Capítulo 45: Vivianne - O rei Clément

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— Querida Vivianne! Que bons ventos a trazem? — Clément abriu os braços quando Vivianne surgiu na entrada da tenda real.

Ela fechou a lona e pisou para dentro com olhar repreensivo.

— Isso não são modos de olhar para o seu querido rei — disse Clément, beijando-lhe as faces. — Venha sentar-se e experimentar um pouco da minha sopa especial.

— Sopa — Vivianne acompanhou o gesto que Clément fez com a colher até onde uma mesa redonda estava posta para uma pessoa. Coalim, o criado do rei, estava sentado à mesa, encolhido e rígido na poltrona real, com um prato de sopa à frente. Quem segurava a colher era Clément.

Coalim e Clément eram muito pálidos. O rei, branco, com cachos cor de ouro, rosto liso e macio, nariz pequeno; o criado, ruivo. Todos os ruivos eram órfãos de pai. A maioria era abandonada pela mãe. Ruivo era fruto das invasões nórdicas.

— Não fique brava comigo, — disse o rei — eu não pretendia tirá-la de seus mapas embolorados (embora ver o sol de tempos em tempos seja uma coisa muito saudável, você está branca de dar inveja à lua). Achei que Marcus estivesse em Lune. Mas é um prazer muito maior vê-la, acredite-me. Marcus tem um jeito de ser que é tão... tão... tão adulto!. — Ele fez uma pirueta nos calcanhares e apontou Coalim com a colher de prata. — Não ouse se levantar.

O criado sentou-se novamente.

— Clément, é perigoso ficarmos aqui. — disse Vivianne; Os soldados da Pedra tinham olhado com alívio para Vivianne e os duzentos homens que ela trouxe de Lune. — Vou escoltá-lo de volta à Pedra.

— Não antes de você experimentar a minha nova receita.

Vivianne olhou bem dentro dos olhos castanhos de Clément, que deu um passinho para trás, apesar de ser uma cabeça mais alto do que ela. Na verdade, ela estava feliz por ter uma chance de ir à Pedra mais cedo, mas tinha também obrigação de fazer Clément entender que ele havia colocado em risco a própria vida e a de todas as pessoas que ele havia trazido.

Ela já havia dado ordens para os soldados lá fora levantarem acampamento e sabia que forçar Clément a fazer o que ela queria levaria mais tempo do que tomar a sopa. Além disso, estava com fome.

— O que tem dentro? — Ela aproximou-se da mesa e espiou um prato de sopa cremosa verde. Cumprimentou Coalim com um tapinha no ombro. Ele sorriu e curvou a cabeça.

— Experimente e me diga — disse Clément, oferecendo uma colher limpa com um floreio da mão pálida. Quem era ele para dizer que Vivianne estava branca de dar inveja à lua?

O cheiro encheu de saliva a boca de Vivianne. Ela experimentou várias colheradas enquanto Clément se posicinou atrás dela e começou a trançar os cabelos dourados. Diferentes dos de Clément, os cabelos de Vivianne lembravam mais o pôr do sol do que o amanhecer.

— Ervilhas? — ela perguntou.

Clément abriu a boca, horrorizado.

— Pela morte de Nakamura, Vivianne! De onde você tirou que tem ervilhas na minha sopa?

— É verde e gostosa — ela disse. — Ervilhas são verdes e gostosas.

Clément assistiu desalentado Vivianne saborar sua sopa de 'ervilhas.'

— Abobrinhas — disse Coalim — batatas, cebola e... hortelã?

— Ah — Clément recompensou-o com um sorriso entusiasmado.

— Hortelã? — Vivianne moveu a sopa dentro de sua boca. — Achei que tinha alguma coisa engraçada.

Engraçada? — Clément puxou o prato dela. — Você não merece saborear minha culinária.

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