Cap.59 ''Pois quando eu penso em você, eu não me sinto tão sozinha" - Owl City

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[Elizabeth's POV]


Com os olhos cansados, fechei o livro em meu colo e o deixei na mesa ao lado do sofá, junto ao meu óculos de grau. Alonguei meu corpo, ouvindo alguns estalidos. Peguei o controle, enterrado entre o estofado, e desliguei a TV. Peguei a xícara com o resto do chá de camomila e andei, em passos curtos e lentos, até a cozinha, lavando-a e guardando-a no armário após tê-la secado. Subi e, sorrateiramente, andei até o quarto de meus pais. Abri um pouco a porta e os olhei na cama. Admirei o sono tranquilo de meu pai, mas meu coração contraiu ao que meus olhos alcançaram minha mãe. Encostei-me ao batente, me sentindo tão fraca quanto ela aparentava estar. Sua respiração irregular, seu rosto ossudo ficava evidenciado pela cabeça, recentemente raspada. Assim como todos os dias nas últimas semanas, me certifiquei de que ela estava bem, de alguma forma. Se ainda estava respirando, para ser honesta. Depois encostei a porta e, ainda sem nenhum sono, fui para o meu quarto. Tive vontade de tomar banho, mas sabia o porquê estava fazendo isso desde que soube sobre Chuck. Sujeira inconsciente. Então me esforcei para não ceder à pressão da minha mente, aliviei a bexiga, escovei os dentes e voltei ao quarto. O incômodo era enorme, era como se algo ruim fosse acontecer caso eu não retornasse ao banheiro e tomasse mais um banho, mas não o fiz. Ajoelhei-me aos pés de minha cama e orei. Orei durante sabe-se lá quanto tempo, até o sono dar indícios de sua chegada, e então, quando finalmente decidi me deitar, a campainha soou. Num sobressalto, olhei em meu relógio de cabeceira. Onze e dezessete, marcavam seus ponteiros. Quem poderia ser a essa hora? Jughead. Seu nome apitava, como uma sirene em minha cabeça, mas não dei atenção. Ele não viria me procurar. Não àquela hora. Não depois de nossa última conversa, no sábado anterior... Já havia uma semana. Eu não sabia dizer como me sentia em relação a ele, a Chuck, a situação toda. Foi, honestamente, terrível saber sobre aquela noite, foi dolorido e eu me senti enjoada durante toda aquela semana. Na verdade, eu estava um caos por dentro, pois, além de tudo, eu estava confusa sobre as atitudes de Jughead. Eu me sentia grata por ele ter me procurado e tentado me proteger de todas as maneiras possíveis, na verdade eu me sentia tão grata que estava envergonhada por ainda não tê-lo procurado para dizer isto. Ao mesmo tempo eu queria que ele tivesse sido honesto comigo e me dito desde o princípio, afinal, ele me viu com James todo o tempo depois que retornamos do resort, e ele nem tinha a certeza se havia ou não acontecido algo na sauna, como ele pôde não intervir? E então vinha a memória das minhas próprias acusações sobre ele, todas as vezes que me esquivei e o julguei, desconfiei de sua conduta... Minhas teorias, ideias, sentimentos, tudo se parecia muito com um novelo de lã naqueles dias, eu sabia quem poderia retirar os nós. O mesmo que, consequentemente, os havia amarrado. Entre meus pensamentos mais embaraçados eu desejei que tivesse sido ele, apesar de tudo. Meu Deus, antes tivesse sido ele. Ouvi os passos pesados do meu pai pelo corredor, mas me mantive sentada na cama, na expectativa de saber quem estava lá embaixo. Ouvi o abrir e o fechar da porta, mas não conseguia ouvir voz alguma. Suspeitei que fosse alguém pedindo informação, mas depois de 15 minutos meu pai ainda não tinha retornado ao quarto, então comecei a me preocupar. Calcei minhas pantufas e me levantei, seguindo lentamente pra fora do quarto. Desci, em silêncio, o lance de escadas e pude ver a luz da sala de visitas acesa. Quem poderia estar nos visitando àquela hora? Conforme me aproximava, eu podia ouvir a voz baixa de meu pai. Encostei-me à parede, ao lado da porta, me concentrando para poder ouvir. 

