Capítulo 17 - Bardock e Gine

116 16 2
                                    

"E agora, após todos esses anos, parecia a ele que o fato mais terrível da existência humana era que corações partidos se curam"

"Então nós passamos os fantasmas que nos assombram mais tarde em nossas vidas; eles se sentam de maneira pouco dramática à beira da estrada como pobres mendigos, e os vemos apenas pelos cantos dos nossos olhos, se é que os vemos. A ideia de que eles estavam esperando por nós raramente ou nunca cruza nossas mentes. No entanto, eles esperam, e quando passamos, eles recolhem seus pacotes de memória e caem para trás, pisando em nossos passos e alcançando, pouco a pouco."

(Stephen King – Mago e Vidro – A Torre Negra Volume 4)

Goku ia voltando pela estrada para West Sayan, perplexo, ainda chocado com o fato do avô jamais ter revelado a ele que tinha um tio e uma tia vivos. Toma prometera encontrá-lo aquela noite no saloon para contar toda a história de seu pai e sua mãe, e ele, ficava imaginando por que ele havia sido escondido ao ponto de ter até mesmo seu nome verdadeiro ocultado.

Havia algo sobre a vida de seus pais que ele não sabia, um segredo sombrio estava provavelmente por trás da morte dos dois e da sua orfandade. E até então ele não sabia, mas agora estava ansioso para conhecer esse segredo e sepultar esse passado doloroso antes de seguir adiante em sua vida.

Ele passou na funerária, avisou a Piccolo que teria logo o projeto da casa e foi para o Saloon, onde almoçou. A princípio pensou ir para a casa de Chichi, mas não queria que ela pensasse que sua ansiedade e melancolia tinham a ver com ela, então, apenas subiu para o seu quarto e passou o resto da tarde olhando para o teto, com a cabeça repleta de pensamentos confusos sobre os próprios pais.

Ouviu ao longe o bater do sino que anunciava o enterro dos dois bandidos mortos pelo homem de Freeza. Provavelmente haviam sido levados para o cemitério na carroça da funerária conduzida por Piccolo e enterrados numa vala coletiva sem que uma única pessoa amiga estivesse presente para testemunhar ou lamentar seu fim. Se tinham famílias, elas jamais saberiam de sua morte. Goku não conseguia não sentir pena deles.

Então, ele pensou no bandido que o chamara de pai e matara os dois. Será que tinha remorso? Sem saber exatamente porque, pensou nas cruzes da estrada que marcavam o lugar onde seus pais estavam enterrados. Mesmo antes de saber que eram eles ali, jamais gostara daquele lugar. Quando o avô contou toda história, mesmo que ele não tivesse nenhuma lembrança, o mal estar que sentia quando passava pelas duas cruzes de madeira escura ficou explicado.

E ele sentira exatamente o mesmo mal estar quando a palavra "pai" saíra num sussurro da boca do rapaz. Uma sensação de perda o invadira quando ouvira aquela palavra e ainda não o havia abandonado por completo. E agora, prestes a saber tudo sobre seus pais, sentia uma angústia sem fim tomando-o por dentro, como se tudo estivesse ligado e ele estivesse prestes a descobrir segredos que ele não tinha certeza se queria saber.

A tarde se arrastou, mas enfim, a noite chegou e Goku, depois de se lavar e trocar de camisa, desceu para o saloon a fim de encontrar seu tio e o primo. Toma já estava lá, sentado com uma caneca de sidra doce à sua frente. Turles, no entanto, estava encostado no balcão, tentando puxar conversa com Lunch enquanto bebia sua caneca de cerveja. A moça o respondia secamente, ora olhando para outro lado, ora sendo abertamente rude. Maron se aproximou dos dois e Lunch viu aquilo como oportunidade de se afastar do rapaz inconveniente.

- Ora... por que você não conversa com ele? – disse Maron – Você nunca parece se interessar por ninguém, mesmo os mais interessantes.

- Fique com aquele traste para você, eu o conheço há tempos e sempre o detestei.

- Assim que o vi achei que era seu amigo Goku, são muito parecidos...

- Não. Não se pare... – Lunch parou no meio da frase quando viu Turles sentar-se diante de Goku e do seu pai numa mesa, no meio do salão ainda vazio. Eram realmente muito parecidos, embora Turles fosse mais bronzeado por causa do trabalho ao ar livre e mais atarracado, por ser um pouco mais baixo. Realmente, ela pensou, eles eram parecidos, mas era a expressão de inocência de Goku que o fazia completamente diferente do outro sujeito, que tinha uma expressão perene de deboche no rosto. E era isso, junto com o seu cheiro de tabaco, que fazia com que ela o detestasse.

West SayanOnde as histórias ganham vida. Descobre agora