Capítulo 55: Vivianne - Chambert

En başından başla
                                    

Vivianne estava sendo imprudente, precisava repousar, mas nunca havia visto um castelo do Segundo Império antes. Na Franária inteira só havia dois: Chambert e os Saguões de Neve. Ela nunca veria os Saguões, lar de Fulbert e Margot de Patire, mas estava tão perto de Chambert! E Chambert havia sido construído depois que Gorgath entrou para o Império, trazendo toda a complexidade de sua arquitetura para o ocidente. Vivianne talvez nunca tivesse outra chance de ver aquilo com os próprios olhos.

Ela foi seguindo o mapa de Tuen que tinha guardado na mente até chegar ao pé da muralha, onde sabia que haveria uma escada. A perna doía tanto, que os cantos dos olhos de Vivianne enegreceram. Ela apoiou as costas contra o muro e esperou que sua visão voltasse ao normal antes de começar a subida. Primeiro a perna boa, depois a perna ferida. Perna boa, perna ferida. O vestido longo atrapalhava. Quando voltasse à Pluma, teria de conseguir um par de calças. Transpirava e respirava com dificuldade. A muralha de Tuen era uma das mais altas da Franária. De acordo com os mapas de Vivianne, ela teria de escalar trezentos e quatorze degraus até o topo.

Onze... doze... treze. Vivianne teve de parar várias vezes para descansar. Setenta e cinco... setenta e seis... Soldados e civis passavam por ela sem demonstrar curiosidade. Cento e um.... Desviavam-se como se ela fosse uma pedra e seguiam sem perguntar nada. Duzentos. Estranho: se alguém começasse a subir os muros de Lune, um dos soldados perguntaria por quê. Ela parou de contar os degraus e concentrou-se em não desmaiar de dor. Passou a usar uma das mãos para se apoiar nos degraus de cima e engatinhou até o fim da escada.

O topo da muralha era largo e ensolarado. No lado voltado para a cidade, havia diversos estandes com frutas, bolos e objetos à venda. Havia também varais com roupas estendidas para secar. Os soldados se movimentavam na outra metade da muralha, voltada para fora. Mesmo ali, havia civis. Crianças brincavam de saltar as ameias. Entre uma ameia e outra, um menino e uma menina dividiam uma laranja. A cidade inteira frequentava a muralha, por isso ninguém achou estranho Vivianne estar ali.

Ela se apoiou na vara e atravessou o muro até uma ameia vazia, onde apoiou os braços e cerrou os olhos. O coração palpitou no peito, ela prendeu a respiração. Estava prestes a ver um dos castelos de seus sonhos. Teve medo que que estivesse arruinado, de que a guerra, o abandono e o tempo tivessem transformado ele em uma sombra raquítica daquilo que ele deve ter sido. Vivianne abriu os olhos.

Chambert, um castelo cor de areia esparramado em campos férteis, com muralhas de dez metros de altura cobertas de desenhos que lembravam dunas, vento, ondas. Vivianne não acreditou no que viu. Enquanto as muralhas de Tuen esfarelavam com as cáries do tempo, as de Chambert pareciam ter sido erguidas naquela manhã. Vivianne enxergou três torres, todas no estilo franês, mas, pelas proporções da muralha, Chambert devia ter pelo menos o tamanho de Tuen.

Vivianne se apaixonou.

— A vantagem de amar castelos é que eles não têm ciúmes — ela disse uma vez a Clément.

— Mas eles também não te amam de volta — disse o rei de Deran.

Cinco carroças cruzavam a distância entre Tuen e Chambert. Vivianne se lembrou dos sacos que havia visto na praça antes de encontrar Gaul de Tuen. Se fossem grãos, teriam de ser moídos. Tuen tinha um moinho mas, se Vivianne se lembrava direito, era movido a feitiçaria e provavelmente não funcionava. Chambert havia sido construído durante o Segundo Império, quando surgiu uma onda de nostalgia, onde as pessoas romantizaram a vida antes da feitiçaria de Sátiron. Era comum, naquela época, construir aparatos antigos, mecanismos pré-feitiço, apetrechos manuais. Os castelos mais ricos tinham moinhos à moda antiga. Ninguém os usava, serviam só de enfeite, mas, em teoria, funcionavam. Chambert devia ter um desses moinhos.

Antes de voltar a Lune, Vivianne daria um jeito de visitar o castelo. Ela estreitou os olhos. Pensou ver gente na muralha de Chambert. Será que o castelo era habitado? Até onde ela sabia, Chambert tinha o estigma de ser amaldiçoado. Havia alguns lugares assim na Franária, entre eles a Pedra. Adelaide mantinha trancada a porta que levava ao interior da montanha por causa dos fantasmas gemendo dores nas entranhas da terra. Chambert também tinha fama de maldição. Algum tipo de magia devia agir sobre o castelo, pois ele estava mais inteiro do que Tuen, que permaneceu habitada durante todos os quatrocentos anos de guerra.

Guerra, pensou Vivianne, com letra maiúscula.

Apesar da maravilha arquitetônica diretamente sob seu olhar, Vivianne não ficou exultante, nem mesmo feliz. Estava preocupada. Como vencer um inimigo desses, uma Guerra?

Baixou o olhar e percebeu, com o canto do olho, um cavaleiro deixando a cidade e virando para o sul. Reconheceu as costas de Gaul de Tuen. Ele cavalgou com muita pressa e Vivianne olhou mais longe para ver aonde ele queria chegar. Só o que viu foi uma figura solitária e distante com mochila nas costas.

Gaul foi atrás de Pierre. Vivianne, pelo visto, não era a única que queria sair de Tuen e não conseguia.

A Boca da GuerraHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin