Capítulo 01: Depois da Guerra

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Os insetos fecharam-se aos poucos em volta da deusa, que sentiu o desespero – algo que não sentia a tanto tempo que quase esqueceu de como nomear – ao perceber que não voava. Olhou para cima e viu Rá, apenas esperando por ela. Bast pulou com toda a força de suas pernas poucos milésimos antes dos escaravelhos cobrirem a "ilha" que Apófis tinha feito. Enquanto ia na direção das garras de Rá, ela virou gato e ele a prendeu em suas garras. Voaram para praia.

Eles pousaram e assumiram a forma humana a tempo de ver Apófis fazer algo inesperado e nojento. Ele estava desarmado e teria de enfrentar dois deuses da ordem de uma única vez, sendo que um deles era seu inimigo mortal e tão poderoso quanto ele e a outra fora sua adversária durante milênios, e ele nunca foi capaz de subjugá-la.

Sua única arma era sua magia e, portanto, teria que usar muito dela. Como os escaravelhos estavam sob seu comando, ele os fez virem na sua direção; quando estavam abaixo das mãos deles, os escaravelhos passaram a se amontoar, um sobre o outro, até atingirem suas mãos. Uma vez que estavam ali, eles cravaram suas garras na pele de Apófis, que urrou de dor, mas mantinha um sorriso malicioso.

Escaravelhos também se prenderam às pernas do deus, que aos poucos foi aumentando de altura, até ficar com quase quatro metros. Os insetos formaram espécies de extensões dos membros dele; então, Apófis lançou seu primeiro ataque: uma coluna cilíndrica de insetos mirando as cabeças de Bast e Rá.

Felizmente, a escolha o deixou mais lento. Os dois deuses conseguiram desviar sem muitos problemas; contudo, quando os escaravelhos bateram contra o chão, alguns se separaram do resto do grupo; estes, voaram para todas as direções. Um deles pegou no braço da deusa, que sentiu uma queimação diferente; bateu no bicho para tirá-lo. Sua pele estava parcialmente corroída, até ficar em carne viva; graças a Rá que ela não era tão sensível a dor; a ardência que sentia era como a de um simples corte superficial.

– Eu darei suporte aéreo, atacando o corpo dele mesmo. – Rá falou, quando os dois deuses estavam juntos outra vez após alguns ataques de Apófis.

– Não. – Bast descordou do plano dele. – Os escaravelhos estão enfeitiçados para queimar nossa pele. Preciso que o senhor descubra uma maneira de anular tal feitiço.

– Entendi. Farei isso. – Rá, como sábio rei que um dia fora e como seria até o retorno de Hórus, sabia reconhecer quando uma estratégia era melhor que a sua; ainda mais quando vinha de uma deusa que era sua amiga de longa data e enfrentara o adversário durante milênios.

O deus-sol se afastou o bastante para que Apófis não conseguisse atingi-lo com suas monstruosidades feitas de escaravelhos. Bast saltou contra ele, chegando a altura de seu corpo; ela mirava suas khopeshs no inimigo, que, para se defender, fez com que algumas centenas de insetos chegassem ao seu peito em segundos, impedindo o movimento da espada.

Um dos escaravelhos saltou, tentando chegar ao braço da deusa, que o rebateu com a khopesh sobrando. Conseguiu lançar-se para trás, caindo de pé na areia cinza. Olhou para Rá e viu os hieróglifos flutuando em volta dele; este movimento foi um erro, pois Apófis também olhou e percebeu o plano deles. Ele, então, passou a avançar lentamente em direção ao deus-sol.

Bast saltou e atacou o tanto quanto pôde, mas não conseguia pará-lo. Ela não servia nem ao menos para distração. Então, quando Rá estava ao seu alcance, Apófis atacou; contudo, os escaravelhos de sua mão pararam em um hieróglifo gigante e dourado. Bast sabia seu significado: proteção.

O brilho vermelho que vinha dos insetos mudou de repente para dourado. Bast sabia que Rá tinha feito o que ela pedira; ela atacou sem medo, vários escaravelhos atingiram sua pele, mas nada aconteceu. Sorrindo, ela continuou a investir com suas khopeshs sem parar. Mataria escaravelho por escaravelho, se fosse preciso. Dezenas de golpes muito rápidos depois, Apófis estava na altura deles, mas ainda seus braços estavam cobertos. O deus do caos parecia muito cansado, mas ainda capaz de atacar.

Foi o que ele fez; afastou-se dos dois com um salto e atacou. Todavia, parecia que seu controle sobre os insetos estava diminuindo, pois os braços começaram a se desmanchar, até não sobrar nada, a não ser suas próprias mãos cheias de marcas das mordidas dos insetos. Ele tirou um frasco de dentro da pele da palma de sua mão; havia um líquido vermelho dentro cheio de pontinhos prateados brilhantes. Era o sangue.

Apófis usou suas últimas energias para duas coisas: primeiro ele fez com que os escaravelhos que estavam no chão avançassem em seus inimigos – o que necessitava um nível de controle muito menor do que para usá-los como extensões dos seus membros. O pequeno momento de distração permitiu que ele fizesse a segunda coisa: abrir o portal para a Terra.

Ele disse algumas palavras, fazendo com que um hieróglifo gigante surgisse no ar. Ele lançou todo o sangue do frasco no símbolo. Um portal em espiral surgiu; olhando diretamente para ele, Bast notou que duas fumaças formavam a espiral, uma vermelha e outra prateada. Apófis olhou para os dois e depois para o obelisco, que estava longe no horizonte, e disse para ele:

– Eu vou te ter de volta. – Não era segredo que ele estava falando para sua própria sombra; assim que o deus do caos desapareceu para dentro do portal, os escaravelhos se dispersaram, voltando a formar o Mar.

– Tenho de ir! – Ela falou, apressada, indo na direção do portal, que ainda estava aberto; ele não ficaria assim por muito tempo. – Preciso impedir que Apófis destrua a Terra!

– Você não pode, Bast. Não está em um corpo mortal! Se você cruzar para o mundo dos mortais sem um corpo, vai desaparecer para sempre! Nós, deuses, podemos ser imortais, mas isso sem dúvida será o seu fim. – Rá informou; Bast percebeu o tom de preocupação legítima dele.

– Não sabemos se isso é verdade. Nunca nenhum de nós atravessou sem um corpo! Talvez eu sobreviva!

– Não faça isso, Bast!

– Eu tenho de fazer!

Eles deram um último abraço de despedida, um que, há milênios, não puderam trocar antes de Bast ser presa junto com Apófis para travar um duelo que duraria milhares de anos.

– Uma vez na Terra, se sobreviver, procure por meus hekat e nekhakha. Eles ficaram na Terra depois do aprisionamento. Com eles, você conseguirá derrotar Apófis.

– Mas Rá, apenas os faraós... – Ele não permitiu que ela concluísse.

– A Era dos Faraós e dos egípcios acabou há muito tempo. Eles agora não passam de relíquias antigas, porém, ainda poderosos. Se encontrar os verdadeiros, terá poder de sobra para vencer o deus do caos, quem sabe, de uma vez por todas.

A deusa sorriu, virou-se, encarando o buraco entre mundos. Respiroufundo e desejou que ela não desaparecesse ao pular para Terra. Bast correu esaltou de cabeça pela espiral que formava o portal. Tinha uma missão importantea cumprir.

***

Hey there,

Sei que Afterlife terminou, mas não precisam ficar com saudade, já que várias histórias incríveis estão a caminho de vocês!

Está aqui é apenas o começo.

Espero que tenham gostado. Obrigado e bye bye

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