Cap.49 "I hate to look into those eyes and see an ounce of pain" (Guns N' Roses)

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- Bom dia, pessoal... - Minha voz trepidou, rouca, não por causa de toda aquela gente me olhando, mas o frio decidiu dar o ar da graça naquele dia - Estou aqui hoje pra anunciar pra vocês um projeto beneficente que eu estive preparando nos últimos dias... - Enquanto eu pensava em como explicar, notei os cochichos intensos por todo o anfiteatro, eu não os culpava, eu também estaria surpreso de me ver ali, comunicando sobre algo do tipo - Nós, da banda McFLY, em parceria com o pub Ducati e o diretor, estamos organizando um festival de música, será realizado no dia 20 de setembro, aqui na quadra do colégio... Todo o dinheiro arrecadado vai ser destinado a uma instituição que cuida de pacientes com Câncer... - Só quem sabia da verdade éramos eu, Angie e o diretor, ninguém mais precisava saber, desde que eles concordassem - Vocês poderão participar do festival de três maneiras... Vocês podem ajudar na organização, entretanto tem um limite, será uma equipe de 25 pessoas, nada mais... - Expliquei, e podia vê-los comentar uns com os outros - Vocês também podem montar barracas de comida, bebida, brincadeiras... Vai haver uma renda disponível pra isso, pequena, mas é o suficiente... E por fim, vocês podem se apresentar no palco principal, independente do estilo musical, é só colocar seu nome, ou o nome da banda, na lista, que vai ficar comigo, ou com os caras, ok? Alguma pergunta? - Ninguém se manifestou a princípio - Então, qualquer coisa é só me procurar, valeu. - Conclui e deixei o microfone ao lado sobre o púlpito, o diretor se acercou e começou um discurso como os de sempre, sobre como é bom ver os alunos dele se dedicando a algo tão gentil e coisas do tipo.
- Cara, que legal, você foi muito bem, tomara que dê certo! - dizia, empolgado, assenti preocupado com o tempo que parecia correr quando eu pensava sobre a mãe de Elizabeth, sobre a urgência com a qual eu precisava daquele dinheiro.
- Tomara mesmo.

Sorri fraco para meu amigo e depois me afastei. Ao sair do anfiteatro, vi Elizabeth sentada ao lado da porta, encostada na parede, com um gorro de lã verde cobrindo seus cabelos e suas orelhas, seus olhos estavam fechados, seus cílios úmidos. Suas bochechas estavam empalidecidas, assim como seus lábios ressecados. Meu coração doeu, doeu de uma maneira que parecia me sufocar, tirar toda minha felicidade, toda minha vivacidade. Me senti tão apático quanto ela.

