Cap.34 "What if you did? What if you lied? What if I avenge?" (Creed)

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[Elizabeth's POV]

Sorrateiramente, percorri o apartamento, admirando a maneira como a claridade penetrava pelos cômodos, preenchendo-os de uma luz meio azulada. Encolhi-me dentro de meus braços, buscando em mim o calor que antes vinha dos braços de Jug ao meu redor. A brisa matinal fazia meu vestido, agora molhado, parecer ainda mais gélido do que realmente era. Por sorte Veronica estava dormindo no tapete da sala, talvez por eu ter trancado o quarto antes de sair, ou talvez não tivesse conseguido se levantar de lá. Eu ainda não estava habituada à rotina deles. Eu não conseguia acompanhá-los em nada, quem dirá na bebida.
Destranquei a porta do quarto e adentrei, voltando a trancafiá-lo para que não desconfiasse que eu estivera fora. Liguei o chuveiro e regulei a temperatura, fechando qualquer possível passagem de vento até que o ambiente estivesse suficientemente abafado, e então, me despi. Eu ia ficar gripada, com certeza ia. Passei um tempo no banho, até me sentir bastante aquecida e não restar nenhum grão de areia em minha pele. Retornei para o quarto e vesti uma lingerie qualquer, junto de uma camisola leve.
Meia hora depois, rolando pela cama, e tentando encontrar a posição mais confortável, ou me livrar dos pensamentos que não paravam de retornar à minha cabeça, narrados pela voz grave de Jughead, tão nítida que parecia estar sendo sussurrada em meu ouvido. Era a primeira vez, desde que havíamos terminado, que eu me sentia daquela maneira, precisando estar com ele. Talvez antes daquela noite, minha mágoa não me permitisse sentir sua falta, não me deixasse enxergá-lo de outra maneira, se não um mentiroso egoísta, agora era diferente, o rancor começava a se dissipar de uma maneira estranha, e não era como se eu pudesse intervir. Quando dei por mim, eu estava em seu quarto, nua, tocando teclado, por querer, e não por nenhum outro motivo.
Eu já não me reconhecia quando me olhava no espelho, aquelas roupas, a maquiagem, os trejeitos. Nada meu, nada eu. Eu não sabia onde eu iria parar se continuasse dando corda às coisas que Veronica dizia. Eu não queria ficar com James, e eu não queria ser outra pessoa se não eu mesma, mas antes parecia tão certo mostrar à Jug o que ele havia perdido... Agora já não fazia assim tanto sentido... Talvez porque ele não houvesse perdido.
Era como se naquela madrugada tivesse chovido, murchando com isso todas aquelas nuvens escuras que pairavam em minha mente, e agora o tempo começava a limpar. O cheiro do verão, o sol quente. Tudo estava de volta, de repente, e eu podia tomar minhas próprias decisões, então. Eu não precisava de mais planos, mais idéias vindas de minha prima ou de quem quer que fosse, eu tinha meus próprios planos e o futuro só dependia de mim. Eu precisava conversar com Jughead e esclarecer, primeiramente, as coisas entre nós. Eu queria, finalmente, ouvir sua versão, e queria sentir que podia perdoá-lo definitivamente, sem que restasse desconfiança ou mágoa, e no fim das contas estaríamos em uma relação tão transparente que não haveria resquício de insegurança.

- Betty... - Ouvi a voz pastosa de Veronica vim do lado de fora da porta, fechei os olhos e fingi que estava dormindo, como se ela pudesse ver - Betty, abre aqui pra mim! - Ela não ia desistir, e eu também não queria deixar que ela voltasse para o tapete da sala.
- Já vou. - Tentei fazer uma voz de sono enquanto caminhava até a porta, destrancando-a e dando passagem à Veronica.
- Nossa, eu apaguei na sala... - Suspirou, sustentando uma expressão de dor indescritível.
- Você parece péssima. - Comuniquei com cuidado, Veronica me lançou um olhar cansado, e ainda assim, hostil - Quer um café? Uma aspirina? - Eu queria ficar longe dela, Veronica tinha algo em suas palavras, em sua maneira de falar, que me persuadia sempre.
- Você vai levantar 7 horas só pra ir buscar café pra mim? Sério? - Rolei os olhos, parada aos pés da cama - Claro que eu quero, traz aquelas bolachinhas de leite com chocolate também.

Veronica fechou os olhos e pronto, estava dormindo. Pudera eu ter essa facilidade. Vesti um short jeans e uma camisetinha qualquer, calcei um par de chinelos. No caminho até o restaurante, fiz uma trança em meu cabelo, sem muita paciência para arrumá-lo. Embora eu soubesse que Jug estivesse dormindo - o que eu também deveria estar fazendo - eu ainda sentia uma cócega no estômago, acho que isso definia bem a sensação, eu esperava vê-lo, quem sabe poder me aproximar e me aconchegar em seus braços. Fazer algo escondido nunca me pareceu tão errado quanto ter de esconder que ele e eu estávamos novamente juntos, mas eu teria de esperar até estarmos longe daquele Resort, ali eu não teria para onde fugir das acusações de Veronica, nem condições para enfrentá-las. Talvez eu estivesse com vergonha de admitir que havia perdoado o que ele havia me feito. As pessoas não costumam se colocar no lugar umas das outras. Da mesma maneira que tive de ouvir uma onda de críticas por não tê-lo perdoado, sem que ninguém tivesse a menor idéia do quanto eu estava machucada, agora, eu também teria de me prender a algo seguro para não ser levada pelas críticas daqueles que nunca amaram a ponto de perdoar um erro como o que Jugheas havia cometido.
Busquei o café da manhã para Veronica, como havia prometido, e depois fui dar uma volta, ainda na esperança de encontrar algo para fazer já que meu sono havia se dissipado há algum tempo, trazendo em seu lugar a ansiedade de poder estar com ele novamente. Ele, ele, ele. Esse era meu medo, que ele se tornasse novamente o centro da minha vida. Eu nunca deixei que ninguém, além da minha família, fosse prioridade em minha vida, que interferisse, mesmo sem saber, em minhas decisões diárias ou coisas do tipo. Mas tudo mudou desde que Jug chegou, tudo, cada único ponto do meu dia. Todos os meus planos eram como frágeis pinos de boliche, Jughead foi, para eles, como uma bola. Strike!
Meus pais agora se preocupavam com coisas que antigamente não faziam o menor sentido. Como, por exemplo, minha decisão de talvez mudar de faculdade, esse era um plano que eu tinha traçado desde muito cedo, era como um sonho, que repentinamente me pareceu sem brilho. Eles ficaram completamente assombrados quando eu disse que talvez eu pudesse mudar de idéia, que ainda estava em tempo. De início, pensaram ser um absurdo, já que tudo estava encaminhado para que no ano seguinte eu me mudasse para Oxford, eu até já tinha uma carta de recomendação da diretora do Riverdale High, tudo indicava que após a minha apresentação no congresso, eu poderia ganhar uma bolsa integral na universidade, mas até onde eu realmente queria isso? Eu não tinha dúvidas do que eu queria até me pegar pesquisando sobre faculdades em Londres, é claro que nenhuma lá podia ser tão boa quanto Oxford, mas eu podia dar meu melhor em qualquer uma que fosse. Eu queria estar perto de Jughead, não queria depender de destino para encontrá-lo novamente em minha vida, pois eu sabia que já havia sido sorte demais ele ter aceitado aquela aposta, que embora tenha me machucado, trouxe outro significado à muitos aspectos da minha vida, a maior parte deles.
Eu só fui ver Jughead naquele dia depois do almoço, quando estava saindo do restaurante com Veronica e Midge, o vi sentado sob a sombra de um guarda sol na borda da piscina, havia um copo de suco em suas mãos e seu óculos de sol não me permitia saber se ele estava, ou não, olhando pra mim, o que me incomodava de um tanto, eu queria que ele estivesse, queria sua atenção, mais hoje do que em qualquer outro dia, pois diferente de todos eles, eu queria que ele notasse meu short não tão curto, minha camiseta não tão justa e a trança frouxa em meu cabelo, eu queria que ele notasse a ausência de maquiagem, e acessórios desnecessários. Eu queria que ele sentisse falta de quem eu realmente era, pois eu estava disposta a voltar pra ele, eu era dele.
Passamos ao lado de sua mesa, mas Jughead pareceu não notar minha proximidade. Isso nunca acontecia. Era como se estivéssemos, de alguma maneira, conectados e ele sempre sentisse quando eu me acercava, mas dessa vez algo falhou, ele não virou seu rosto em minha direção, continuou rindo de algo que os meninos haviam dito, sem dar a menor importância para mim. Me perguntei se estava indo pelo caminho errado, se eu deveria continuar me vestindo como Veronica achava que eu deveria. Será que eu não podia ser eu mesma, e fazê-lo me notar mesmo assim? Funcionava há um mês atrás, não podia ter mudado assim tão rápido, de uma hora pra outra.
Ignorei aquela crise momentânea e me prendi à idéia de que ele não teria me visto. Era isso o que tinha acontecido, sem dúvidas. Fui para o bangalô, apenas pra colocar nossa roupa de banho e retornar para a área da piscina. Os alunos já haviam tomado conta de cada parte daquele lugar, eles não pareciam desanimados com o fim da viagem mais próximo, e sim querendo aproveitar absolutamente cada segundo. Eu também não estava desanimada, pelo contrário, estava contente por esta viagem estar chegando ao fim, longe daqui as coisas seriam mais fáceis, e eu poderia explicar muita coisa à ele, que estava dentro da piscina, conversando com seus amigos de forma descontraída. Eu queria me esquivar da sensação de que algo estava errado, mas isso não parava de se repetir em minha mente desde que me deitei na espreguiçadeira para tomar sol, Jughead não havia voltado seus olhos em minha direção uma vez se quer, e aquela curiosidade "barra" angústia parecia se propagar. Eu ia perder o controle.
Eu sabia ser ignorada, fui obrigada a aprender desde muito cedo. Eu não era o tipo de garota mais legal e interessante. Eu não bebia, detestava cigarros e não sabia dançar música eletrônica. Também detesto mini saia e até muito pouco tempo não sabia usar lápis de olho. Eu não era a garota padrão, nunca fui e tampouco fiz questão de ser, o tipo de garota que eu era, não costumava chamar a atenção de ninguém, menos ainda de garotos com dinheiro, carro e popularidade, se tivessem uma banda então, esquece. Foi aí que tudo mudou, Jug me notou, de alguma maneira ele me conheceu e mudou seu conceito sobre mim, e agora, mesmo depois de todos os anos que ele não olhou em minha direção, ele havia me deixado acostumada com outro tratamento, eu não admitiria voltar a ser evitada por ele, de maneira alguma, não por ele.

Betting Her - Adaptação BugheadOnde as histórias ganham vida. Descobre agora