Cap.31 "That kinda lovin' turns a man to a slave" (Crazy - Aerosmith)

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Me sentei na beirada da cama e respirei fundo, tentando não parecer ofegante, ou nervoso. Ela inclinou-se e colocou a cabeça para dentro do quarto através da fresta da porta.

- Entra, Betty, não te ouvi chamar. - Disfarcei, passando a mão pelo meu cabelo enquanto ela se acercava, trazendo nosso bloco de papel e uma caneta.
- Eu chamei duas vezes, e aí entrei. - Sorriu culpada, ri baixo e bati na cama ao meu lado.
- Sem problemas. - Eu disse e ela se sentou com cuidado, olhando ao redor de si, talvez para aliviar-se do desconcerto, do qual compartilhávamos - Er... Então, o que temos pronto?
- Hm, quase nada. - Suspirou e me entregou o bloco de notas, cocei a nuca.
- Realmente. - Rimos - Vamos terminar isso hoje. - Garanti - Se importa se eu tirar meu tênis?
- Depende, posso abrir as portas da sacada? - Gargalhei e dei um tapa de leve em sua cabeça, ouvindo-a rir também enquanto eu chutava meu tênis pra lá e me recostando a um pilar que havia nos pés da cama.
- Você teve mais alguma idéia? - Perguntei após reler o que já tínhamos escrito.
- Não... não sei. - Disse, também desfazendo-se de seu All Star e encolhendo-se sobre a cama, encostada no pilar frente à mim.
- Ok... - Murmurei, então reli as primeiras linhas e sibilei algumas vezes uma frase que se formou em minha mente - O que você acha de "Agora você está longe de mim, e como isso aconteceu depois de tanto tempo"? - Ela me olhou parecendo um pouco apreensiva.
- Gosto... - Assentiu, talvez sem graça - Eu pensei em colocar algo como... "Eu fecho meus olhos"... - A encarei, concordando com a cabeça e esperando que ela concluísse - "E espero estar fazendo certo". - Assenti, meus lábios pressionados um contra o outro.
- Podemos colocar "Eu hesitei em lhe contar o que estava sentindo, eu tenho medo". - Ela encolheu os lábios e baixou os olhos, ela sabia que eu havia entendido - "Livre-se destas lágrimas e seja forte". - Betty ergueu o rosto e me encarou, então desviei meus olhos dos seus e escrevi tudo o que havíamos dito, antes que eu me esquecesse.
- O que você está escrevendo? - Ela quis saber, alguns minutos depois de um silêncio intenso e constrangedor.
- Hm... - Umedeci os lábios e parei de escrever - "Nada muda quando fazemos as pazes, você só fica em casa quando eu estou na cidade." - Li as frases que eu havia escrito recentemente.
- Gostei. - Ela disse com um sorriso, tentei sorrir também, mas falhei - Tenta isso: "Me desculpe se estou fora da linha".

Meus olhos encararam os de Elizabeth, ela parecia lamentar por algo, mas eu não sabia dizer o que era, então retornei minha atenção ao papel. Enquanto eu escrevia e mudava uma coisa ou outra, fazendo flechas para o melhor encaixe das palavras recentemente acrescentadas, eu apenas ouvia a chuva cair do lado de fora, pesadamente. Betty havia definitivamente recolhido-se, e foi melhor assim. Não sei por quanto tempo mais eu seguraria tudo o que eu tinha vontade de dizer à ela. Ela estava mais diferente do que eu pensava, eu estava começando a vê-la de um ponto de vista distinto, pois com nosso namoro e mesmo após o término, sei que mudei pra melhor, enquanto ela, eu nem sabia mais quem era, ou em quantas ela se dividia.

- Já venho. - Eu disse, me levantando e saindo do quarto.

Fui até o quarto de Fangs e busquei seu violão, ele o levava pra toda parte então eu sabia que o encontraria ali, e então não precisaria passar pela humilhação de tocar o violão que ela me deu de má fé para finalizar nossa composição. Era ironia demais pra uma noite só.

- Por que não usa o que eu te dei? - Ela perguntou assim que me sentei com o violão no colo, a fitei, buscando indícios de sarcasmo.
- Porque eu não pretendo ficar com ele. - Respondi com sinceridade e me virei de frente para ela, deixando a letra sobre a cama ao alcance da minha visão.
- Por quê? Ele não é bom? - Ela quis saber, respirei fundo e desviei meus olhos das cordas.
- Ele é perfeito, mas não é meu.
- É sim, eu te dei.
- Ele não é meu, eu não o considero meu, e não o quero pra mim.
- Que mal educado, recusando um presente. - Ela disse, sorrindo, semicerrei os olhos e depois decidi ignorar.
- Você sabe cantar? - Eu quis saber, ela suspirou e negou com a cabeça - Mas você não pode tentar?
- Posso. - Deu de ombros.
- Ok. - Comecei a dedilhar o violão, tentando dar início aos arranjos - Será que o Fangs trouxe o teclado, você sabe tocar, não sabe?
- Sei. - Assentiu.
- Legal.

Betting Her - Adaptação BugheadOnde as histórias ganham vida. Descobre agora