Capítulo 80: Vivianne

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Vivianne sentou-se à janela da Pluma, abriu o caderno e foi folheando até chegar a uma página em branco. A primeira metade do caderno eram desenhos da Pluma e de Tuen: mapas, os detalhes de uma janela, o encaixe de um telhado, uma esquina com calçada quebrada. Mais adiante, surgiam desenhos de Germon, Pierre, Coalim, Pierre, Joanna, Pierre Pierre Pierre. Hoje também Vivianne desenhou Pierre. Sem sorriso, a fronte pesada, sombreando os olhos.

Agora, ao ver o capitão Neville de Fabec se reunir com Thaila e o Eslariano, Pierre recuperou um pouco de sua leveza, mas ele estava diferente. Vivianne desejou entender melhor as pessoas e conseguir ler exatamente que tipo de expressão sombreava a fronte de Pierre. Preocupação? Cansaço? Confusão? Ela conseguia imaginar meia dúzia de motivos para cada um desses sentimentos.

— Você está preocupada — disse Pierre.

Vivianne estava tão focada no caderno de desenhos que não percebeu ele se aproximar.

— Na verdade, — ela disse — você está preocupado.

O rosto de Pierre ficou de novo sombrio igual ao desenho. Antes que ele pudesse responder, a porta se abriu e Coalim entrou, seguido de um homem que Vivianne não conhecia. Ele tinha pele quase branca, cabelos quase lisos, nariz quase reto, mãos sem calos. Esse homem congelou quando viu Germon e Bojet à mesa de cartas. Os dois queimados fizeram de conta que não perceberam.

— Gregoire — chamou Pierre. Ele foi até o encontro de Gregoire e eles trocaram algumas palavras que Vivianne não ouviu.

Pierre pareceu insatisfeito. Será que a Fronteira não viria, afinal, quando ele chamasse? Mesmo assim, com Tuen e Chambert, eles conseguiriam se defender de Fulbert.

Não?

— Capitão Neville, — disse Pierre — Vivianne. Precisamos conversar. Coalim, você poderia encontrar o capitão Gaul e pedir que ele venha até aqui?

Bojet e Germon, o Eslariano e Thaila fizeram menção de se retirar.

— Fiquem — disse Pierre. — Todos nós estamos aqui por que fomos nos forçarados a mudar nossos planos, nossas vidas — ele virou para Germon e Bojet — nossas peles. De alguma forma viemos parar ao lado uns dos outros e assim devemos ficar. Ouçam o que eu tenho a dizer.

Coalim chegou junto com Gaul e Líran entrou atrás como uma sombra cor de violeta. Depois deles entraram também Menior e o Cinzento.

— Há algo errado com a Fronteira? — perguntou Vivianne.

— A Fronteira virá quando chamada — disse Gregoire. — O que te preocupa, irmão?

— O Norte.

— Por quê? — perguntou Gregoire. — Não recebemos nenhuma notícia ruim do norte.

— A pergunta é: — disse Pierre — vocês receberam alguma notícia? Faz quatro semanas que me despedi de Fulion. Ela ou alguém deveria ter voltado com palavra de nossa gente no norte. Fulion nunca se atrasa.

— Talvez Fulbert tenha bloqueado os caminhos — sugeriu o Eslariano.

Neville fez que não com a cabeça.

— Patire pode ter bloqueado as estradas, mas essa gente conhece mais caminhos que os animais selvagens.

Pierre foi até sua mochila, pegou um mapa e estendeu-o sobre a mesa. Ele passou o dedo por onde ficaria a divisa de Deran com Baynard e Patire.

— É muito terreno para Fulbert cobrir — disse — Ele precisaria construir um muro e colocar centenas de homem no topo.

Gregoire formulou mais algumas teorias. Neville e Thaila também opinaram, mas Vivianne parou de ouvir no momento em que aquele mapa antigo pousou sobre a mesa. Ela tocou com a ponta dos dedos o papel frágil, pardo, macio de tão velho. Mapa desenhado no estilo satironês, com geografia detalhada e ornamentos artísticos: uma águia no topo, de asas abertas, abraçando a nação; um sapo singelo no canto inferior, ao lado de uma raposa sentada, passando a patinha pelo rosto.

— É perfeito — disse Vivianne.

— É a Franária — disse Pierre.

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