Cap.58 ''And I don't wanna lose you" - Don't Let It Go To Waste - Matt Willis

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Estava tudo bem, quando eu parava pra pensar. Não era como se a vida estivesse perfeitamente fácil, mas quando restava um minuto do meu dia para mim mesmo, eu me sentia bem. O que dava pra mudar, havia sido mudado. Meu pai não estava em casa, e não deixou nem um pound para ajudar, mas estávamos nos virando e descobrindo, aos poucos, que não precisávamos dele, e não havia sensação melhor que essa. Mamãe estava saindo, Jellybean estava namorando um cara a cada semana, mas agora elas pareciam melhor, mais fortes. A banda tinha tudo para dar certo, desta vez, e estávamos tentando não ceder ao medo e pensar que, finalmente, seria diferente e valeria muito a pena. Elizabeth e eu, bem, estávamos juntos, de alguma maneira. Não pedi que ela voltasse a namorar comigo, nem que deixássemos nada exposto frente a escola ou a quem quer que fosse. Estávamos nos encontrando quando tínhamos tempo, e aos poucos recuperaríamos nossa relação. Eu não sabia muito sobre sua mãe, Veronica quem me dava informações, e tudo parecia não sair do lugar, embora tenham sido feitos alguns exames que a família conseguiu pagar com um dinheiro arrecadado na igreja a qual frequentavam, todos davam o mesmo resultado, a cirurgia precisava ser feita, a quimioterapia não solucionaria o problema por completo. O dia do festival chegou, eu mal consegui dormir e antes das oito estava em pé. Ajudei mamãe com o café da manhã enquanto trocava mensagens com Angie, estávamos esperando um caminhão alugado para levar o que faltava para a escola, a maior parte das coisas já tinha sido deixado lá na noite passada, o palco também havia sido montado e decorado. O lugar onde ficariam as barracas já tinha sido definido, e o material estava todo lá, teríamos de montar tudo até as quatro, horário em que abririam os portões para o público. Tudo parecia bastante organizado, embora houvesse muito trabalho a ser feito. Acordei os caras pra irmos com Angie até a escola, alguns membros da equipe também apareceram lá por volta das 10h e, por volta do meio dia, o campus estava quase todo pronto, a maioria das pessoas que tinham dado o nome na lista para participar estavam realmente lá, ajudando em tudo o que era possível. Pedimos o almoço no restaurante mais próximo, e aproximadamente 14hrs o diretor chegou para ver como estavam as coisas. Depois me chamou para conversar, explicando que parte do lucro ficaria para o colégio, já que ele estava emprestando o espaço e a energia.
- Olha... Sr. Dawson... – Cocei minha nuca e depois minha bochecha, sem saber direito como falar que ele estava sendo um filho da puta sacana – Não era o que tinha ficado combinado... - Jug, concorda comigo que estamos gastando com todo esse projeto...
- Sim! E o senhor concorda comigo que não foi esse o combinado? – Eu não queria me alterar, mas o dinheiro não era pra mim, e eles não precisavam daquele lucro, era a escola mais bem remunerada de Riverdale.
- Concordo, é claro, mas eu andei fazendo umas contas...
- Quanto por cento o senhor quer? – Perguntei, com os dentes trincados.
- 50%? – Arqueei as sobrancelhas e apoiei minhas mãos na mesa, me levantando.
- De jeito nenhum! – Ele pareceu assustado. - Jones, por favor, sente-se, vamos negociar.
- Não, não vamos, se o senhor for ficar com 50% do dinheiro eu saio daqui e desmancho tudo aquilo, nem que seja sozinho! Se o senhor quiser 20%, tudo bem, eu não tenho o que fazer, já que a autoridade não é minha, mas nada além disso... O senhor sabe muito bem pra que serve esse dinheiro, o senhor sabe que tem grande importância, e que a escola não precisa...
- Jughead, eu obviamente vou precisar explicar aos proprietários da escola as diferenças no orçamento...
- O senhor me disse que o projeto tinha sido apresentado a eles, aquelas assinaturas são falsas? – Meu tom transbordava sarcasmo, ele engoliu em seco e respirou fundo.
- Tudo bem, 30%, apenas para ajudar nos gastos.
- 20%! – Insisti.
- 25%.
- 25% – Concordei – Sabe, Sr. Dawson, eu fui egoísta por muito tempo, fiz isso com maestria por longos anos e nunca me senti mal, mas quando eu me deparei com a realidade eu fiquei sem dormir por noites... Espero que o mesmo aconteça a você. Ele não parecia querer responder, seus olhos desafiadores perderam o brilho e desviaram, em direção a janela de sua sala. Empurrei a cadeira para o lado e saí, querendo arrancar aquela porta e jogar encima dele. Continuei andando, com passos rígidos e punhos cerrados. Vi Betty a distância, ela andava desajeitadamente, carregando uma caixa de papelão grande que me pareceu pesada. Aos poucos meu coração adotou um ritmo calmo, receptivo.
