Capítulo 36 - O pico da Cadeia do Norte

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"Você chamou o seu descuido de amor e fez da irresponsabilidade uma virtude."

(Stephen King, "Mago e Vidro" – Volume 4, série "A Torre Negra")

Acampamento, numa região distante, ao Noroeste de West Sayan

Bulma viu a reação de Vegeta ao mapa e percebeu que ele ficara perturbado. Depois que comeram a horrenda sopa de aveia com carne seca preparada por ele e Goku ela se aproximou dele, que parecia entretido cortando um pedaço de madeira com um canivete e disse:

- O que te incomodou no mapa?

Ele demorou a responder, ainda cortando o pedaço de graveto com o canivete. Parecia querer deixar a madeira descascada. Ele disse de repente:

- Perto do fim da sua vida, meu pai além das prostitutas desenvolveu um hábito estranho de consultar videntes e pessoas que diziam que poderiam "contactar os mortos" através de magia. Ele queria falar com minha mãe, o que ele obviamente jamais conseguiu. – ele deu um suspiro – e nenhum dos videntes disse a ele que havia um traidor frequentando nossa casa. – ele a encarou sério – desde então essas coisas me irritam. Nem sei porque vim atrás dessas esferas com você e Kakarotto. Acho que foi para provar que ele estava errado e que Raditz não pode voltar, não sei. Ou porque eu estou, de fato, perdido.

Ele a encarou e, pela primeira vez, ela o enxergou como uma pessoa realmente solitária e ferida pela vida. Vegeta tinha uma casca dura, era irritado e intratável. Mas apenas se defendia do que o mundo fizera com ele desde cedo, era endurecido pela vida. E agora perdera o único amigo e a sua mais cara habilidade: era óbvio que ele sentia dores no ombro que havia sido atingido pelo tiro, pela manhã ela o via girando o braço para aliviar-se de alguma forma. Dificilmente atiraria bem com aquele braço novamente.

Então ela deu a ele a explicação que achava que devia:

- Vegeta... o mapa não tem nada de mágico.

Ele encarou-a com um ar inquisidor e ela explicou:

- Muitos anos atrás, quando meu bisavô foi atrás das esferas, o namek que o ajudou disse que era a substância da qual as esferas eram feitas que faziam-nas brilhar quando estavam juntas. É uma espécie de âmbar que só era encontrado perto de uma aldeia Namek... meu avô usou esse âmbar misturado à tinta do mapa e depois revestiu o verso da fivela do seu cinto com ele. E é isso que faz o mapa brilhar, nada tão místico quanto parece.

Ele pareceu ficar satisfeito com a explicação, sua expressão se suavizou instantaneamente e ela sorriu. Foi quando a voz de Goku soou bem ao lado deles:

- Então é por isso?

Nenhum dos dois tinha se dado conta da aproximação dele, e aquela fala súbita e fora de lugar, entrando na conversa sem ser chamado, foi o suficiente para que Vegeta retornasse ao estado anterior, dizendo:

- Isso não interessa muito, não é mesmo? Afinal, não importa do que são feitas, as tais esferas servem para invocar uma criatura mística que nem sabemos se existe ou não. Ele se levantou bruscamente para procurar palha e fumo. Subitamente sentira vontade de fumar.

Bulma olhou para Goku com uma expressão que dizia sem nenhuma palavra que ela o achava um idiota e ele disse:

- Ora, o que eu fiz de errado agora?

***

A barraca improvisada com a lona de Vegeta, forquilhados e corda só dava para duas pessoas. Goku disse:

- Eu durmo do lado de fora. Gosto de ficar perto da fogueira, mesmo quando ela se apaga.

Bulma e Vegeta se encararam antes de deitarem-se lado a lado, cada um com seu cobertor. Ela virou-se de costas para Vegeta, que disse:

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