Capítulo 35 - A Primeira Pista

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Emily



Eu nunca pensei muito na morte ou em como ela seria. Sempre me achei muito nova para pensar no fim. Meu pai costumava dizer que morrer seria uma grande aventura e que eu nunca devia ter medo. Contudo, sempre acreditei que ele dizia isso para me tranquilizar quando tocávamos nesse assunto.

Quando me vi abraçada a Henrique após Valerie desaparecer dentro da criatura que não era nem cobra e nem uma minhoca gigante, eu tive medo. Não achei a sensação nem um pouco parecida com uma aventura. Se bem que o significado de aventura varia muito de uma pessoa para outra.

Alguns, como meu pai, Henrique, Liam, Astrid e provavelmente muitos dos piratas, sentiam que a aventura estava sempre presente em momentos desesperadores ou inesperados. Para mim era diferente, me aventurar era nada mais que fazer algo mais desafiador, diferente do que eu estava acostumada, sair da minha zona de conforto e não estar sempre a beira da morte.

Talvez isto fizesse de mim uma pessoa menos corajosa, está ai outra coisa que varia muito de significado. Coragem nem sempre está ligado a ação, a ser bravo, ou enfrentar situações de perigo. Também significa enfrentar algo emocionalmente ou moralmente difícil, a não desistir. Se eu quisesse sobreviver, precisaria me tornar uma pessoa mais ativa, que enxergasse as coisas mais positivamente, de maneira que o medo não pudesse me frear. Encarando o perigo como uma verdadeira aventura e ter a coragem de não me deixar paralisar em momentos difíceis.

Minha mãe um dia me dissera, que a melhor forma de se livrar do medo era ter fé, acreditar que tudo ia dar certo. Mas que o medo também era importante para nossa autopreservação. Se não tivéssemos medo, nos machucaríamos o tempo todo, não temeríamos nada e não sobreviveríamos por muito tempo. Desde que nascemos possuímos este instinto, é algo natural, porém, é algo que deve ser controlado e equilibrado pela razão.

Eu me sentia numa encruzilhada, entre ter medo e não ter. Entre me aventurar ou não. Em acreditar ou desistir. Talvez, encontrar o equilíbrio demorasse uma vida inteira. Mas eu tinha apenas alguns segundos.

— Vou voltar e ver se consigo uma bomba ou granada que possa explodir essa criatura — sussurrou Henrique em meu ouvido.

— É melhor não. Se a pista estiver mesmo aqui, não vai ser destruindo o lugar que a encontraremos.

— Então o que você sugere? Não temos muito tempo.

— Eu sei. Se voltarmos, corremos o risco dessa fera nos seguir e aí sim piorar tudo. Jasper não consegue correr.

Ele me lançou um olhar apreensivo e vi que estava suando frio. Talvez eu não fosse a única com medo ali.

— Vamos nos separar. Temos que acertá-la na cabeça.

Assenti e me afastei me preparando para o pior. Henrique deixou a tocha no chão e acenou de leve com o queixo para mim, encorajando-me. Meu cabelo estava se soltando da corda fina com o qual eu o havia amarrado, desde que Henrique o cortara, ou melhor, o roubara de mim, ele não ficava mais preso como antes, estava sempre nos meus olhos.

Joguei as mechas para trás em uma última tentativa de me concentrar e avancei em direção a criatura que estava a nossa procura.

— Henrique! Você confia em mim? — gritei enquanto me preparava para a loucura que eu estava prestes a fazer.

— O que você vai fazer?

Mas antes que ele pudesse terminar a frase, respirei fundo, engoli o fôlego e me agachei de frente para a besta. Bati a espada em seu corpo que rastejava em torno de mim para que ela soubesse exatamente onde eu estava e foi quando ela deu o bote. Sua bocarra se abriu e os pequenos tentáculos que ali haviam se remexiam ávidos para agarrar o que estava à frente.

Emily Pan⚓#2 [COMPLETO] - Uma Viagem à Ilha das FadasWhere stories live. Discover now