- Betty... - Chamei seu nome, baixo, agachando-me ao seu lado, ela demorou até abrir minimamente seus olhos e focalizar meu rosto com eles - Está se sentindo bem?
- Estou... - Soprou, depois passou as mãos finas e trêmulas pelo rosto - Você me assustou. - Disse ela, voltando a me olhar, mas parecendo um pouco dispersa.
- Me desculpa... Achei que estivesse se sentindo mal. - Me justifiquei, ainda examinando seu rosto - E ainda acho que está.
- Já disse que estou bem. - Até seu tom hostil estava enfraquecido, respirei fundo e arqueei minhas sobrancelhas.
- Acho que vou te levar daqui pra você comer e descansar... - Eu disse, como se falasse comigo mesmo.
- Você não vai me levar pra lugar nenhum, aliás, me deixa sozinha, por favor. - Ela pediu, mas desta vez, não respeitei.
- Acho que não. - Neguei com a cabeça e me levantei - Vem, vamos comer alguma coisa...
- Por que você acha que eu vou pra qualquer lugar com você? - Perguntou subitamente, se levantando, mas da mesma maneira com a qual avançou, retornou e encostou-se a parede, Betty até tentou disfarçar, mas seus lábios tremeram e suas pálpebras demoraram a se abrir novamente, segurei-a pelos ombros, sentindo minha garganta secar.
- Porque você não está em condições de negar... - Murmurei, passando meu braço ao redor do seu corpo e começando a andar com ela apoiada em mim, mas de repente senti suas mãos me empurrarem, sem força.
- Me solta! - Pediu, encostando-se à parede.
- Betty, que teimosia! - Reclamei, vendo-a andar para o lado contrário.
- Eu não estou muito bem, mas estou em condições de negar qualquer coisa que venha de você, diferente do dia em que você dormiu comigo! - Exclamou, me calei, principalmente porque algumas pessoas começavam a sair do anfiteatro.
- Elizabeth... - Chamei, me acercando com calma - Eu não fiz nada com você naquela noite. - Esclareci, tentando criar uma estória diferente da que realmente tinha acontecido - Não aconteceu nada entre nós.
- Não minta pra mim! - Ela disse, virando-se em minha direção com os olhos mareados, neguei com a cabeça.
- Não estou mentindo, você estava muito bêbada, eu só te levei pro meu apartamento porque você 'tava passando mal, nada aconteceu, nós só dormimos, eu juro, juro por mim, pela minha mãe...
- Não faça isso! - Sua voz saiu mais alta, seus olhos estavam arregalados e suas bochechas ganharam um tom avermelhado, contraí o cenho - Não jure pela sua mãe, não faça isso, ela não tem nada a ver com as idiotices que você comete... - Ela apertou os próprios olhos, derramando algumas lágrimas, senti meu estômago gelar, me arrependendo do que havia dito – Ela não tem nada a ver com as suas mentiras e fraquezas!
- Tudo bem... Eu... Betty... - Segurei seus braços com cuidado, ela se encolheu instantaneamente - Por favor, me escute... Eu não fiz nada com você, eu seria incapaz...
- Mentira! - Bradou, abrindo os olhos avermelhados, contraí o cenho - Mentira, um dia antes você já tinha tentado!
- Betty... - Encolhi meus lábios e respirei fundo, ela tinha razão, não tinha motivos pra acreditar em mim - Eu... Eu fiz aquilo porque estava com raiva, mas... Mas naquela noite não houve nada, assim como eu não consegui concluir na noite anterior, Betty, eu seria incapaz de te machucar...
- Eu não posso acreditar em você de novo... - Negou com a cabeça, permitindo-se chorar.
- Jug! - Veronica se acercou, neguei com a cabeça, sem vontade de me explicar ou fazer qualquer coisa que não fosse abraçar Elizabeth - O que aconteceu?
- Explica pra ela que eu não faria isso com ela, Veronica, explica que eu não transei com ela aquela noite! - Pedi à garota, que abraçava Elizabeth pelos ombros e me olhava como quem pede clemência.
- Eu vou falar com ela, tá bem? Agora é melhor você ir. - Disse, de maneira gentil.
- Me deixa levar vocês pra casa, ela precisa comer alguma coisa, ela estava passando mal. - Murmurei, olhando de Veronica para Elizabeth, que encolhia-se nos braços da prima.
- Betty, vamos? Ele nos dá uma carona até sua casa...
- Não quero ir pra casa. - A ouvi sussurrar, com os olhos apertados.
- Vamos pra minha... - Sugeri.
- Você topa? - Veronica perguntou a ela, que pareceu descartar imediatamente a possibilidade.
- Por que não vamos pra sua? - Perguntou à Veronica, num sopro.
- Porque não podem saber que eu mato aula, Betty. - Esclareceu ela, com um sorriso divertido que fez Betty mudar um pouco sua expressão, não ia sorrir, mas pareceu querer tentar.
- Então por que não vamos até um restaurante qualquer? - Elas se entreolharam, depois depositaram sua atenção para mim novamente - Por minha conta! – Acrescentei.
- Tudo bem. - Elizabeth assentiu, sem vontade e voltou a acolher-se contra Veronica, que me olhou com um sorriso leve.
- Vamos, então.

Betting Her - Adaptação BugheadOnde as histórias ganham vida. Descobre agora