Cap.46 "And I don't know which way it's gonna go" (James Morrison)

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Me arrumei rápido e tive que esperar mais uns vinte minutos até mamãe e Jellybean ficarem prontas, para só então podermos ir pra casa do Fangs. Quando chegamos, tive a impressão de que só faltávamos nós três. Nossos amigos estavam todos lá, e assim que os caras me viram, nós imediatamente começamos a gritar e a nos abraçar, feito um bando de macacos. E foda-se o que o resto das pessoas estava achando daquilo, eu poderia chorar de felicidade naquele momento. Eu poderia mesmo.
Estávamos esperando tanto pelo momento que alguém nos cederia uma chance, por uma oportunidade como aquela que tínhamos em mãos, que era como se não houvesse problema algum em nossas vidas, pelo menos naquele dia, não havia absolutamente nada que pudesse atravessar nosso caminho com um pouco de tristeza ou decepção... Eu estava enganado.
A tarde passou rapidamente, até Veronica apareceu por lá junto com , para nos parabenizar, e acabaram unindo-se à Valerie. Confesso, a esperança de que Elizabeth também viesse parecia me engolir, mas ela não apareceu, não enviou uma mensagem, nem um sinal. Ela não se importava mais com isso, eu deveria saber. Angie também não foi, pelo menos não para ficar, apenas passou por lá para me apanhar, pois eu precisava trabalhar.
O movimento estava fraco aquela noite, talvez pela chuva forte, que parecia não ter a menor intenção de cessar. Não tão cedo. É claro que se a chuva fosse impedir algo na Inglaterra, ninguém viveria, mas quando estava forte demais, desanimava. Não a mim, eu ainda estava energizado pela notícia da audição, levaria um tempo até passar... Ou não.
Eu estava voltando da sala de Angie, após nossa comemoração privada, e antes mesmo de atingir o balcão, meus olhos foram chamados para a entrada do bar, suspirei enfadado, estava quase na hora de fechar quando um homem se livrava de seu sobretudo encharcado, deixando-o sob os cuidados de um funcionário, e chacoalhava seu cabelo, igualmente molhado. O reconheci poucos instantes depois.
Sr. Cooper veio caminhando em direção ao balcão, sentou-se em um banco giratório e apoiou seus braços ali, ao meu lado. Angie, que chegou pouco depois, me beliscou e apontou para o homem, parecendo disperso. Sai do meu transe, e dei dois passos para alcançá-lo.

- Boa noite, Sr. Cooper. - Ele ergueu seu rosto abatido e me sorriu sem forças.
- Ora, Jughead, que prazer revê-lo. - Sua mão estendeu-se em minha direção, o cumprimentei imediatamente - Não sabia que estava trabalhando aqui.
- Faz algum tempo, senhor. - Comentei, com um sorriso categórico - Posso anotar seu pedido?
- Me traz uma dose dupla de Black Label. - Pediu, concordei imediatamente.
- Puro, com gelo, cowboy? - Perguntei, já indo buscar a garrafa.
- Cowboy.

Retornei, me perguntando se ele costumava frequentar aquele pub há tempos e só naquele dia nossos horários coincidiram, ou se era a primeira vez que ele visitava o lugar, se era a primeira vez que saía para beber assim, e se sim, por qual motivo? Coloquei o copo sobre o balcão e servi uma dose dupla generosa antes de empurrá-lo na direção de Sr. Cooper, deixando a garrafa sobre o balcão caso ele fosse repetir o pedido.

