Cap.47 "And you won't be alone, I am beside you" (Angels & Airwaves)

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- Jug, abre aqui pra mim!

Ouvi a voz de Angie, meio distante, do outro lado da porta. A luz do banheiro, com mal contato, fazia da iluminação tremida. Olhei meu vômito escuro dentro do vaso, e na borda dele. Limpei o suor da minha testa e meu buço, tentando controlar a náusea.

- Jug! Você 'tá me deixando preocupada, o que aconteceu?

O que aconteceu? Estremeci. A mãe de Elizabeth estava doente. Tão doente que eles se quer sabiam se ela conseguiria se curar. Minha mente estava bloqueada enquanto eu tentava pensar em uma saída, ou em uma maneira de aproximação. Eu precisava me tornar presente, mostrar que, apesar de tudo, eu não iria abandoná-la jamais, ela não estava sozinha, e precisava saber disso.

FLASHBACK ON:

- Descobrimos há pouco tempo que ela tem câncer de mama, mas as células se espalharam para o pulmão... - Eu não podia responder, eu não queria dizer nada, eu estava assustado - Eles chamam isso de câncer metastático, é quando o câncer se alastra de um lugar para outros. - Eu queria perguntar uma imensidão de coisas, mas não conseguia conectar uma palavra em outra - Ela começou o tratamento de quimioterapia na semana passada, mas ela precisa passar por uma cirurgia o mais rápido possível... Não é uma cirurgia simples, Jug, e não pode ser feita em Bolton, nosso plano de saúde não cobre os gastos nessa clínica pra onde ela precisa ser levada, e eles nem sabem se ela... - Ouvi Sr. Cooper fungar, e então notei que ele começava a chorar, trinquei meus dentes, sentindo uma queimação exacerbada em meus olhos e narinas - Eles nem sabem se minha mulher vai sobreviver à isto.
- Ela vai! - Afirmei, tentando acreditar nisto também, de repente eu parecia bêbado, minha língua dormente e pouco sensível – Nós temos que acreditar que sim, Sr. Cooper, temos que ter fé. - Apoiei a mão em seu ombro, apertando-o em sinal de apoio - E quanto ao dinheiro, não se preocupe, nós vamos dar um jeito.
- Não se preocupe com isso, filho. - Respondeu, me olhando - Só quero que esteja ao lado de Elizabeth, pois eu sei que ela vai precisar.
- Eu estou sempre ao lado dela.

FLASHBACK OFF.

Puxei a descarga e enrolei um pouco de papel higiênico na mão, limpei minha boca e os olhos úmidos, depois o rosto. Saí da cabine e andei um pouco desnorteado até a pia, lavando meu rosto pela terceira vez. Após enxugá-lo, abri a porta. Angie estava encostada na parede da frente, com cara de poucos amigos.

- Posso saber o que aconteceu?
- Pode...

Contei à Angie tudo o que Sr. Cooper acabara de me dizer. Eu precisava compartilhar aquela informação com alguém, e, de alguma maneira, eu sabia que ela teria a coisa certa a dizer, eu não estava enganado. Eu não devia forçar uma aproximação com Elizabeth, não naquele momento tão conturbado. Eu precisava ser paciente e ajudar por fora, sem que ela soubesse, do contrário, talvez não permitisse, ou achasse até que era apenas para impressioná-la.
Eu precisava daquele dinheiro, não era muito, mas era mais do que eu conseguia em um mês de trabalho, e a urgência não me permitia ter paciência. Eu precisava do meu carro de volta.

- W324 PXL. - Repeti novamente a placa do meu carro ao amigo de Angie, um magricela de cabelos ruivos.

Ela havia me prometido que ele nos ajudaria a encontrar o carro. E de fato, pouco tempo depois, sem ter idéia de como isso havia sido conseguido, eu tinha em mãos o endereço do posto de gasolina onde meu carro era abastecido pelo menos duas vezes por semana. Eu queria ir naquela mesma noite, mas Angie não permitiu. Me levou pra casa e pediu pelo amor de Deus que eu fosse descansar.

- Mãe, posso falar com você? - Perguntei, parado à porta do quarto de minha mãe, que fechou seu livro e retirou o óculos do rosto, concordando levemente com a cabeça.
- Aconteceu alguma coisa? - Concordei com a cabeça, me sentando na beirada da cama.
- A mãe da Betty 'tá muito doente, mãe. - Contei, coçando a nuca - Ela tem câncer de mama, e ele se espalhou, eu não sei como se chama, eu me esqueci, mas... Ela... Ela 'tá mal, e ela precisa fazer uns exames caros, e uma cirurgia mais cara ainda...
- Calma, Jug, calma, fala devagar! - Mamãe pediu, empalidecida.
- Mãe, eu preciso ajudar... - Falei, sentindo que a que a qualquer momento eu poderia chorar, talvez fosse o cansaço mesclado com a má alimentação e o whisky – Preciso ajudar, eu não sei como, mas... Eu não posso fingir que nada aconteceu.
- Calma, filho, olha... - Mamãe umedeceu os lábios, mas ela também não sabia o que dizer, por isso me abraçou com força, fechei meus olhos da mesma forma, eu temia tanto por Elizabeth, eu apenas gostaria de saber como ela estava naquele momento - Nós também não temos muito dinheiro agora, mas você pode falar com a Angie, e você pode tocar lá, daria algum dinheiro, como um evento beneficente...

