20 - [CENA 2]

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— Liam!! Gancho!!! O que é isso? — gritei assim que subi na superfície para respirar.

Para minha sorte o Gancho estava na superfície também e me olhou com um sorriso de quem estava se divertindo com o meu pavor.

— Isto meu caro, é um Kraken! Ou melhor a deusa Kraken — disse erguendo uma das mãos como se estivesse apresentando um espetáculo.

— E você está feliz com isso? — falei apavorado.

— Que pirata não estaria? — gritou e saiu mergulhando de novo.

Piratas eram loucos, isso sim. Ficar feliz por encontrar o demônio dos sete mares, a criatura mitológica mais temida por marinheiros desde a antiguidade. Devia ser uma questão de honra inversa, ou alguma grande história para contar caso sobrevivessem. O difícil mesmo seria sobreviver.

Mergulhei mais uma vez tentando ignorar os tentáculos gigantes a procura das fadas e de Elena que havia desaparecido. Mas não encontrei nada, não a princípio. Na terceira vez que submergi avistei um dos tentáculos agarrado a algo. Subi o mais rápido que consegui e tentei avisar Liam. Mas ele havia sumido também. Eu estava sozinho nessa. Eu e uma besta do oceano. Desci até o fundo atrás do objeto que eu tinha avistado e tentei agarrá-lo. Porém um dos tentáculos se fechou em meus pés, com sua textura mole e pegajosa, e me impediu de pegar a caixa de bronze. Fui atirado para cima, levitei no ar por alguns milésimos e cai afastado da boca do Kraken.

A caixa agora estava do outro lado e eu teria que nadar até lá. Mas antes que eu pudesse dar o primeiro nado, avistei um pequeno brilho preso em um dos pedaços de um barril destroçado. Não era possível! Era o meu colar.

Com muito custo consegui pegá-lo. Por culpa do miserável do Gancho eu quase o perdi. Contudo, fosse o destino quem fosse ele parecia estar ao meu favor, eu só precisava conseguir libertar as fadas para que pudéssemos viver.

A criatura se agitara e agarrara nosso navio, Liam apareceu como um fantasma com uma espada e atingira um dos tentáculos. O Kraken estremeceu e afrouxou onde estava o navio. Tempo suficiente para que eu fosse atrás do objeto de bronze. Gancho faria a distração e eu a busca.

Nadei e mergulhei até encontrar as fadas de novo e as peguei com toda a força do mundo. Se eu deixasse escapar dessa vez, não teríamos mais tempo.

— Achei! — gritei para que Liam ouvisse.

Mas ele não me respondera.

Meu colar começou a se agitar no meu peito. Me agarrei a um mastro de algum navio antigo que estava na superfície e segurei a caixa com a outra mão. A caixa parecia atrair o colar, eram as fadas pedindo socorro. Bati o objeto no mastro para que ele abrisse, não possuía fechadura e nem cadeado, mas eu também não conseguia abrir com apenas uma das mãos. O objeto abriu e pequenas luzes desesperadas me atingiram. Fiquei cego momentaneamente. Quando consegui enxergar de novo, as fadas já estavam em ação.

Elas foram até o navio e lutavam contra o Kraken que não queria soltá-lo. Jogaram seu pó mágico na superfície da Besta Prateada e ela começou a flutuar. O Kraken tentava agarrar o navio que estava escapando de seus tentáculos, mas foi em vão. O navio flutuou ao comando das fadas, tudo que precisávamos fazer era conseguir embarcar.

A criatura estava furiosa, passou a atirar pedaços de navios para todo lado, tentando atingir a Bastarda. Depois passou a agarrar marujos e a devorá-los. O timoneiro foi um dos primeiros, foram cerca de cinco homens devorados até que Liam aparecesse no navio gritando para que subíssemos. Ele lançou uma escada feita de cordas para fora do barco e dirigia a embarcação em busca dos seus marujos. Eu fui o último a ser resgatado vivo, quer dizer, Elena ainda estava desaparecida.

— Onde está Elena? — perguntou o Capitão desesperado. — É agora que ela precisa abrir o portal, o Kraken não vai nos deixar escapar tão fácil.

— Você acha mesmo que só ela consegue abrir? Porque naquela hora nada aconteceu — falei.

— A essa altura ela deve ter sido devorada por esse demônio — disse Beatrice.

— Não diga isso! — gritei ao torcer a minha camisa que estava ensopada.

— Mas ela foi a primeira a desaparecer — tentou se justificar.

— Tem algo estranho. Ela não desapareceu. Ela foi consumida pela rocha azul — comentou o Capitão.

— Então, talvez, o portal seja a garganta dessa criatura — afirmou Beatrice veemente.

— Eu não vou arriscar — respondeu Liam.

— Então nunca sairemos daqui. Aliás, de qualquer forma iremos parar dentro desse animal se não acharmos uma solução.

— As fadas não irão aguentar por muito tempo.

Todos estavam sem saber o que fazer, muitos estavam machucados demais para sugerir qualquer coisa e outros inconscientes.

— Precisamos achar a Elena — exigi. — E se ela estiver dentro dessa criatura, então nós iremos resgatá-la.

— Olha, no momento eu só tenho essa espada — disse Liam. — Quer dizer, tinha...

No momento em que ele começou a falar o navio foi atingido pelo Kraken e sua espada escapou de suas mãos caindo no oceano. Todos tentaram se agarrar ao convés para que não caíssem também. Foi quando um tipo de vidro quebrado atingiu meu tornozelo, o navio estava emborcado e tudo que ainda restava estava se movimentando.

— Me devolva isso! — bradou Liam apreensivo.

— Engraçado como as coisas se invertem não é mesmo? — provoquei. — Sorte a sua que eu recuperei o meu colar, senão nunca veria esse vidro outra vez.

— Henrique vingativo, gostei — comentou Jasper sorrateiramente. Eu havia até esquecido da presença dele ali. Ele estava cada vez mais quieto, fiquei feliz de saber que ele tinha sobrevivido e fiquei me sentindo um pouco culpado por não ter procurado por ele também além da Elena.

— Devolva isso logo para o nosso Capitão, moleque! — Era a vez de Jack aparecer. Pelo visto dos oficiais todos sobreviveram.

Mas antes que eu pudesse pensar em devolver, o navio foi jogado no mar outra vez e eu caí na água com um forte baque. Minha coluna estava em frangalhos, mal conseguia me mover. Eu iria afogar.

Para a minha sorte eu ainda estava com o pedaço de vidro ou espelho de Gancho. E meu primeiro impulso foi atingir a criatura com ele. Claro, que um pedaço de vidro daquele não faria cócegas na besta, mas eu precisava arriscar ou ela destruiria o navio.

Enfiei com todas as minhas forças a lâmina de vidro em um dos tentáculos, pois era impossível se aproximar da cabeça ou do resto do corpo da criatura. Uma bomba de luz explodiu e o oceano voltou a ser um caos. Fui levado para cima e perdi os meus sentidos por alguns segundos. O redemoinho de luz e água voltara a circular a criatura como no início e as mesmas vozes estranhas e amaldiçoadas ecoavam, mas dessa vez ainda mais alto, como se estivesse chorando por suas feridas.



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WOWWW! E AI O QUE ACHARAM? Essas músicas são de arrepiar! 

Escolhi elas, por serem exatamente na vibe que eu queria para este capítulo. O próximo acho que terá uma surpresinha para os fãs de um pirata.

Emily Pan⚓#2 [COMPLETO] - Uma Viagem à Ilha das FadasWhere stories live. Discover now