- Psiu! – Ela, que parecia ainda não ter me visto, virou seu rosto em minha direção e deu um sorriso aliviado – Quer ajuda?
- Por favor! – Exclamou, andando depressa até mim e me entregando a caixa.
- Nossa, o que vai na receita de seus doces? Tijolos? – Betty riu, passando seu braço pelo meu e me acompanhando até a barraca dos doces, não demonstrou dar importância ao olhar surpreso de todos, agiu com tanta naturalidade que quem se incomodou fui eu.
– Oi, Veronica.
- Oie! – Exclamou, acenando alegremente enquanto arrumava alguns doces dentro de uma estufa de vidro – Toma, prova um! – Estendeu uma bolinha que aparentava ser de chocolate.
- O que é isso? Chocolate? – Perguntei, sentindo o cheiro forte e adocicado.
- Se chama brigadeiro. – Betty quem respondeu, encostada à barraca com os braços cruzados dentro de um sweater listrado.
- Brigad...êuro? – As duas gargalharam e eu dei de ombros, colocando o doce todo na boca – Hhhhhhhmm... Hmmmmmm! – Fechei os olhos, rebolando e fazendo graça, senti o tapa ardido da mão de Betty em minhas costas, depois seus braços ao redor da minha cintura.
– Isso é muito bom! – Falei, sentindo o rosto de Betty deitado em meu peito.
- Obrigada. – Sorriu, fechando os olhos, olhei pra Veronica sem entender muito, ela deu de ombros e eu retribui o abraço de Betty, afagando seus cabelos. - Bom, vocês querem a ajuda de um macho aqui? Daqui a pouco tenho que ir lá abrir os portões.
- Acho que não precisamos de macho nenhum aqui. – Veronica respondeu, Betty riu e ergueu seu rosto em minha direção, sorri e me inclinei um pouco para poder depositar um beijo em seus lábios.
- Então eu vou resolver o que falta e depois passo por aqui, se sobrar bigradeurno guardem pra mim. Betty e Veronica gargalharam mais uma vez enquanto eu me afastava, sorrindo e me sentindo repentinamente aquecido. Passei pelas barracas, agora prontas para começar as vendas, e depois pelo palco, onde Fangs e Sweet Pea verificavam uma última vez a afinação dos instrumentos. Eles decidiram que deveríamos fazer, não somente a apresentação final, mas também a abertura. Eu estava sujo e com cara de cansado, aliás, eu estava cansado, mas não tinha como recusar e fingir que eu não era membro da banda, além do mais eu já ia ter que dar o discurso inicial, o que seria tocar uma ou duas músicas.
- Olá, pessoal, boa tarde – Ouvia alguns assovios e palmas, sorri, com os polegares erguidos em agradecimento – Venho dar boas-vindas a todos os que estão aqui hoje, tanto a equipe de colaboração quanto ao público que veio assistir esses músicos incríveis que irão passar pelo palco hoje, espero que vocês tenham um momento muito divertido conosco! – Esperei até que os aplausos cessassem para nos apresentar – Eu sou Jughead Jones, e nós somos a banda McFLY! – Alguns gritos fez com que eu e os meninos dessemos risada, acompanhei a contagem das baquetas e então começamos a introdução de That Girl. Assim que desci do palco comecei a verificar se tudo estava correndo bem nas barracas. As vendas pareciam estar acontecendo, principalmente para Angie e seus barris de chopp. O diretor também estava lá, observando se as identidades eram apresentadas corretamente antes da venda da bebida. Parei ao lado de Fangs, vendo uma banda de rock clássico se apresentar. Eles eram bons, quis comentar, mas me mantive em silêncio.
- Nossa audição é daqui duas semanas. – O ouvi dizer, meu estômago guinou ansioso e eu cruzei meus braços sobre o peito – Está com medo?
- Não... – Neguei, ainda olhando para o palco – Acho que sabemos exatamente o que queremos agora, Fangs, e nós somos bons, não há o que temer.
- Nunca imaginei você me dizendo isso... – Nós rimos e eu dei de ombros.
- Acho que o que faltou esse tempo todo e confiança em fé em nós mesmos, todos acreditavam em nossa capacidade, exceto por nós.
- Sweet Pea não está incluso, ele sempre se achou o melhor do mundo. – Dei risada e abracei Fangs pelos ombros.
- E ele é, nós somos os melhores do mundo... Se não acreditarmos nisso, ninguém apostará em nós.
