Capítulo 84: Vivianne

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Chambert parecia um castelo de areia. Vivianne teve de tocar a muralha para acreditar que era sólida. Atravessou os portões e girou nos calcanhares e nas muletas, o nariz para o alto, admirando a gigantesca Chambert.

Foi por sugestão de Joanna que Pierre e seus 'vira-latas' se mudaram para Chambert.

— Não é que eu não goste de ter vocês na Pluma — disse Joanna — mas acho que Pierre precisa de um castelo.

A estalajadeira tinha perdido um pouco de seu viço e já não ria. Poucos dias antes, Maurice tinha limpado o balcão junto com ela. Ele disse:

— Limpar este balcão é a coisa mais ousada que fiz na minha vida.

No dia seguinte, ele morreu.

— Pierre precisa de um castelo — concordou Bojet.

Germon e Gaul de Tuen assentiram; Thaila e o Eslariano fizeram questão de ir junto.

— Um lugar deste precisará de muito pão — disse o Eslariano. Chambert era quase do tamanho de Tuen.

A fortaleza era muito mais vasta do que Lune, maior até que os Saguões de Neve (Vivianne havia visto um esquema geral do castelo real de Patire, mas nunca um de Chambert). Lune havia sido construída antes do Império. Mesmo com todas as ampliações feitas sob governo satironês, a arquitetura permanecia enxuta e franesa. Já Chambert havia sido construída durante o Segundo Império, depois da anexação de Gorgath. Vivianne não precisava ter visto o interior para perceber a influência gorgathiana na construção: as pedras da muralha eram prova o bastante.

Os franeses usavam blocos de pedra largos, todos do mesmo tamanho, enquanto os gorgathianos usavam pedras de tamanhos e formatos diferentes, que encaixavam umas nas outras como quebra-cabeças e formavam padrões, ilusões — as muralhas Chambert lembravam dunas de areia. Além disso, havia todos os ornamentos: uma águia de pedra vigiando o topo do portão oeste, folhas singelas escupidas nos cantos como trepadeiras fossilizadas. Para qualquer lado que se olhasse havia um enfeite: todos os cantos, cada azulejo eram um pedaço de arte. Exceto as torres. Essas eram simplesmente franesas. O esplendor da arquitetura gorgathiana misturada com traços de orgulho franês.

O resultado foi esplêndido. Vivianne sentiu uma cócega de culpa ao deliciar-se tão gulosamente com aquela fortaleza. A Guerra e Fulbert na soleira da porta e Vivianne se perdendo em arquiteturas. Mas o que mais ela podia fazer?

— Você gosta? — Pierre estava em pé ao seu.

Vivianne deu mais um giro tentando engolir Chambert com os olhos, quase caiu, segurou em Pierre, derrubou uma muleta.

— Este castelo — ela sacudiu o ombro de Pierre — é um tesouro.

Ele sorriu. Ela abriu os braços para Chambert e derrubou a segunda muleta.

— Prometo descobrir todas as passagens secretas.

— Passagens secretas?

— Chambert pode ter torres franesas, mas é essencialmente gorgathiano — ela disse. — E os gorgathianos não erguem castelos, eles constroem labirintos. Sabe, isso pode explicar Chambert ser mal-assombrada.

— Como assim?

— Uma estrutura gorgathiana deste porte pode esconder um pequeno exército dentro e nós não perceberíamos.

Pierre analisou as torres e a segunda muralha.

— Neste caso talvez seja melhor você não explorar Chambert sozinha.

— Concordo — disse Vivianne. Ela agarrou a mão de Líran, que acabava de desmontar perto do portão e chamou Coalim com um gesto da mão.

Os três desapareceram por umaporta em arco. Pierre recuperou as muletas esquecidas e lançou um suspiro parafora dos portões de Chambert. Onde estaria o dragão Chelag'Ren?    

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