- ... Mas os médicos disseram que tem chance de recuperação, mesmo que seja pouca, então estamos com a esperança de que tudo fique bem... - Meu pai dizia, fechei meus olhos, devia ser a terceira vez que eu o ouvia falar sobre minha mãe à alguém. Ele nunca falava com ninguém sobre isso. - Sr. Cooper, eu não sei se é suficiente... - Meu estômago gelou e minha respiração conteve-se. Abri os olhos subitamente, tentando não exclamar qualquer tipo de barulho - Mas eu arrecadei algum dinheiro na semana passada, no festival de música, e eu gostaria que o senhor aceitasse essa ajuda... - Jughead dizia, de maneira calma... Calma que não passava perto de mim. Meu corpo já não tremia, vibrava. Dos pés à cabeça. - Jughead, não posso aceitar, esse dinheiro é seu... - Não, eu fiz o festival com esse propósito... - Minha garganta escassa começou a arder, assim como minhas narinas e olhos, agora úmidos. Ele sabia de tudo! - Por favor, aceite. - Jug, não sei o que dizer... Não sei como te agradecer por isso. - Meu pai murmurou, cobri minha boca com as mãos, contendo um soluço - Obrigado, de coração. - O senhor não tem que agradecer, eu faria isso mais mil vezes se fosse preciso pra que sua esposa ficasse bem... Eu não tive muito tempo de conhecê-los, mas sei, através de Elizabeth, como são pessoas especiais, e eu quero mesmo que tudo fique bem nessa casa, porque gosto muito de todos vocês. - Meus joelhos enfraqueceram, mas continuei escorada na parede, ali, ao lado da porta. - Você é um bom rapaz, Jones, estou feliz que minha filha goste de você... Sempre tive medo que Elizabeth se envolvesse com alguém que não a merecesse... Eu e minha esposa estivemos o tempo todo criando-a da melhor maneira possível, talvez tenhamos exagerado e tornado Betty alguém rígida demais consigo mesma... Mas acho que ela vê, e tem em você, uma liberdade que nós não demos a ela, uma liberdade que ela sabe usar e que merece ter... - Eu mal podia ouvi-los agora, meu coração batia tão forte que atrapalhava todos os meus sentidos. - Eu acho que... Talvez, eu não seja a pessoa certa pra Elizabeth... - Traguei o bolo de angústia que havia se formado em minha garganta e apertei meus olhos - Eu a amo tanto, e quero protegê-la tanto, que acabo metendo os pés pelas mãos... - Eu, como pai, mesmo que um padrasto, acho que você é a pessoa certa para Elizabeth, e acredite, pra um pai isso é quase como ter a filha roubada. - Ao ouvir a risada de Jughead preencher a sala da minha casa, meu coração aqueceu-se de tal maneira que eu me peguei sorrindo, mesmo que de leve, com o rosto, ironicamente, banhado em lágrimas. - Bom, eu vou indo, Sr. Cooper. - O sofá rangeu, indicando que Jughead havia se levantado, me senti petrificada, cimentada ao chão, ele estava indo. - Tudo bem, Jughead, muito obrigado por tudo. - Meu pai agradeceu e eu pensei em sair correndo. Talvez eu conseguisse se não estivesse completamente trêmula e extasiada - Jug... - Os passos até a porta se detiveram e eu abafei um suspiro na palma da mão - Posso contar à Elizabeth o que você fez? - Não... Quero pedir ao senhor que mantenha isso entre nós... - Disse Jughead, com a voz calma - Não quero que ela pense que fiz isso porque quero me desculpar por qualquer coisa... Eu fiz isso pela felicidade e pelo bem-estar de todos vocês, não por qualquer outro motivo, mas a Betty 'tá magoada, e não vai entender... - Tudo bem, como quiser. - Neguei com a cabeça e, sem a menor ideia do que estava fazendo, adentrei na sala, meu pai enrijeceu e o sangue esgueirou-se do rosto de Jug - Filha... - Pai, eu quero conversar com o Jughead. - Me ouvi dizer, sem tirar os olhos do rosto empalidecido do rapaz à minha frente. Me culpei por aquelas olheiras e pela maneira como ele pareceu desesperado ao me ver. - Tudo bem, vou deixá-los a sós. Meu pai passou por nós e saiu pela porta, encostando-a atrás de si. Eu podia sentir a atmosfera pesada, densa. Jug e eu tínhamos tanto a conversar que iríamos gastar bem mais que uma noite na minha sala de visitas. Eu tive ainda mais certeza disso ao