Capítulo 47 - Um oráculo Lunar

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Liam


"Dois inimigos,
O universo teceu.

Dois irmãos,
Um reencontro se deu.

Meios sangues,
De fibra e coração.

Piratas indomáveis,
Divididos pela ambição.

A uma grande jornada estão destinados,
Mas uma infame paixão irá separá-los.

A ampulheta, o herdeiro protegerá.
Somente ele, do poder conhecerá.

O tempo este, poderá controlar.
Se na magia, plenamente confiar.

Semideuses do caos e da terra.
Sangue pirata, deuses e guerra.

Dimensão dos sonhos de novo emergir,
Da queda das fadas o mundo eclodir.

A princesa dos tigres do baú a chave.
O futuro das ilhas e todos os mares.

Um novo terror no mar se erguerá,
Do antigo horror o passado ceifará.

Juntem forças para a guerra vencer.
Pois de lutas e perdas o futuro há de ser.

A morte à espreita de alguns estará.
Um novo guardião a terra despertará.


O garoto estava brilhando, citou cada palavra pausadamente, dando ênfase a tudo o que tínhamos que prestar maior atenção. A voz não pertencia a ele, o som que saía de seus lábios não era deste mundo. O timbre parecia do que eu já tinha ouvido das sereias uma vez, mas ainda diferente como se fosse alguém falando em meus sonhos, um som abafado e, ao mesmo tempo que gelava cada célula do meu corpo. Todos que tinham ido até a árvore pareciam hipnotizados, como se o tempo tivesse parado. Cada músculo de seus corpos estava imóveis, até mesmo suas pálpebras não ousavam se mexer. As chamas prateadas também pararam de se moverem enquanto o corpo de Henrique tornava a repetir cada palavra da profecia. Como se um período do tempo estivesse se reprisando somente para mim. Só mais tarde fui reparar que eu também estava completamente inerte, somente minha mente é que permanecia fluindo com uma enxurrada de pensamentos rápidos sobre cada palavra que a Deusa dizia. ?

"A uma grande jornada estão destinados, mas uma infame paixão irá separá-los."

A quem exatamente ela se referia? Eu e Henrique tínhamos feito o voto. E a Deusa me olhava diretamente nos olhos sempre que citava os primeiros versos.

"Dois inimigos, o universo teceu. Dois irmãos, um reencontro se deu."

O garoto estava mesmo se tornando cada vez mais um desafeto meu, mas ainda eu não o considerava um inimigo direto. Irmãos? Será que ela falava de irmãos como um amor fraterno? Porque de sangue pode ter certeza que ele não era. Não fazia muito sentido para mim. E isso de meio sangue? Seria meio sangue piratas? O que eu sabia sobre pessoas meio sangues era uma lenda. Filhos de deuses com humanos e isto era algo impossível até onde eu conhecia. Decidi focar no que realmente me interessava em toda a profecia, porque nem sempre o que os oráculos dizem fazem realmente sentido, não enquanto as coisas continuam apenas escritas nas linhas do destino.

O que entendi do resto da profecia era que somente o herdeiro encontraria a ampulheta como todos nós já suspeitávamos. Mas eu ainda tinha dúvidas se a Emily era realmente a herdeira. Se tinha algo que eu aprendera em todos os meus anos de vida pirata era que nem tudo que parecia ser era de verdade. Ela tanto poderia ser de fato a herdeira direta de Peter Pan, como a magia podia decidir passar sua herança para outra pessoa que já tivesse sido escolhido pelas deusas que traçavam nossos destinos nesta dimensão. Era com certeza algo mais difícil de acontecer, mas se a garota não se mostrasse digna e nem confiasse na verdadeira magia como dizia nos versos, a própria Terra do Nunca escolheria outro herdeiro. Então era tudo muito incerto ainda. Tudo o que eu sabia é que tinha que tê-la comigo o mais rápido possível. Pois quem detivesse o poder da ampulheta juntamente com o herdeiro poderia controlar o tempo e isto era tudo o que meu pai temia. Que os Blackwell usassem a ampulheta para governar de vez esta e todas as outras dimensões. Pois se tinha algo que todos os outros deuses temiam era o poder do tempo.

Como o próprio Chefe Raposa suspeitava, era de que a Princesa dos Tigres tivesse uma grande importância para a caçada até a ampulheta. Ele não queria somente que resgatássemos a Princesa, mas que também impedíssemos algo extremamente perigoso de acontecer, eu só não sabia ainda o quê. Encontrá-la era a pista a se seguir. E tudo o que sabia naquele momento era que ela estava sendo mantida prisioneira pelos capangas do Barba Negra. Mais uma vez Astrid tinha vantagem sobre mim. Só que ela não sabia que a Princesa era uma peça importante da profecia. Quer dizer, não sabia até...

Foi quando avistei alguém se mexer nas sombras. O tempo tinha voltado ao normal. As chamas voltaram a queimar e o moleque estava no meio delas. Eu não decidia em que direção correr, se seguia atrás da pessoa que estava nos espiando ou se salvava a peste do garoto que sempre dava um jeito de me atrapalhar em tudo. E se ele fosse mesmo o meu verdadeiro arqui-inimigo? Além, claro, da já declarada pirata francesa que me perseguia há seculos. Se fosse ele que a profecia falava e eu permitisse que o destino fosse alterado, ela se cumpriria. E a herdeira jamais encontraria a ampulheta.

Precisei juntar forças para me mover em direção ao garoto. Joguei-me nas chamas e o derrubei. Ele enfim saiu do transe e me olhou como se não soubesse o que tinha acabado de acontecer. Porém, as chamas não cessaram. Mesmo o transe tendo acabado, o fogo consumia a árvore e nós dois que estávamos próximos demais. Foi quando o fogaréu se tornou gelado e uma luz se moveu acima de nossas cabeças. Cerrei os olhos tentando enxergar melhor que luz era aquela, quando a forma de uma mulher de cabelos brancos como o luar se fez. Ela se materializou por alguns segundos e tinha a altura de aproximadamente três metros. Soltou um grito gutural que meus tímpanos doeram. Os demais pareceram despertar de seus estados de torpor e levantaram suas armas em direção a Deusa. A língua que suas palavras pertenciam era a língua dos deuses, mas que nossas mentes automaticamente traduziram.

"Seus vis! Não acham mesmo que são dignos do poder de Tempus, não é? Quase deterioraram o portal de Anima. Como ousam invocar a Mãe terra? Vim impedir que a tirassem de seu descanso etéreo. Não se atrevam a chamá-la de novo. Há coisas que vocês humanos medíocres não sabem e acham que podem interferir em tudo. A Deusa Mãe não pode despertar agora, não ainda..."

E com um último suspiro ela sumiu levando consigo as chamas e tudo o que tinha queimado. Era como se nada tivesse sido tocado desde que chegamos. A árvore sagrada permanecia intacta, somente nossas mentes é que não eram mais as mesmas. 

Emily Pan⚓#2 [COMPLETO] - Uma Viagem à Ilha das FadasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora