Capítulo 33: Vivianne - Teia

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As janelas de Lune vigiavam o outono com olhos de fogo. Fora, relâmpagos silenciosos coroavam a Cordilheira das Ondas. Dentro, o fogo amarelo de lareira e lampiões, e um vulto encobrindo uma janela.

Vivianne sentou-se à escrivaninha e afastou com carinho o mapa da Cordilheira das Ondas. Tinha muito amor por todos os seus mapas, mesmo os que não eram arquitetura. O mapa das Ondas tinha sido seu primeiro amor, mas hoje ela tinha uma nova paixão, que Rimbaud finalmente havia trazido para ela: o plano original da Pedra.

Um pedacinho de Vivianne se perguntava o que tanto inquietava o Vulto, debruçado pelas janelas, pisoteando tapetes, mas esse pedacinho morreu afogado em empolgação quando ela desdobrou o primeiro pergaminho e mergulhou nas linhas arquitetônicas da Pedra, nos segredos do castelo real de Deran, na magia daquelas construções. Vivianne se esqueceu completamente do Vulto, de Marcus lendo perto da lareira, e até de Lune. Apaixonou-se imediatamente pela Pedra.

— Eu partirei quando terminarem as tormentas — disse Sáeril Quepentorne.

Isso arrancou Vivianne da Pedra, jogou-a com força de volta em Lune. Marcus saltou de sua poltrona. Estava quase tão alto quanto o Vulto. Seus cabelos não tinham o mesmo dourado sedoso da irmã, mas eram macios e teriam leves ondas se Marcus os deixasse crescer. O oposto de Vivianne, seus traços não tinham nada de delicado, com ossos fortes que lhe davam uma aparência tão sólida quanto a de Lune.

— Não se surpreenda e não proteste. — disse Sáeril.

— Eu faço ambos! — disse Marcus. — Você acabou de voltar.

— Sentimos sua falta. — Vivianne deu a volta na escrivaninha e ficou em pé ao lado do Vulto.

O Vulto deu as costas para a janela. Os dois Mestres de Lune o encararam. Marcus com aquele jeito indomável de águia, Vivianne com sua postura etérea, flexível e inquebrável de bambu ao vento.

— É de minha natureza partir — disse o Vulto. — Foi-se o tempo em que eu pertencia a um lugar, o tempo em que eu tinha raízes.

Vivianne tentou ver o rosto escondido nas sombras do capuz negro. Quando o Vulto falava igual a mistérios, ele estava escondendo algo.

— Pare de falar em enigmas — disse Marcus.

— Não falar em enigmas? O que são palavras que não enigmas? Abra um dicionário e estão todas lá, enfileiradas e decifradas, organizadas e claras, mas tire-as do dicionário e jogue-as ao ar embebidas em voz. O resultado são novos enigmas.

— Não mude de assunto. Nós estávamos falando de sua partida.

— Minha partida não é um assunto, é um fato. — Ele ficou de frente para a janela. — Há um murmúrio quase como um ronronar sombrio. Mas além dele, eu ouço silêncio. Parece que a Franária está tomando fôlego.

— O que vai acontecer? — perguntou Vivianne.

— Desde que cheguei em Lune, senti uma presença estranha, como um reflexo no canto do meu olho, mas toda vez que eu olhava, já não havia nada para se ver. Então eu lancei minha magia em pequenas linhas por toda a Franária, seguindo o exemplo das aranhas. Tinha esperança de que minha teia não detectasse nada.

Vivianne pensou ver duas brasas brilhando nas sombras do capuz, onde deveria haver olhos. Marcus se aproximou da janela e estudou as planícies ondulantes de Deran, iluminadas pelos relâmpagos.

— Não sei o que vai acontecer daqui em diante — disse o Vulto. — O futuro nunca foi meu maior talento. Só posso dizer que o tempo guarda muitas surpresas. — Ele virou-se os dois jovens de Lune. — Esperar até o fim do inverno é um risco que devo correr. Existe uma criatura viva na Boca da Guerra e tem o poder das trevas. Mas a Franária não está ociosa. A águia está conjurando forças que ela não pode controlar. A verdade é que eu deveria partir já; deveria ter partido faz tempo, mas não posso ir embora sem proteger vocês, e o tipo de magia necessária para isso leva tempo para tecer.

— Há algo que possamos fazer? — perguntou Marcus.

— Protejam Lune. Protejam Deran. Se possível, protejam a Franária.

— Lune não cairá enquanto eu viver — disse Marcus. — Para onde você vai?

— Para casa.    

Desisti de terminar esta ilustração

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Desisti de terminar esta ilustração. Passei a semana nela. Primeiro resolvi fazer com caneta nanquim. Passei alguns dias trabalhando nela, ficou horrível, desisti, resolvi usar o verso do papel para fazer de novo no guache, que é o meu material favorito. Só que esse papel é completamente inadequado para guache e eu passei algumas horas muito sofridas até finalmente desistir. Só estou postando aqui porque foram muitas horas gastas nesta frustração. 

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