Capítulo 28: Frederico - Uma chance

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Frederico guardou as ferramentas e fechou a caixa sem fazer barulho.

— Não há nada mais a se fazer — ele disse. — A locomotiva está completa.

A Velha estava sentada de costas para ele, acariciando o livro azul. Frederico disse:

— Menior me contou que o combustível das locomotivas era fabricado em Sátiron por um mago de nome Fregósbor. Uma pedra feita de ar e magia, extremamente volátil. Uma única pedrinha bastava para uma locomotiva de guerra cruzar o continente do sul de Sátiron até os confins de Farheim. Menior não encontrou fórmulas para fazer a pedra. Mesmo se tivesse encontrado, sem um mago, não teríamos como fabricá-la.

— Sei — disse a Velha.

Frederico sentou-se na relva ao lado da Velha. Nos últimos anos, embora ele continuasse empolgado com a locomotiva, a Velha foi se mostrando cada vez menos interessada em qualquer coisa que não o livro que ela não sabia ler.

— A senhora já pensou que talvez tenha escolhido o príncipe errado?

A Velha quase derrubou o livro azul no chão.

— Errado? — ela perguntou.

— Eu não sou líder. Nunca serei rei. Faust é quem comanda Beloú, é quem herdará o trono de Patire depois de Fulbert.

— Faust é perda de tempo — disse a Velha.

— Eu andei ensinando algumas coisas ao meu irmão. Ele não gosta de estar na posição de aluno, mas se eu coloco as coisas de modo que não pareça uma aula, ele ouve e apreende.

A Velha bufou.

— A senhora não está lá para ver — disse Frederico. — Faust não é igual a Fulbert. Contei a ele sobre as leis satironesas e ele implantou algumas em Beloú.

— Ele ainda pune injustamente.

— Ele pune como acha justo — disse Frederico. — Você mesma me ensinou que justiça muda de pessoa para pessoa. A minha justiça não é a mesma que a de meu irmão, mas a dele não é inflexível como a de Fulbert. Desde que comecei a falar sobre Sátiron, não há mais dedos ou orelhas cortadas. Aquele que comete um erro é punido com trabalho. As muralhas de Beloú estão praticamente novas e várias casas foram reerguidas. Faust parou de destruir homens e começou a reconstruir a cidade.

A Velha balançou a cabeça de um lado a outro, pesando a informação.

— Faust é um grande homem — disse Frederico.

— Grande é o homem capaz de moldar um tolo igual a ele. Frederico, você é a resposta.

Para que pergunta? Por todos os mistérios da Terra dos Banidos, Frederico não era solução para nada. Ele se ergueu sobre os joelhos.

— Fale com meu irmão. Dê-lhe uma chance. O que você tem a perder? Sátiron está fora do alcance, eu não servi para nada. A senhora vai desistir?

A Velha pegou a mão de Frederico e apertou.

— Nunca diga que você não serviu para nada.

— Fale com Faust.

Ela apertou um pouco mais os dedos dele.

— Você realmente o ama — ela disse.

Faust havia dado a Frederico um lar quando os pais lhe deram pesadelos; havia continuado irmão quando os pais desistiram do filho.

— Tudo bem, menino, eu irei atéele.    

    

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