- Você tem razão... Tem toda a razão. O festival durou exatas cinco horas, todos os tipos de música foram apresentadas, para todos os gostos. Subimos no palco novamente por volta das 8 horas da noite, quando já não havia tanta gente, mas o pouco que estava lá nos bastava, fazia valer a pena.
- Bom, pessoal, quero agradecer muito a presença de todos, a colaboração e a boa vontade... Ao respeito, principalmente. Podem acreditar, isso tudo vai valer muito a pena, então muito obrigado! – Sorri, ouvindo os aplausos isolados, então comecei a dedilhar o violão
– Quero me despedir com um cover, que eu ofereço a muitas pessoas aqui, hoje, pessoas por quem tenho muita admiração e ofereço toda minha lealdade... Mas principalmente a uma pessoa, que não é surpresa pra ninguém, mudou minha vida e todas as minhas escolhas, quero oferecer essa música do bom e velho James Taylor à Elizabeth, e dizer que, em momento algum da sua vida, você estará sozinha, não enquanto eu estiver vivo. Pelos seus olhos, ela não esperava por aquilo, sorri em sua direção, ela fez o mesmo. O pessoal assoviava e gritava frases de entusiasmo e apoio. Introduzi You've got a friend. Eu e os garotos raramente tocávamos esses covers em festas, eram geralmente apresentados quando estávamos reunidos só entre amigos, depois de muita bebida. As pessoas pareciam ter gostado, e tanto Elizabeth quanto Veronica, ao seu lado, estavam emocionadas, o que fez com que eu me sentisse realizado. Por volta das nove e meia o gramado estava quase todo vazio, não fosse por algumas pessoas que recolhiam suas coisas da barraca e passavam nos entregar a parte do dinheiro que pertencia a doação.
- Ual! – Betty se acercou, afastei meu cabelo pra trás, sentindo-o suado e oleoso – Foi ótimo.
- Sim, deu tudo certo, nem acredito. – Sorri, sentindo-a envolver meu quadril entre seus braços – Estou completamente suado e sujo, Betty.
- Não tem problema, estava com saudade. – Sorri e rocei meu nariz em sua bochecha.
- Eu te convidaria para sair, mas hoje eu preciso dormir. – Ela me olhou e acariciou minha bochecha de leve.
- Vamos pra sua casa, podemos colocar um colchão na sala onde sua mãe possa ver que não estamos desrespeitando seu lar e dormimos, só dormimos.
- Por mim está ótimo, eu vou precisar ficar aqui mais um tempo para resolver a questão do dinheiro com o diretor, mas quando eu sair daqui passo te buscar, pode ser?
- Tudo bem, eu te espero lá, boa sorte por aqui e qualquer coisa me liga. Sorri e segurei seu rosto entre minhas mãos, pressionando meus lábios contra os seus, Betty sorriu após retribuir o beijo rápido. Plantei um beijo em sua testa e depois me afastei, pegando a mochila de dinheiro na escada do palco e me encaminhando para a sala do diretor, onde ele já me esperava. Começamos a contagem do dinheiro, era mais do que eu costumava ter em mãos, percebi. Muito mais. A cada novo monte de mil libras eu sentia um alivio indescritível. O cansaço, a dor de cabeça e nas panturrilhas, os riscos que corremos, havia valido a pena. Totalmente. Havíamos arrecadado £13.129,00. Era muito dinheiro. Descontando a (maldita) porcentagem do diretor restava £10.500,00. Torci para que aquelas três mil libras não fizessem falta e devolvi o dinheiro na mochila, me despedi do diretor, ainda com aversão e deixei sua sala, era quase onze da noite. No estacionamento só havia meu carro, o do diretor e de Sweet Pea, ele e Valerie estavam lá dentro, Elizabeth encostada na porta, do lado de fora. Contraí o cenho, Sweet Pea adotou uma expressão que queria me dizer algo, mas eu não sabia exatamente o que... Só sabia que algo havia acontecido.
- Jug, posso falar com você um minuto? – Ela pediu, sua voz não parecia a mesma daquela garota que estava sugerindo uma noite de sono juntos.
- Pode, claro. O que aconteceu? – Ela se acercou, deixei a mochila no banco do passageiro do meu carro e depois fechei a porta, me encostando a ela e sentindo meus músculos doloridos.
- Eu é quem pergunto, o que aconteceu na última noite no resort? – Respirei fundo, deitando minha cabeça pra trás com as mãos sobre o rosto, de novo, pensei.
- Betty, já não conversamos sobre isso? - Perguntei, demonstrando toda a minha exaustão em meu tom de voz.
