Cap. 55" Give me reason, but don't give me choice" (James Blunt)

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- Jughead! - Abri os olhos, mas não me movi, era como se eu tivesse acabado de fechá-los para dormir - Jughead, acorde, já está atrasado! - Meu raciocínio lento tardou a me lembrar do meu compromisso.
- Já estou acordado. - Falei, sem a menor vontade de me levantar da cama, mas mesmo assim afastando o edredom e o cobertor de cima do meu corpo.
- Ande logo! - Minha mãe exclamou enquanto eu caminhava lentamente em direção ao banheiro - Jughead, seja rápido.
- Calma, já vou!

Não sei o que foi mais difícil, entrar, ou sair do banho. Enquanto escovava os dentes e tentava dar um jeito no cabelo, eu pensava no frio que devia estar fazendo lá fora. Eu podia ouvir os assovios do vento e a chuva não havia parado desde a noite anterior. Falando na noite anterior, Angie não fora nem mesmo um pouco complacente, não me liberou nem um minuto mais cedo, como eu havia pedido para poder descansar, pelo contrário, me pediu ajuda para fechar o pub. Eu não sabia o que podia estar acontecendo, mas às vezes, por mais absurdo que isso possa parecer, eu achava que Angie estava com ciúme de mim. Se eu não a conhecesse e não soubesse que ela é fria em questão de sentimentos, eu com certeza diria que não passava de ciúme.
Saí do banheiro carregando comigo minha escova de dentes, o desodorante, um frasco de perfume e uma pasta para o cabelo, joguei tudo encima da cama e me apressei um pouco mais. Vesti primeiro a camiseta, tentando me livrar do frio no peito e nas costas, depois a calça jeans e o sweater com listras largas horizontais que variavam de cinza gelo para azul claro.

- Coloca um casaco mais quente, só esse sweater não vai dar pra nada, está frio lá fora. - Mamãe dizia, encostada ao batente da porta.
- Vou por uma jaqueta, mãe.
- Põe um sobretudo.
- Vou por a jaqueta, já guardei o sobretudo na mala, não quero abrir ela pra mais nada, se não vai ser outra luta pra fechar. - Falei rápido, enquanto calçava as meias e meu all star o mais rápido que eu conseguia.
- Ok, calma. - Ela defendeu-se, suspirei, guardando o que faltava na bolsa de fora da mala.
- Estou calmo. - Peguei a jaqueta de couro, pendurada sobre o respaldar da cadeira, e a vesti, ajeitando-a no corpo enquanto procurava, com os olhos, meu gorro cinza.
- Parece ansioso agora. - Dizia ela, eu tentava não me irritar, mas era inevitável que meu estômago queimasse com raiva por ela estar certa, eu estava ansioso, não uma a ansiedade boa, uma ansiedade angustiante, que me remetia a ter que passar três dias ao lado de alguém de quem eu queria distância naquele momento.
- Estou bem, mamãe. - Falei, quase com cólera, já colocando o gorro na minha cabeça e indo buscar minha mala para sair - Vou ligar para o táxi...
- Já está na porta... - Contraí o cenho - Eu chamei.
- Ah, ok. - Mamãe me seguiu escadaria abaixo, e tenho a impressão de que só não foi até o táxi por estar chovendo.
- Boa viagem... - Disse ela ao me abraçar de maneira confortável - Se cuide, e não se esqueça de ser gentil e educado, acima de qualquer coisa.
- Ok, mamãe. - Beijei sua testa - Farei o possível pra não me esquecer disso.
- Certo, qualquer coisa me liga.
- Ligo.
- Deus lhe acompanhe.
- Amém.

O taxista me ajudou com a mala e dirigiu com cuidado até a estação de trem. É, Elizabeth não queria ir de avião, iriamos de Eurostar. Não vi problema nenhum com isso, não fazia grande diferença pra mim. A tortura, na verdade, seria a mesma. Mas, de alguma maneira, a ansiedade foi ganhando uma proporção ainda maior no caminho, por um breve momento desejei que ela tivesse escondido de mim o que havia feito com Chuck, pois aquela viagem tinha sido muito bem planejada antes disto acontecer. Não era pra ser assim.
Desci do táxi somente quando o taxista já segurava minha mala do lado de fora do carro, entreguei à ele seu pagamento e comecei a me arrastar para dentro da estação, sentindo uma desordem momentânea em meu organismo, e em meus instintos. "Apenas seja firme", eu dizia à mim mesmo enquanto meus olhos procuravam por Elizabeth. Havia um trem parado, e eu suspeitei que fosse o nosso. Não devia demorar a partir e eu ainda estava perdido entre a multidão que andava de um lado para o outro, confundindo minha visão. E então, foi como se as pessoas desaparecessem, uma a uma, primeiro tornando-se borrões, e depois deixando de existir. Meu coração deu uma pausa, como se precisasse pegar impulso para, em seguida, palpitar ansioso. Lá vinha ela, atrapalhada entre andar, puxar suas malas e esticar seu pescoço fino, com os olhos estalados, buscando por mim, desconfiei. Havia algo diferente em seu cabelo, e em seu ar. Algo leve, encantador. E não fazia nem um dia inteiro que eu havia visto-a pela última vez.

Betting Her - Adaptação BugheadOnde as histórias ganham vida. Descobre agora