perceber que nenhum de nós estava disposto a começar a falar, pelo menos não naquele momento. Não nos sentamos, não nos movemos. Ficamos parados, um em frente ao outro, nos olhando como se isso fosse solucionar todas as questões entre nós. Talvez isso pudesse não acontecer. Mas foi ali, olhando para aquele garoto de cabelos desordenados, roupas sujas e olhar cansado de quem havia acabado de sair do pub. Foi olhando dentro de seus olhos que reconheci o perdão. O meu, e o dele. Ele havia me perdoado, e eu o perdoava também. Não era pelo que ele havia feito por mim e por minha família, mas porque isso me fez lembrar de quem ele era, de quem poderia ser, e do quanto eu o amo e o admiro, apesar de tudo. - Eu... - Tentei dizer algo, mas o choro embargou minha voz e eu me calei, Jughead contorceu sua expressão, baixando a cabeça - Jug... - Chamei, num sussurro e ele voltou a me olhar, seus olhos estavam vermelhos, não sei se de sono, ou de quem quer chorar - Obrigada. - Minha voz era quase inaudível, tudo o que saiu foi um gemido borrado e acompanhado de lágrimas gordas. - Você não precisa me agradecer. - Murmurou Jughead com rouquidão - Era tudo o que eu podia fazer. - Desculpa eu não ter te contado... Eu queria que você não precisasse me ver assim... - Você não tinha a obrigação de me contar, mas eu gostaria que você tivesse feito, porque eu poderia tentar te ajudar de outras maneiras... - Você ajudou. - Sussurrei - Todos aqueles dias, os piores dias, você me levava pra almoçar, e você aceitou a Veronica dentro da sua casa mesmo depois de tudo... Isso me fazia bem, me fazia pensar que caso... Caso... Minha mãe... - O pranto me atingiu antes do fim da frase, Jughead não hesitou em se acercar e me tomar em seus braços, me segurando com força contra seu peito. - Shhh, shh... Isso não vai acontecer, ok? Não tão cedo. - Ele me dizia aos sussurros, prendendo meu corpo trêmulo entre os braços - Calma... - Me pediu, mas de repente tudo veio a tona, os últimos meses, a dificuldade que tive para lidar com tudo, de todas as noites que eu apenas quis estar ali, em meu lugar, no seu abraço, e chorar, desabafar. - Eu 'tô com medo. - Admiti pela primeira vez em todo aquele tempo, num sussurro, com o rosto afundado em seu peito e o receio de que eu mesma descobrisse sobre essa fraqueza. - Eu sei... - Ele murmurou, com os lábios próximos do meu ouvido, afagando meus cabelos de uma maneira aconchegante - Mas também sei que você é forte. E que quando você não conseguir se manter em pé, pois pode acontecer, estará rodeada de pessoas prontas pra te segurar. - Ele dizia de maneira quase melódica, acalmando o ritmo do meu coração e o temor que me fazia ter espasmos. - Não me deixa sozinha. - Pedi, com os olhos doloridos pela intensidade de choro. - Nunca. - Murmurou, me apertando ainda mais. Busquei pela mão de Jughead e entrelacei meus dedos aos seus, puxando-o até o sofá, onde me sentei e indiquei o estofado pra que ele fizesse o mesmo. Seu corpo foi como um leito, que me acolheu e me acalentou. O silêncio reinava sem objeções de nossa parte, precisávamos daquele momento. Precisávamos pensar juntos, sem dizer nada. Abri os olhos, sentindo-os inchados e, lentamente, olhei ao redor. A escuridão do meu quarto fez com que eu me perguntasse se eu estava sonhando. Afastei os cobertores e me esgueirei até a beirada da cama. Olhei o relógio, que marcava 04:04. Será que Jughead não estivera ali? Será que eu estava dormindo aquele tempo todo? Bati a mão no interruptor e fui ao banheiro, quando retornei vi, embaixo da luminária, uma folha dobrada. A peguei com cuidado e me sentei na beirada da cama enquanto a desdobrava, e então comecei a ler o que dizia ali:

Quando você estiver deprimida e perdida, e precisar de uma mão para ajudar. Quando você estiver deprimida e perdida pelo caminho, apenas tente um pouco mais, tente seu melhor para atravessar o dia, e apenas diga a si mesma "eu ficarei bem"... Você não está sozinha.

Xx Jug.

Betting Her - Adaptação BugheadOnde as histórias ganham vida. Descobre agora