- Eu quero que você me diga a verdade, Jughead... Pelo menos uma vez, tente me dizer a verdade, quero ouvir da sua boca! – Meu coração batia com força, como se tivesse maior e mais pesado, traguei a seco e olhei para meus pés.
- O que você sabe? – Ergui meus olhos, sem fazer o mesmo com a cabeça, examinando seu rosto enfezado.
- O que você sabe? – Ela repetiu minha pergunta, cruzando os braços abaixo dos seios. - Tudo bem, você não quer entrar no carro... - Jug, o que aconteceu naquela noite?
- Ok... – Engoli em seco e, depois de esfregar meu rosto e meus cabelos, imitei seu gesto e cruzei meus braços de maneira apertada, defensiva – Estávamos conversando, depois que você saiu de lá com Veronica, Archie se aproximou e nós deitamos na areia, acabei dormindo por lá, só acordei quando a própria Veronica veio me chamar, aos berros, dizendo que você e Chuck tinham sumido e que ela temia por você, porque Chuck estava bêbado e você ainda mais... – Betty quis desviar os olhos, mas os meus continuaram fixos nos seus, era difícil contar que eu novamente havia mentido, mas eu estava anestesiado pelo cansaço e a felicidade de ter conseguido uma quantia considerável para ajudar sua mãe, era o que eu podia fazer por ela naquela noite – Eu rodei o resort três vezes, procurei em todos os cantos possíveis, invadi apartamentos, acordei todo mundo que te conhecia pra me ajudar, eu nem sei por quanto tempo fiquei te procurando sem ter sucesso algum, até Moose se lembrar que eles costumavam ir à uma sauna interditada pra usar droga ou algo do tipo, e quando cheguei lá... – Pisquei com força, me recordando da cena com uma nitidez impressionante, fazia parecer que eu ainda estava lá – Você estava com Chuck lá, com seu maiô abaixado até a cintura, desacordada... – Os olhos de Elizabeth estavam úmidos há algum tempo, e naquele momento transbordaram com facilidade – Eu não sei o que aconteceu antes de eu chegar lá, eu não sei se ele fez algo contigo ou não, eu fiz o que estava ao meu alcance. O meu ódio era tanto, Betty, que se os caras não tivessem chegado lá eu não sei o que teria feito com Chuck, eu destrocei o rosto dele, e poderia ter feito pior se tivesse tido tempo... – Ela negou com a cabeça e apertou as palmas contra os olhos.
- Por que você não me disse nada disso? – Sua voz estava embargada, desafinada.
- Porque eu não queria ver você sofrendo assim... – Falei, meu tom saiu baixo, dolorido – Eu preferia que você pensasse que tinha dormido comigo, não é como se nunca tivéssemos dormido juntos antes, eu não queria que você se sentisse culpada pelo que Chuck fez... – Elizabeth retirou as mãos do rosto, estava chorando, seus olhos pareciam cansados.
- Eu não suporto mais suas mentiras pra me proteger... – Crispei meus lábios, pressionando-os um contra o outro, sem saber o que dizer ou como me desculpar, eu só queria ir pra minha casa.
- Quem te contou? - Chuck. – Arqueei as sobrancelhas – Ele disse que me levou pra lá com a intenção de transar comigo, mas que não fez isso... Quando eu dormi ele parou, e estava bêbado demais pra me carregar de volta ao quarto, então ficou lá esperando até que eu acordasse, ou que ele dormisse... – Um alívio inundou meu corpo, eu quase sorri, se não fosse uma situação tão complexa.
- Fico feliz que ele não tenha feito nada, o que não faz com que eu o odeie menos, mas também achei legal da parte dele ter te contado. – Admiti, envergonhado.
- Coisa que você não fez. – Neguei com a cabeça, eu queria dizer que eu sabia de tudo o que ela estava passando e não achava justo trazer mais problemas e assuntos que a deixariam perturbada.
- Eu não fiz e, de fato, foi com a intenção de te proteger, sinto muito que não tenha funcionado, Betty, eu sinto muito mesmo. – Ela concordou com a cabeça, depois fungou. - Eu vou pra casa, nos falamos outra hora... – Elizabeth ameaçou virar-se e se afastar, mas antes que pudesse fazê-lo me desencostei do carro e segurei seu pulso.
- E nós? Como ficamos depois disso? – Ela me olhou com pesar, depois soltou um suspiro longo.
- Sinceramente? Não sei... Me deixa ir pra casa, quando eu achar que devo, te procuro.
- Tudo bem... – Concordei com a cabeça e soltei seu pulso, sem confiar de que ela realmente me procuraria.
– Me desculpe.
- Vou tentar, Jughead.

Betting Her - Adaptação BugheadOnde as histórias ganham vida. Descobre agora