Capítulo 32 - Perdoa-me!

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"Cotovias não fazem muita coisa, mas fazem música para nós curtirmos. Eles não comem os jardins das pessoas, não se aninham nos milharais, eles não fazem nada demais, mas cantam de coração para nós. É por isso que é pecado matar uma cotovia."

(Harper Lee – O sol é para todos)

"Frio. Muito frio..."

"Meu peito dói. Eu deveria estar morto. Estou morto?"

"Ele matou minha Nuvem. Ele me matou?"

"Por que não estou morto?"

Os olhos de Goku deram-se conta, de repente, de que ele, caído de barriga para cima no chão gelado do deserto, mirava o céu noturno escuro e estrelado. Portanto, ele estava vivo, mesmo que sentisse uma dor forte do lado do peito e sentisse umidade em sua camisa, confirmando que levara um tiro. Hesitante, ele elevou a mão esquerda e levou ao peito. Sua mão esbarrou em algo duro como uma pedra, que rolou pelo seu peito quando ele a tocou. Com a outra mão ele tateou e segurou. Era a bala que o havia atingido.

Ele sentou-se perplexo, com as mãos apalpando o peito novamente. Sentiu a umidade do sangue, mas então, se deu conta que não fora ferido gravemente. Ele olhou para frente e viu a fogueira que Freeza deixara acesa e que, alimentada apenas por poucos galhos secos, estava prestes a se apagar. Ele experimentou levantar-se e andou até a fogueira, juntando mais galhos secos espinhentos que feriram suas mãos em diversos pontos. Jogou os gravetos na fogueira e a noite se iluminou de vermelho.

Ele tornou a examinar o próprio peito. Havia um ponto bem doloroso exatamente sobre o coração, mas quando ele o tocou, a compreensão o atingiu repentinamente. Ele ainda tinha a bala segura na mão direita, e sentiu algo achatado e duro, que estivera ali o dia todo. A sua camisa tinha puído ligeiramente onde a bala o atingira, e abaixo dela, ainda presa em seu bolso, estava uma moeda.

A larga moeda de um dólar em prata que Gohan havia entregue ao pai pela manhã, alegando que não tinha bolsos para carregá-la. Ela agora tinha uma grande mossa no seu centro, e um pequeno furo, e ao amortecer o impacto da bala, o dólar o havia salvo da morte certa, embora a pancada do tiro tivesse sido dolorosa. Ele segurou a moeda diante dos olhos, iluminada pela fogueira, e lágrimas involuntárias vieram aos seus olhos.

O destino. Aquele destino no qual o índio Tenshin acreditava tanto havia acabado de se apresentar diante dele, na forma da pequena moeda entregue pelo seu filho e que havia salvo a sua vida. A dor que sentia do impacto era normal, a pressão da moeda ao segurar a bala havia feito um enorme hematoma e tirado um pouco de sangue do seu peito. Mas ele sobrevivera.

Goku ficou de pé e seus olhos miraram novamente o céu noturno. A fogueira também iluminava a grande silhueta da sua égua, caída de lado, irremediavelmente morta, com um tiro na sua linda e delicada cabeça. Goku se aproximou do animal morto e então, literalmente desabou sobre o corpo, chorando convulsivamente, sentindo um misto de dor, tristeza e, principalmente, culpa.

As empacadas da égua e sua hesitação ao longo da estrada não paravam de assombrá-lo. As palavras de Tenshin, para tomar cuidado com o que os olhos viam, também. Estava pagando o preço de um erro, um erro enorme e que o assombraria para sempre. Havia sido arrogante e tolo, confundira Freeza com todos aqueles bandoleiros de beira de estrada que ele combatera, sempre com sucesso. Ele nunca havia errado um tiro... mas daquela vez, ele errara miseravelmente sem sequer ter tido tempo de atirar.

Abraçado ao pescoço da égua, Goku repetia a mesma coisa, incessantemente, mesmo sabendo que Nuvem jamais o responderia, porque, afinal, estava morta e não poderia responder:

- Perdoa-me, minha nuvem... Perdoa-me.

Ele não conseguia parar de chorar, pela égua, pelo seu erro, por ter sobrevivido, enquanto ela, um ser inocente e sem culpa havia sido abatida sem dó. E, pela primeira vez na vida, Goku chorava por se sentir completamente perdido. Não sabia o que fazer agora. Estava no meio de um deserto onde ninguém passava, no meio de uma madrugada fria que seria seguida por um dia escaldante, sem nenhuma provisão de água, sem montaria e a pelo menos seis horas de caminhada, com sorte, de qualquer ponto civilizado.

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