar por se tornar o centro da piada, mas pelo menos, aquilo significava que a semideusa, de fato, não iria com eles. Ao mesmo tempo, ele não via tanta graça.

Dandara entregou a ele uma pequena estátua de madeira no formato de uma quimera. Haddock pôde sentir a magia de Arloth ali. Sabia, porém, que sua magia não se misturaria perfeitamente com o objeto. A natureza fenícia do feitiço era estranha, quase não natural, em comparação a Arte.

– Onde está? – Dandara disse ansiosamente. – Arloth disse que assim que tocasse, saberia.

– Mas não sei. Há um bloqueio, como se não quisesse ser encontrada.

Ficou alguns minutos encarando o objeto antes de finalmente decidir como ativariam os feitiços ali para os levarem até Porací.

A Cuca os levou até o templo principal da abandonada Akuawa. Ali, as quatro estátuas dos deuses encaravam o centro do salão, onde a feiticeira invocou seu caldeirão mais uma vez. O ferro preto e chamuscado não era grande o bastante para um adulto, mas com certeza caberia um bebê de seus dois ou três anos.

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