Nenhuma janela abria para o pequeno jardim. Um espaço miúdo entre muitas paredes, chão jamais tocado pelo sol. Grama escura, comprida e afiada, flores de pétalas levemente púrpura, diáfanas como asas de libélula. Hera mais clara que a grama pontuda, folhas em forma de estrelas, cobria todas as paredes. Exceto uma.
A parede mais larga era uma representação em mármore de um lobo à sombra de uma árvore fina com copa mais magnífica que a de um carvalho milenar, folhas douradas. Tempo e clima levaram embora a pintura, mas o mármore das folhas, branco como era, reluzia dourado. A sombra da árvore havia sido tão meticulosamente esculpida quanto a própria árvore, uma folha em baixo-relevo para cada folha em alto-relevo. Descansando entre sombra e ouro, estava um lobo cinzento poderoso, intenso, vasto. Olhando para Vivianne.
A nuca de Vivianne se arrepiou, como se os cabelos a puxassem para longe do painel de mármore. As folhas-sombra vazaram e se mesclaram com as sombras do jardim. A grama imóvel ficou mais preta. O lobo cinzento sempre olhando.
Uma rajada de vento caiu dentro do jardim, ficou preso entre as paredes, esperneou, debateu-se como abelha numa caixinha e finalmente escapou de volta para o céu. As folhas douradas de mármore branco farfalharam levemente.
Não, é só minha imaginação.
Uma centelha dourada flutuando na quietude de verde e sombra; um grão de sol perdido entre hera e grama. Uma folha dourada pousou suave no ombro de Vivianne.
Ela varreu a folha com a mão efugiu do jardim sob atentos olhos de mármore.
ESTÁ A LER
A Boca da Guerra
FantasyUma guerra de rotina. O rei da Franária morreu sem deixar herdeiros. Aconteceu o de sempre: três primos que se achavam no direito começaram a brigar pela coroa. Depois de quatrocentos anos (e, sim, todos eles tiveram descendentes), a guerra continua...