Enquanto mamãe falava, afagando meus cabelos, me livrei do tênis e me encolhi sobre sua cama. Uma angústia ainda maior me acometeu quando passou pela minha cabeça que pudesse ser minha mãe. A vulnerabilidade veio com maior facilidade ao pensar sobre isso, me fez recordar a fase ruim pela qual passamos, a barra que tivemos de segurar. Mas apesar de tudo, por um momento, eu quis estar no lugar de Elizabeth, apenas para poupá-la daquela dor, daquele sofrimento.

- Um evento beneficente! - Exclamei, me sentando melhor e olhando para minha mãe, que parecia assustada, notei que eu estava cochilando, e ela provavelmente estava também - Eu posso falar com os caras, e com o diretor, podemos usar a quadra do colégio e fazer um festival de música, e o dinheiro arrecadado vai para a mãe da Betty.
- Viu só? É uma ótima idéia, filho. - Sorriu daquela forma maternal - Por que você não toma um banho, agora, e descansa?
- É, vou fazer isso.

A noite parecia não passar, como se os ponteiros estivessem travados em alguma parte, impedindo que o sol viesse, e que eu pudesse me levantar daquela cama e tentar, com a luz do dia, me livrar daquela angústia. Como se isso realmente pudesse acontecer. Pensei em mil e uma maneiras de me acercar de Elizabeth, oferecer-lhe meu apoio, minha ajuda, um abraço, talvez. Mas ela não me daria abertura, e eu estava certo disto.

- Veronica, posso falar com você? - Pedi, assim que me acerquei o suficiente para que minha voz pudesse ser ouvida por ela, todos eles se voltaram em minha direção, exceto por Elizabeth, que desviou seus olhos para o outro lado.
- Pode? - Respondeu, Veronica, com estranhamento - Vamos... - Ela se acercou e eu comecei a andar para o lado oposto, tentando apagar da minha mente as olheiras escuras de Elizabeth - Aconteceu alguma coisa?
- Eu já sei sobre a mãe da Betty. - Murmurei, temendo que alguém pudesse nos ouvir, mesmo que já houvesse alguma distância.
- Sabe? Como sabe? Quem te contou, Jug? - Ela perguntou, rapidamente, parando de anda.
- Hey, calma! - Pedi, olhando-a de esguelha.
- Calma? A gente tem mantido isso sob os panos porque as pessoas não sabem como lidar o sofrimento alheio, iriam zombar dela, como sempre fizeram e ela já...
- Veronica! - A segurei pelos ombros, tentando interrompê-la com isto - O pai dela me disse.
- Ah, por favor, meu tio não conversou com ninguém sobre isso, é como se ele nem soubesse de nada... - Aquilo me pegou de surpresa, mas não permiti que Veronica desvirtuasse minha atenção.
- Veronica, seu tio foi ontem à noite no pub, e ele mesmo me contou, talvez precisasse desabafar, estava um pouco bêbado também, me contou sobre tudo, ok? Eu estou falando a verdade! - Falei pausadamente, ainda segurando-a pelos ombros, como se isso fosse fazê-la entender e manter-se calma.
- Tudo bem, então... - Veronica esfregou o rosto - O que você quer saber mais? Se ele te disse tudo...
- Eu quero saber como ela está, se ela 'tá precisando de alguma coisa, eu preciso... Preciso que você me diga, porque ela não vai deixar que eu me aproxime...
- Jug, como você quer que ela esteja? - Veronica foi hostil, mas não me senti ofendido por isto - Ela tem sido a pessoa mais forte do mundo dentro de casa, ela está cuidando da mãe, de Charles, e do meu tio também, então enquanto ela está lá, ocupada com eles, ela se mantém firme, porque ela não pode fraquejar... - Assenti, sentindo o peso do que ela dizia em meus ombros - Mas quando ela sai de lá, ela não sabe o que fazer, ela desaba, Jug, e ela precisa de muito apoio agora, ela precisa se distrair, e foi por isso que ela se apegou ao Chuck, porque ele sempre propõe um programa, então ele tira ela de casa, e embora seja difícil convencê-la que ela precisa disso, ela acaba saindo e se distraindo... Entende?
- Eu não confio no Chuck, Veronica. - Murmurei, entre dentes, serrando minhas mãos em punhos - Eu não o quero perto dela.
- Nem eu, mas agora não tem nada que possamos fazer, é um momento ruim, não posso dizer a ela o que aconteceu aquela noite...
- Não quero que diga! - Exclamei - Nunca quis... - Deixei claro e esfreguei meu cabelo com uma das mãos - Mas... Deixa pra lá, Veronica, eu vou... Cuide dela, ok? Só cuide dela por mim.
- Eu já estou fazendo isso...
- Sim, eu sei... - Fechei meus olhos e respirei fundo, depois voltei a olhá-la - Me mantenha informado, por favor.
- Eu farei isso, Jug, se acalme.
- Ok, obrigado. - Assenti e comecei a andar, devagar, para o lado contrário. - Jug! - Ela me chamou e eu me virei pra trás, o sol me fez semicerrar os olhos, Veronica contraiu o cenho e engoliu em seco, pude ver - Me desculpa.
- Pelo que? - Neguei com a cabeça, confuso.
- Por ter estragado tudo.
- Não foi você quem estragou tudo... - Sorri, sem humor - Fui eu.

Betting Her - Adaptação BugheadOnde as histórias ganham vida. Descobre agora