Na divisa entre Deran e Baynard, o Eslariano parou de andar e secou o suor do rosto.
— Você não está forte o bastante para viajar sozinho — disse Maëlle.
— Não importa.
— Deixe-me ir com você.
— Não. Se Thaila estiver em Debur, preciso que você a encontre. Por favor, salve minha filha. É culpa minha. Eu devia... Eu devia...
Maëlle colocou a mão no ombro dele.
— Nós dois perdemos nossos filhos — ela disse — mas não podemos nos culpar.
— Você não entende. A culpa é minha. Eu fui egoísta, sou igual ao Olivier.
— Impossível. Ele roubou sua filha!
— Eu também — disse o Eslariano.
Maëlle colocou a mão na testa dele, mas ele não estava com febre.
— Não estou delirando — ele disse. — Na Eslarina, uma criança não pode crescer sem a influência de alguém de seu próprio sexo. Por lei, um menino tem de ter pelo menos um homem na família e uma menina precisa de pelo menos uma mulher.
O Eslariano secou mais uma vez o suor da testa.
— Minha esposa morreu e eu não tenho irmãs. Eles iam tirar Thaila de mim. Eu raptei minha própria filha e fugi. Não tinha dinheiro para chegar ao Anjário, mesmo assim escolhi trazer minha filha para esta Franária quebrada, para esta Guerra.
Ele continuou com a boca aberta, querendo falar mais, mas ao invés disso começou a chorar.
Em que mundo onde temos de raptar nossas próprias filhas para poder ficar com elas? Pensou Maëlle.
— Nós vamos encontrar Thaila — ela disse. Eles dois já tinham perdido gente demais. Chega.
Eles se despediram. Maëlle seguiu leste em direção a Debur, o Eslariano foi para o sul, para Tuen.
ESTÁ A LER
A Boca da Guerra
FantasyUma guerra de rotina. O rei da Franária morreu sem deixar herdeiros. Aconteceu o de sempre: três primos que se achavam no direito começaram a brigar pela coroa. Depois de quatrocentos anos (e, sim, todos eles tiveram descendentes), a guerra continua...