Capítulo 40 - Os Campos Infinitos dos Ancestrais

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"Então, vá. Há outros mundos além deste"

(Stephen King – O Pistoleiro, A Torre Negra, Volume I)

Campina de West Sayan

Amanhecia. Tenshin abriu os olhos, muito ciente do corpo macio da sua Taioken, nua, sobre ele. Sua mão percorreu suavemente as costas dela, e ele depositou um beijo suave nos seus cabelos dourados. Uma luz tênue começava a entrar pelas frestas da barraca, que era quente e aconchegante, apesar do frio e da névoa que cobriam a campina. Peles grossas, de marmotas, castores e búfalo, cobriam o chão, deixando-o macio e eles estavam cobertos por uma manta de pele de corça, suave e quente ao mesmo tempo.

Lunch murmurou qualquer coisa em seu sono e ele sorriu. Havia paz ali dentro, apesar da tempestade que os envolvera nos últimos dias. Ele fechou os olhos e a sentiu, cada centímetro da pele macia que o tocava, e aquele era um sentimento puro e perfeito. Sem pensar muito, ele murmurou em sua língua um dito de sua tribo, aquilo que era repetido por casais nos rituais de casamento, mas que ele evitara prometer no seu casamento com Yurin:

- Surio wa ara e arawe, ene ura mere taiô, ene ura mere auá, mere tiken. Ikara arun amarokaiô enit zuazai... mere Taioken, mere ruata Ina Taiô. (Por todas as vidas que vivermos, você será meu sol, minha lua e minhas estrelas. Caminharemos juntos pelos campos infinitos dos ancestrais... minha Taioken, minha amada dos Cabelos de Sol.)

Ele havia feito a promessa em seu coração, ela era agora a sua mulher perante seus deuses e seus ancestrais. Ela abriu os olhos e perguntou:

- O que você disse?

- Prometi diante dos meus ancestrais que ficaremos juntos ao longo de todas as vidas.

Ela sorriu:

- Posso prometer o mesmo?

- Você prometeria?

- Sem hesitar.

Os dois deram um longo beijo, sem saber que seria o último.

***

Tinha sido a pior noite da vida de Turles. Yamcha barrara sua entrada no prostíbulo, e ele havia ido até a taverna do velho Tsuru, onde muitos homens se acotovelavam, irritados pelo fechamento do saloon.

Todos culpavam Lunch, a vadia do índio. Os seus soldados o olhavam desconfiado, pela sua falta de postura. E ele se embebedara de cerveja e uísque vagabundo até duas horas da manhã, quando caminhara até o limiar da cidade, pensando em deitar-se na barraca que ocupava agora, no acampamento dos soldados.

Mas ele parou, pensando no rifle que trouxera da casa de seu pai e escondera entre outros, no paiol improvisado do acampamento. Ele ansiava em usar aquele rifle para calar aquele índio insolente que o chamara de homem sem honra e o deixara com o rosto marcado. Queria fazer o pele vermelha pagar pelo seu nariz quebrado... e quando ele estivesse morto, não haveria ninguém para impedi-lo de tomar à força aquela gata selvagem que ele desejava desde a adolescência.

Cambaleando, ele mudou de rumo e foi até o paiol. Pegou o rifle, que deixara escondido num canto, carregado, e tomou o rumo da campina. Àquela hora, ele pensou, o maldito já devia estar lá, com ela, deitado com ela, fazendo com ela tudo que ele sempre desejara e que sempre lhe fora negado. Por quê? Por que ela preferia um índio, um pele vermelha maldito, a ele? Era um militar condecorado, havia matado muitos nativos insolentes como aquele antes, ele seria apenas mais um.

Sua mente estava confusa, mas seu ódio era claro e o manteve desperto até que ele parou, escondido no mato, a uma distância boa da barraca do índio, acreditando que seria fácil pegá-lo voltando do saloon, longe o suficiente da cidade para que o tiro não fosse ouvido claramente. Ele se abaixou no mato, tentando manter-se acordado, desejando intensamente que o índio aparecesse assim que o dia clareasse.

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