Capítulo 37 - Uma rápida visita

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Liam


A primeira bala do canhão atingiu a amurada do lado direito do meu navio. Ao sentirmos o impacto, ordenei que atirassem no mastro da outra embarcação. Mas erramos o tiro e o navio de velas púrpuras veio com tudo em nossa direção. Começaram a jogar cordas com ganchos de quatro pontas para que pudessem unir as nossas embarcações. Com a minha população desfalcada, não demorou muito para que pulassem em nosso convés através das cordas.

— Todos para o chão! — ordenou a Capitã. — Ponham suas armas onde eu possa ver.

Os tripulantes que ainda me restavam me encararam em busca de algum sinal e eu balancei a cabeça em afirmativa para que obedecessem.

— Viúva-negra, cuide dos outros enquanto eu dou uma palavrinha com o Capitão desse navio — ordenou a tal Capitã novamente.

A mulher tinha cabelos pretos volumosos, olhos bem escuros, pele parda e trajava uma roupa vermelha característica dos que serviam o meu pai. Tudo nela era um pouco exagerado e seu sotaque era espanhol.

— A que devo a honra da sua ilustre visita ao meu navio? Para não dizer invasão. Não tinha um jeito melhor de entrar em contato comigo não? — questionei tentando esconder a minha raiva.

— E perder todo o show?

— O que você quer? Não está vendo que estou no meio de uma missão?

Ela deu uma gargalhada, limpou o seu sabre no casaco e respondeu:

— Sim. Estou vendo. Uma missão suicida ao que me parece. Sem uma tripulação ou um navio descente. Olha o seu estado, parece que saiu de uma guerra — falou ao bagunçar o meu cabelo e apertar as minhas bochechas.

— Tire as mãos de mim. Obrigado. E sim, talvez seja uma missão suicida. Mas é a minha missão e você não tem nada o que fazer aqui.

— Relaxa, Liam! Eu só estava de passagem e vim trazer um recado do Senhor Gancho. Ele queria notícias suas e dizer que o seu tempo está acabando.

— Se era só isto, considere o recado dado. Pode ir embora.

— Tem mais uma coisinha. No final da próxima estação você precisa estar pronto para disputar pelo gancho negro. Não se esqueça! E se você aparecer por lá sem resolver esta sua missão. É melhor nem ir.

— É claro que irei! Aquele gancho é meu por direito!

— Direito de bastardo? — sorriu. — Não sei o porquê o Senhor James Gancho ainda se dá o trabalho. Você não passa de uma escória. Indigno até para carregar o seu sobrenome.

— Não irei cair na sua pilha, Capitã Gancho. Não tenho tempo para isso. Logo terei que desembarcar desta ilha e será uma longa viagem até a próxima pista.

— Não precisa se preocupar, não irei mais te atrapalhar. Boa sorte na sua jornada. Mas não se esqueça que estamos sempre de olho. Eu, principalmente. Qualquer sinal de fraqueza esta missão se torna minha e você enfim será deserdado.

— Agradeço a sua preocupação. Agora se puder sair do meu navio... Ah, e mande essa mensagem para o meu pai.

Mostrei o meu dedo do meio para ela e lhe virei as costas.

— Ahoy! Marujas! Retirem-se! — gritou a Capitã.

Saíram da mesma forma que entraram, pularam até o outro navio e recolheram as suas cordas. Aliviado, pedi para que Eddie-sem-dente, o cozinheiro, preparasse o jantar. Me dirigi até a minha cabine para me limpar, trocar de roupa e estar pronto para quando Beatrice chegasse com os ex-prisioneiros.

Porém, o que eu pensei que seria rápido, demorou mais um dia e meio de espera. Quando o gajeiro me avisou que a minha imediata estava próxima ao porto, pedi para que fizessem os últimos preparativos antes que tivéssemos que zarpar.

Beatrice, Elena, Henrique e Jasper que estava sendo carregado numa espécie de maca improvisada, chegaram exaustos. No tempo em que fiquei esperando, recrutei alguns piratas que eu sabia serem leais ao meu pai para trabalharem no navio, pois desde a saída na Escócia eu havia perdido bastante marujos e estava cada vez mais difícil manter tudo em pé naquela situação deplorável.

Meia hora depois dos viajantes se instalarem em seus compartimentos, chamei Beatrice para poder saber das novidades:

— Pelo visto, fizeram um bom trabalho — falei virando a cabeça na direção de onde ficava a enfermaria do navio.

— O que importa é que temos a localização da próxima pista, Capitão.

— Sim, claro. Isto é o mais importante. Mas não pensei que eu ganharia mais um encosto para alimentar neste navio. O rato já não era um garoto muito bom na pirataria, agora estando quase morto, o que eu vou fazer com ele? Deviam tê-lo deixado na ilha.

— Ah, seria típico da sua parte mesmo fazer isso. Portanto, acho que o Senhor esqueceu que ele é amiguinho desses fedelhos e se qualquer coisa a mais acontecesse com ele, não teríamos a colaboração dos outros. Achei que estivéssemos evoluindo com eles. Apesar deste infortúnio, acredito que não darão mais tanto trabalho para serem controlados.

— Boa análise. Como sempre fez um bom trabalho.

— Ouvi dizer que você teve uma visita — disse Beatrice ao me encarar com seriedade.

— Ouviu, é? Então já sabe quem era e o que ela queria — respondi arqueando as sobrancelhas.

— Saber eu não sei, mas imagino o que ela tinha para fazer aqui. Apenas te infernizar como faz a vida inteira.

— Tinha me esquecido de como você conhece bem o meu mundo — respondi com um sorriso.

Ela se aproximou de mim e continuou a dizer:

— Aposto que tem a ver com o diamante negro.

— Acertou em cheio! Maldito seja aquele gancho!

— Gancho este feito de nada mais e nada menos que diamante negro. Acho que não preciso repetir, não é?

— Você vai conseguir, Liam. Estou contigo até o fim.

Beatrice se aproximou ainda mais e me deu um abraço de surpresa. Respirei fundo, pois não estava acostumado com abraços e muito menos vindo dela, uma assassina pirata.

— Obrigado! Você sabe que tudo isto é importante para mim.

— Sei tanto que já mandei polir o seu gancho preferido. E aqui está.

Ela me entregou um embrulho camurça na cor vinho onde estava o meu gancho.

Sua corrente brilhava na cor prata e o gancho seguia o mesmo padrão. Estava bastante afiado e se adequava ainda melhor na minha mão. Agradeci com um balançar de cabeça e o coloquei admirando-o na luz do sol. Consegui respirar aliviado como há dias não fazia e resolvi enfim perguntar:

— Então, em que direção devo colocar este navio?

— Ao sul, meu Capitão. Estamos indo para a Ilha da Raposa — respondeu Beatrice com um olhar também de alívio.



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Tem sido tempos difíceis. Mas aqui está um novo capítulo. Amo essa história e nunca irei desistir dela enquanto eu puder.

Emily Pan⚓#2 [COMPLETO] - Uma Viagem à Ilha das FadasWhere stories live. Discover now