- Por que não me acompanha? - Ele perguntou alguns minutos depois, olhei pra Angie, que mexia no caixa, ela simplesmente maneou a cabeça, me dando o aval.
- Vou pegar um copo pra mim. - Disse a ele, indo buscar outro copo e um banco para me sentar à sua frente, me servi e tomei o primeiro sorvo, sentindo meu corpo todo arrepiar doloridamente.
- Está acostumado a beber whiskey? - Ele perguntou, dei de ombros, ainda com os dentes trincados.
- Não puro. - Ele riu de leve, assentindo e tomando o resto do conteúdo em seu copo, depois o arrastou em minha direção, permitindo que eu o servisse novamente.
- Uma vez um amigo meu me trouxe um whiskey Irlandês, era um Tyrconnel, feito em alambiques de cobre, um dos melhores entre os de cevada maltada, eu tive tanta dó de abrir... - Ele dizia, parecendo divertir-se com a estória - Um dia eu cheguei do trabalho decidido a abrir e a tomar uma dose, eu me lembro de me sentar no sofá e pedir que Elizabeth pegasse a garrafa pra mim, e então quando ela entrou na sala, e veio em minha direção, tropeçou na ponta do tapete, a garrafa voou e estraçalhou na mesa de centro, ela chorou por uma hora, sentindo-se culpada por aquilo. - Rimos juntos, e eu fiquei um bom tempo tentando imaginar aquela cena.
- Angie é Irlandesa, ela deve ter algum whiskey desses bons em algum lugar aqui...
- Esse é um Jameson, envelhecido 18 anos - Angie surgiu com uma garrafa bonita, abrindo-a - Um dos melhores whiskeys Irlandeses que o senhor poderia experimentar. Posso servi-lo?
- Por favor. - Fiquei olhando-a preparar uma dose no copo do meu ex-sogro e aquela situação me pareceu escrota - Obrigado.

Os dois entraram imediatamente num assunto de bebidas. Eu entendia pouco disso, eu entendia pouco de tudo. Atendi as míseras pessoas que ainda estavam ali, esperando para pedir suas contas e ir embora, e Angie me permitiu fechar o bar. O fiz, e enquanto eu levantava as cadeiras, ela fazia companhia ao Sr. Cooper, bebendo junto com ele. Me juntei logo depois. Mas não consegui acompanhá-los na no álcool.

- Bom, vou deixá-los sozinhos, preciso fazer uma ligação, mas fiquem à vontade.
- Obrigado, mas eu devo ir. - Sr. Cooper disse.
- Está cedo ainda! - Protestei, tentando ser simpático.
- Vou tomar uma última dose, e depois volto pra casa.
- Bom, boa noite, foi um prazer conhecer o senhor. - Angie rapidamente despediu-se do homem e me deu um beijo no rosto antes de sumir para dentro do corredor.
- Ela é sua namorada agora? - Sr. Cooper perguntou, eu não sabia bem o que responder.
- Não exatamente. - Ele assentiu devagar.
- Você e Elizabeth não se falam mais, não é?
- Não mais, nós dois erramos muito um com o outro, agora é difícil ignorar tudo isso.
- Não gosto do rapaz com quem ela está agora. - Disse ele, fechando a expressão de súbito, dei risada e neguei com a cabeça.
- Eu o detesto, mas a Betty sabe o que faz.
- Na verdade, acho que a Betty só tem estado numa fase onde precisa do apoio de alguém, e ele foi a primeira pessoa que esteve ali pra ampará-la. - Contraí o cenho, curioso para saber o que havia por baixo daquela informação.
- Há algo que eu deva saber, Sr. Cooper? Elizabeth está bem? - Perguntei, sentindo meu corpo responder à ansiedade, logo minhas pernas se chacoalhavam sob o balcão e meus dedos se estralavam sem que eu percebesse.
- Sim, o problema é com minha esposa, Jughead. - Traguei a saliva, sentindo a tristeza do homem à minha frente exalar e entrar por minhas narinas, impregnando-se em mim.
- O que aconteceu com ela? - Eu não queria parecer intrometido, mas quando me dei conta, já havia escapado.
- Ela tem Câncer, Jug, e isso está matando a todos nós, de uma só vez.

Betting Her - Adaptação BugheadOnde as histórias ganham vida. Descobre agora