Capítulo 39 - Entre Sangue e Ossos

86 12 18
                                    




Henrique



A primeira coisa que fizemos quando chegamos ao navio foi irmos direto para a enfermaria improvisada que existia dentro da embarcação. Lá se encontrava o Roque Perna-de-pau que já havia me ajudado no ferimento do meu tórax quando o maldito do Capitão me ferira com aquele gancho de prata. Roque tinha um novo assistente, era um dos recém-chegados do navio que Liam tinha recrutado na ilha. Era sempre bom ter alguém reserva ao ter um papel tão importante quanto um cirurgião ou enfermeiro.

Eu e Elena fomos atendidos pelo assistente que se autodenominava Pombo. O motivo de ter um apelido tão esquisito eu não sabia, mas talvez o fato de seus olhos serem estrábicos justificava. Pombo era um garoto esguio, devia ter em torno de seus dezesseis anos. Tinha a pele clara cheia de manchas de sol, cabelos claros em um tom louro sem brilho e sardas bastante acentuadas no rosto.

Pombo estava claramente nervoso com toda a situação, devia ser a primeira vez que ele fazia tudo sozinho sem a orientação de Roque. Sorri nervoso para ele na esperança de que ele relaxasse, mas quem estava ficando nervoso também, era eu, principalmente em relação a Jasper, que não estava mais acordado.

Elena estava serena desde que chegamos ao navio, ela às vezes me surpreendia com a forma que reagia a certas coisas. Ao contrário da Emily, que era mais impulsiva e sentimental, ela era mais racional. Não tinha dito uma palavra se quer desde que entramos na enfermaria, encarava Roque com um olhar inquisidor e analista enquanto ele tentava salvar Jasper do seu destino quase inevitável.

Pombo se aproximou e pediu para que eu me sentasse do outro lado do local para que ele pudesse olhar o meu corte. Eu já havia tirado os pontos antes de ir até a ilha, mas com tudo o que passamos e com o esforço que fiz quando fomos atacados pela criatura subterrânea, reabriu alguns lugares da cicatriz. Não estava doendo como doera quando fui cortado, porém, estava incomodando de certa forma. No centro onde tinha sido o impacto estava arroxeado, meus músculos do peito ainda não tinham se recuperado totalmente.

— Vamos dar uma olhada nisso aí — disse o garoto apreensivo.

— Acho que não está tão ruim assim, está? — indaguei ao encará-lo.

Ele analisou a cicatriz do começo ao fim e fez uma careta a princípio. Será que ele tinha estômago suficiente para ser enfermeiro de um navio? Pensei comigo mesmo.

— Está doendo muito? — perguntou.

— Não tanto como antes.

— Vou fazer um teste de toque e quando doer você me avisa, principalmente onde doer mais, ok?

Pelo visto ele sabia o que estava fazendo. Relaxei e deixei que ele apertasse em torno da cicatriz. Alguns pontos estavam realmente mais doloridos que outros, fiz o que ele havia pedido e no fim ele disse que o corte estava querendo inflamar. Inflamação naquela situação precária que vivíamos não seria nada bom. Ele recomendou que eu descansasse mais e evitasse fazer esforço, pegar peso ou lutar com espadas. Eu segurei para não rir da cara dele, como poderia me recomendar tais coisas se eu era nada mais que um ex-prisioneiro naquele navio?

Assenti e deixei que ele me passasse um tônico para beber duas vezes ao dia e uma pomada feita de ervas para passar no corte. Ele me ajudou a passar a pomada pela primeira vez, enfaixou com um farrapo velho de uma roupa já inutilizada e disse que eu podia sair. Pensei em esperar por Elena, mas Roque ordenou que eu saísse para dar mais espaço na sua enfermaria. O que ele teria que fazer com Jasper não seria fácil, principalmente com um navio em movimento.

Emily Pan⚓#2 [COMPLETO] - Uma Viagem à Ilha das FadasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora