Cap.8 "You know it's only just begun" (Nickelback)

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No primeiro contato de meus olhos com a claridade, eu quis fechá-los e voltar a dormir, mas um flash rápido do fim da noite anterior me fez saltar da cama ansioso para vê-la. Eu não queria pensar em como seria chegar ao colégio com ela, no mínimo estranho, mas de uma forma surpreendente eu não estava me importando nem um pouco com isso, apenas preocupado com o tamanho da importância que ela iria dar a esse fato.
Tomei um banho rápido e peguei um iogurte antes de me despedir dos meus pais e sair de casa, preferi não dar muitas explicações, por maiores que fossem as cobranças da minha mãe. Enquanto parado no sinal, eu intercalava minhas tarefas entre tomar o danone e escolher um CD para colocar no rádio. Coloquei uma coletânea de pop/rock e deixei tocando enquanto dirigia apressadamente até a casa dela.
Assim que estacionei o carro, eu a vi sair de casa com o irmão, que deveria ter 6 anos, no máximo. Ele vinha carregando uma mochila enorme nas costas e uma lancheira do Homem-Aranha, que me lembrava bastante as minhas. Elizabeth o segurava pela mão enquanto com a mão livre trazia todo seu material. Desci do carro e andei depressa até os dois, que me olharam, Betty me sorriu e eu a imitei.

- Deixe-me te ajudar. - Eu disse, pegando seu material todo e abrindo a porta de trás do carro para colocá-lo sobre o banco. - Como é seu nome? - Perguntei ao irmão dela, que me olhava envergonhado.
- Diga seu nome a ele. - Ela pediu ao irmão, que baixou a cabeça.
- Charles. - Ele disse quase inaudivelmente, eu a olhei e nós rimos baixo.
- E então, Charles, hoje eu vou levá-los à escola, beleza? - Eu disse e ele me olhou, assentindo. - Então vem cá para eu te ajudar a subir. - Ele correu até mim e, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ele já estava dentro do carro, acomodado no assento. - Coloque o cinto. - Eu disse, rindo e fechando a porta. - Seu pai? Você disse a ele? - Perguntei, abraçando-a lentamente pela cintura.
- É, eu disse que você é um amigo, ele não gostou muito da ideia. - Ela disse sem graça e eu sorri.
- Ele vai acabar se acostumando. - Dei de ombros e selei meus lábios lentamente aos dela. - Madame. - Brinquei, abrindo a porta e oferecendo a mão como apoio.
- Obrigada, cavalheiro. - Ela disse, segurando minha mão e entrando no carro, eu ri e fechei a porta.

Fomos conversando com Charles durante todo o caminho até sua escola, ele era de fato bem menos tímido que a irmã, em dez minutos ele me contou sua vida inteira e automaticamente acabei descobrindo que ele e Betty eram irmãos apenas por parte de pai, já que ela e a mãe eram brasileiras e moraram no país de origem até 7 anos atrás. Quando seus pais se conheceram e eles se mudaram para cá, foi quando ela começou a ter algumas de suas aulas comigo.

- Charles, o papai passa para te pegar, está bem? - Ela conversava com ele, que esperava ela terminar para poder descer. - Não brigue, coma seu lanche direito, preste atenção e copie toda a matéria. - Ela disse, autoritária, e eu ri, Charles também deu risada.
- Tudo bem, Betty. - Disse arrastado, fazendo-me gargalhar, logo depois saltou do carro e fechou a porta.
- Não ria, ele acha que eu estou brincando. - Ela disse, emburrada.
- Eu tenho certeza que ele te respeita. - Eu sorri e coloquei a mão sobre a sua, fazendo um carinho suave, ela me olhou e sorriu abertamente.

Inclinei-me um pouco na direção dela e ela fez o mesmo na minha direção, coloquei a mão no seu rosto e fiz um carinho lento em sua bochecha, roçando o nariz no seu até colarmos nossos lábios e iniciarmos um beijo calmo, bom o suficiente para esquecermos das horas.
Estacionei o carro no gramado e desci do carro antes dela, abri sua porta e a ajudei a descer. Juntei seu material e coloquei nossas mochilas em meu ombro, ela segurou seu fichário e eu peguei seus livros antes de fechar a porta e ativar o alarme. Ela estava abraçada ao material, olhando-me timidamente, sem saber o que fazer. Eu segurei seus livros com um dos braços, guardei a chave no bolso da calça e estendi a mão até ela. Elizabeth respirou fundo e me deixou entrelaçar os dedos aos seus. Logo as pessoas começaram a se voltar para nós dois, caminhávamos sem olhar para os lados, sabiamos que isso iria incomodar, por mais que fingíssemos que não.
Elizabeth apertava minha mão constantemente a cada passo em direção ao refeitório, as pessoas no corredor nos olhavam e comentavam sem discrição alguma, não faziam questão nenhuma disso. Paramos nos armários e abandonamos parte do material ali, depois voltamos a nos dirigir à cantina. As portas se fecharam atrás de nós e uma exclamação muda ecoou o ambiente. Eu senti meus joelhos cederem um pouco, Elizabeth estava gelada e eu podia sentir sua tensão apenas de segurar sua mão.
Saímos do refeitório e sentimos como se parte do peso em nossas costas houvesse caído, havia um pouco menos de gente ali, ainda assim o pouco que tinha nos encarava com incredulidade. Eu tive vontade de dar risada assim que a tensão passou. wow, éramos a novidade da escola.

- Eu acho melhor não. - Ela disse, vendo que eu a levaria até a mesa dos garotos.
- Por quê? - Eu perguntei, apertando sua mão devagar.
- Eles não gostam de mim. - Ela disse, receosa.
- Eles não te conhecem. - Eu disse e dei de ombros. - Venha, eles não vão te fazer nada.

Elizabeth cedeu e voltou a caminhar junto de mim, um passo atrás, tentando se encolher nas minhas costas, eu sorri divertido ao perceber isso. Os garotos me olhavam, pedindo explicações com suas expressões espantadas, eu sorri para eles e, assim que parei próximo à mesa, eu passei meu braço pelos ombros de Elizabeth.

- Guys, essa é Elizabeth; Betty, esses são Sweet Pea, Fangs e Archie . - Apontei de acordo com a ordem dos nomes e ela sorriu fraco.
- Olá. - Ela disse, baixo.
- Oi, Betty. - Fangs disse, sorrindo de lado. Os outros dois apenas acenaram, sorrindo também.
- Venha, vamos nos sentar. - Eu disse, sentando-me e dando espaço ao meu lado para ela fazer o mesmo, encolhida em meus braços.
- Er... vocês dois estão juntos, então. - Sweet Pea comentou, olhando-me sugestivamente.
- Estamos, não é? - Olhei para ela, que sorriu tímida e assentiu.
- Legal. - Fangs disse, sorrindo, eu sorri para ele e a apertei no braço.
- Cara, desculpa interromper o momento, mas eu estou... fodido. - Archie disse, um pouco constrangido por falar isso perto dela, que riu baixo.
- O que aconteceu, mate? - Eu perguntei, rindo.
- Eu tenho uma prova de Física e eu não sei nem a fórmula de Baskara. - Eu olhei para Fangs e para Betty, que começou a rir, acompanhando nós todos, exceto Archie .
- Cara, Baskara é em Matemática, só para te avisar. - Sweet Pea disse rindo.
- Ah, que seja, eu disse que eu não sabia a fórmula! - Deu de ombros e eu gargalhei.
- Que matéria que é? - Fangs perguntou.
- Alguma coisa com eletricidade. - Archie disse, escondendo o rosto nos braços.
- Eletromagnetismo? - Elizabeth perguntou e Archie ergueu a cabeça.
- Isso. - Ele disse, olhando para ela.
- Se quiser, eu posso tentar te ensinar. - Ela disse com os ombros encolhidos. - Eu fiz prova disso segunda-feira.
- Sério?! - Ele perguntou com um sorriso psicótico no rosto e ela assentiu.

Fangs trocou de lugar com Archie e Betty comigo, ficando assim entre mim e Archie . Ficamos ali um tempo até o sinal tocar, Archie parecia ter entendido o que ela havia explicado, por mais que o tempo tenha sido escasso, ele poderia completar ao menos alguns exercícios.
As aulas passavam e eu estava totalmente alienado àquele ambiente, aquelas pessoas que me olhavam tachando coisas maldosas em suas mentes vazias. Eu não me importava, eu realmente não iria mais dar importância a coisas que não tinham, eles não mereciam tanto valor, tanta atenção. Eu estava disposto a apenas ignorá-los e ensinaria Elizabeth a fazer o mesmo, ainda que isso custasse dias difíceis.
Sorri sozinho ao me lembrar dela, o que se passava com meu coração que apenas de citar seu nome mentalmente ele disparava feito um idiota, louco para sair pela boca? Será que ela também se sentia assim? Sorri mais ao imaginar que sim. Betty era vaga para mim, impenetrável. Eu não conseguia saber o que se passava pela cabeça dela, ela não me deixava saber, ela não parecia se importar, mas quando eu me permitia demonstrar ela parecia corresponder. Será que Betty sentia por mim o mesmo que eu sentia por ela? O que eu sentia por ela?

Betting Her - Adaptação BugheadOnde as histórias ganham vida. Descobre agora