Cap.56 "Sishing to kiss you, before I rightly explode" (Jason Mraz)

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Uma pontada, forte, quando retomei a consciência. Uma ainda mais aguda quando abri meus olhos, e quando me sentei, senti que minha cabeça podia estourar a qualquer instante. As batidas na porta se mantiveram, era como se estivessem dentro de mim, mais especificamente em meu crânio.
Levantei da cama e, sem o menor entusiasmo, fui atender. Elizabeth estava parada no corredor, com sua pasta em mãos, vez ou outra os papéis escorregavam e seguiam uma corrente de ar, aterrissando no carpete cor de vinho. Encostei-me ao batente e sorri fraco, me esquecendo, por um momento, de todos os mal entendidos e do que havia acontecido na noite anterior. Notei a pouca maquiagem, o penteado delicado, sofisticado e a roupa tão séria. Não achei que fosse combinar com ela. Eu estava enganado. E ela, linda.

- Você pode me ajudar? - Perguntou ela, inclinando-se desajeitadamente dentro de sua saia justa para recolher alguns papéis, fiz o mesmo, com maior facilidade, e quando endireitei minha coluna, senti uma fisgada quase insuportável na minha cabeça, apertei os olhos, respirando fundo para não soltar um palavrão - Obrigada.
- De nada. - Respondi, empilhando novamente as folhas dentro de sua pasta.
- Pelo jeito você não vai sair desse quarto hoje, não é? - Disse ela, e eu senti um rastro de decepção em sua voz.
- Claro que sim, que horas é sua apresentação? - Perguntei, já rezando pra que não fosse a primeira, ou eu teria que correr.
- Às 11, depois do primeiro coffee break. - Respondeu, crispando os lábios em seguida.
- Estarei lá.
- Ok, eu estou indo, preciso me organizar ainda. - Eu sabia que ela já estava com tudo pronto, mas sua ansiedade não permitia que ela também se desse conta disto.
- Certo, eu vou tomar um banho. - Resmunguei, já pensando no frio que eu iria passar.
- Faça isso. - Seu sorriso foi divertido enquanto me olhava de cima a baixo, semicerrei meus olhos em uma expressão irônica.
- Tchau, Elizabeth.

Ouvi sua risada gostosa invadir o corredor pouco antes de ter a porta fechada em sua cara. Não contive um sorriso, era estranho essas nossas mudanças repentinas de humor e comportamento. Mas talvez a noite anterior tenha me mostrado que merecíamos uma trégua, cedendo ao seu pedido de tornar a viagem menos ruim... Mesmo sem me lembrar conscientemente de seu pedido naquele momento.
Abri minha mala e me perguntei se eu deveria usar uma camisa, talvez um blazer... Mas desisti quando descobri que eu não tinha nada do tipo ali comigo. Deixei separado sobre a cama um jeans de lavagem preta, uma camiseta branca e um casaco grosso marrom acinzentado. Escolhi uma boxer branca qualquer e me arrastei até o banheiro, quase desistindo. Se eu não soubesse que iria me ajudar a curar a ressaca, talvez eu tivesse mesmo deixado passar.
Meu banho não durou mais que 15 minutos. O frio não ajudava em nada. Eu poderia passar mais de meia hora sob o chuveiro em outra situação. Sequei meu cabelo e pensei em fazer a barba, mas a vontade passou rápido. Borrifei um pouco do anti transpirante e saí do banheiro, quase correndo. Me vesti o mais rápido que consegui diante da tremedeira da ressaca. Meu estômago roncava alto, e eu precisava de uma aspirina antes que minha cabeça explodisse.
Tirei meu óculos de sol da mochila, o aviador marrom, já que o outro o Fangs fez o favor de sentar em cima. Minha mãe ficou contente, não gostava muito dele. Mas esse me fazia parecer gay enrustido.
Calcei meu tênis e coloquei minha carteira no bolso. Fechei meu casaco caminho da porta do quarto. O corredor estava tão vazio quanto o restaurante, pude escolher uma mesa do lado de fora, aproveitar o pouco sol. Engoli dois pães de batata com uma xícara de café preto, a tremedeira cessou, mas minha cabeça ainda latejava, e meu estômago também não havia aceitado muito bem a comida. Tomei uma aspirina e ao me certificar de que ainda não passava das nove e meia da manhã, decidi subir e descansar um pouco mais, esperar a dor passar.

Everybody's got a hungry heart...
Everybody's got a hungry heart...
Lay down your money and you play your part...
Everybody's got a hu-u-ungry he...

- Alô?. - Murmurei, sem abrir os olhos.
- E ai, cara! - Fangs exclamou, parecendo entusiasmado, respirei fundo.
- O que?
- Ué, como estão as coisas?
- Ah, Fangs, você me acorda pra ficar fazendo fofoca como uma mocinha, cara?
- Ih, que mal humoor!
- Estou de ressaca... - Abri os olhos, sentindo minha garganta um pouco trancada, talvez pela quantidade de pó que eu já havia inalado.
- Noite foi boa assim ontem?
- Nossa, surpreendentemente boa. - Ironizei, girando meu relógio de pulso para poder olhar a hora - Puta que pariu! - Gritei, saltando da cama - Fangs, obrigado por ligar.

Betting Her - Adaptação BugheadOnde as histórias ganham vida. Descobre agora