O fogo do dragão gerou uma onda de vermelho e vento, que varreu campo e estrada, bateu no peito de Neville, arrancou-o do chão. Arrancou até Vivianne, que foi engolida por Chambert.
O mundo, um turbilhão. Cinzas no céu, cinzas no chão, rodando e rodando, pancada brusca contra o solo, o corpo de Neville arrastado pelo vento além e além, cada vez mais longe de Pierre esmagado em fogo.
Quando finalmente tudo virou silêncio, respirar doía. Neville empurrou o chão com a mão. Sentiu como se seu corpo fosse fixo no espaço e, para se levantar, tivesse de empurrar, não o corpo acima, mas o mundo abaixo. Os braços falharam, o mundo colou-se novamente a seu peito com um baque de achatar pulmões. Neville empurrou novamente. Dobrou uma perna sob o corpo, desdobrou-se devagar para cima, cambaleou.
A muralha leste e metade de Tuen: fumaça. A outra metade: caos e gritos rasgados. A cascata de fogo que esmagara Pierre ainda queimava em círculos, um rodamoinho vermelho sem pressa. De repente se apagou, como chama de vela assoprada. O rodopio continuou, agora só cinzas.
No meio do círculo carbonizado, embaçado por fumaça, estava um velho de cabelos entrópicos, olhinhos amarelos e vivos, Pierre nos braços.
— Encontrei — disse Fregósbor.
ESTÁ A LER
A Boca da Guerra
FantasyUma guerra de rotina. O rei da Franária morreu sem deixar herdeiros. Aconteceu o de sempre: três primos que se achavam no direito começaram a brigar pela coroa. Depois de quatrocentos anos (e, sim, todos eles tiveram descendentes), a guerra continua...