Capítulo 5 - A Garota que derramou o leite

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"Talvez - talvez o amor faça você suspeitar e duvidar. É verdade que quando você ama uma mulher você nunca tem certeza - nunca tem certeza dela porque ela não tem certeza de si mesma"

(John Steinbeck, A leste do Éden)

Goku piscou os olhos diversas vezes diante de Chichi e coçou o nariz, nervoso, deixando ali uma mancha de tinta branca. Então disse:

- Chichi... eu... tudo bem?

- Tudo. – ela respondeu, secamente – aqui tem seu leite – ela entregou a ele a garrafa e já ia virando as costas quando o pai disse:

- Não, Chichi! Que modos são esses? É o Goku, seu amigo de infância. Não pode sair dando as costas a ele assim.

- Tenho coisas a fazer, papai – ela disse, com ar aborrecido e evitando olhar para Goku, que ficou segurando a garrafa de leite com ar meio abobalhado.

- Vou fazer uma coisa – disse o pastor – vou sair e deixar vocês, jovens, conversando. – ele saiu e foi andando na direção da frente da igreja.

Goku olhava para baixo, sem graça, e então disse:

- Desculpe por ter quase te atropelado naquele dia.

- Ah, claro. Eu só perdi 15 litros de leite...

- Eu posso pagar o leite, se você quiser...

- Não tem problema – ela disse, evitando olhar para ele – já passou. Beba esse e veja se está bom. Fervi hoje de manhã.

Ele levou a garrafa aos lábios e bebeu. Chichi olhou brevemente para o rosto dele. Escorria leite pelos lados da boca, e logo um filete descia pelo pescoço. Ela baixou os olhos, achando aquilo embaraçoso, e, então, percebeu o torso dele nu, virando o rosto mais sem jeito ainda, um leve rubor corando-lhe a face.

Goku não percebeu, como uma criança, ele havia fechado os olhos enquanto bebia o leite fresco e saboroso. Era um gosto que lembrava sua infância, porque quando ele ficara mais velho já não vinha a West Sayan e nem o pastor mandava entregar leite na fazenda deles uma vez por semana. Ele tirou a garrafa dos lábios quando tinha chegado à metade e limpou a boca com as costas da mão, dando um sorriso radiante.

- Nossa, que delícia! – ele disse – eu tinha esquecido como era gostoso o leite daqui!

Ele sorriu para Chichi e então disse, mais animado:

- Você lembra quando a gente brincava perto da macieira, Chichi?

- Sim – ela disse, mexendo em alguma coisa no seu avental branco, evitando olhar para ele – mas depois você não veio mais...

- Meu avô começou a ficar cansado de vir muito a West Sayan, então ele escolheu vir apenas quando precisasse trazer os cavalos – ele disse – e depois, quando fiquei mais velho, mandou que eu fosse à igreja em Nova Sadala porque eu comecei a ir para lá vender os cavalos – ele disse e logo pensou que, na verdade, nunca havia ido à igreja lá. Chichi levantou os olhos para ele e perguntou:

- Nova Sadala é uma cidade bonita?

Ele deu de ombros e disse:

- É grande, maior que West Sayan. Muito maior mesmo. Mas não sei se posso chamar de bonita. Tem mais cavalos, então, tem mais bosta de cavalo nas ruas... – ele riu e olhou para ela, esperançoso, achando que ela fosse rir do comentário, mas ela ainda continuou séria.

- Eu sempre quis ir até lá. Meu pai nunca permitiu. Disse que não é uma cidade para uma moça...

- Ah, não vejo por que, Chichi... eu conheci muitas moças em Nova Sadala.

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