Capítulo 79

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— Bela? — Senti a cama afundar e agarrei o braço de William ao finalmente acordar. Eu tinha vontade de chorar, mesmo sem ter um motivo específico, meu peito estava apertado e minha garganta seca.
— Tudo bem? — Ele pediu acariciando o meu cabelo.
— Sim... — Sussurrei, olhando pra ele. Só agora percebendo que ele segurava o nosso pequeno.
— Você estava se mexendo muito... — Me sentei na cama, sentindo-me cansada. Eu tive uma noite péssima.
— Estava sonhando... Eu acho... — Antes que Guilherme começasse a chorar, eu o peguei, ele já foi deitando a procura do meu peito, estavam cheios e senti alívio quando ele começou a sugar. William o olhava fixamente, perdido em seus pensamentos. O puxei pra perto beijando seu rosto, ele procurou minha boca, sua lingua quente dançando com a minha e suas mãos tocando meu rosto.
— Não vamos brigar... — Pedi em um sussurro. Ele se afastou o suficiente pra me olhar.
— Você sabe o que eu penso, e eu não vou mudar de opinião.
— William...
— Tenho que ir trabalhar. — Antes que ele levanta-se, eu agarrei sua camisa.
— Fica... A gente precisa conversar, é isso que a gente vai fazer, vai conversar e se entender. Por favor.
— Ta bem. — Soltei sua camisa, quando vi que ele não iria a lugar algum.
— Eu sei o que você pensa, sei que você o odeia e não tiro sua razão. O que ele fez... O que ele tentou fazer... — Olho pra o meu anjinho em meus braços e minha voz se embarga. — Eu queria odia-lo, queria não sentir pena dele, ou remorso, mas eu não consigo, não consigo.
— Só precisa esquecer dele.
— Eu tentei, eu o esqueci por um tempo...
— Viu, ele não merece ser lembrado.
— Esqueci porque pensava que ele estava feliz com a família dele, mas agora, ele está morrendo e está sozinho... isso eu não posso esquecer. — William levantou num rompante, passando as mãos no cabelo. — Por favor... Tenta se colocar no meu lugar, apesar de tudo ele é o meu pai...
— Nunca se comportou como um, ele nunca... — William respira fundo antes de continuar. — Ele foi um covarde, ele batia na Isabel, ele te privou de ter uma família, te fez passar por inúmeras humilhações e além de tudo tentou matar o nosso filho, então nada que você fale vai mudar o que eu penso sobre ele, e eu não vou te ajudar a trazer esse maldito de volta pra nossas vidas.  — Desviei meu olhar dele, sem ter uma resposta, talvez eu estivesse errada e me arrependeria disso mais tarde.  — Eu simplesmente não consigo me colocar no seu lugar, porque não consigo entender como você pode não odia-lo... — Ele deu de ombros como se se desculpasse.
— Porque eu não odeio as pessoas, eu perdôo elas. Perdoei você, perdoei a Isabel, e já perdoei meu pai inúmeras vezes, não porque ele mereceu, mas eu porque eu o amava. — William riu sem humor, virando a cabeça pra não me olhar. — Eu amo você, mas se eu não ir, vou me culpar pelo resto da vida, e mesmo que eu nunca diga, eu vou culpar você. E isso vai acabar com nós, vai acabar com nosso casamento. E nenhum de nós vai poder voltar atrás, porque ele já vai estar morto.
— Eu não... — Ele mesmo se interrompeu, como se não soubesse o que dizer, então respirou fundo, fechando seus olhos. Eu permaneci quieta, enquanto ele pensava. — Eu sinto muito... — Ele começou falando. — ... Não vou te impedir de ir, mas também não vou te apoiar, porque se a decisão fosse minha, você nunca mais teria contato com ele, porque ele não merece a sua pena, não merece seu amor, ele não merece nada. — Limpei minhas  lagrimas sem ter coragem de olhar pra ele.  Embora eu pudesse entender sua raiva, doia ver ele me deixando sozinha, quando ele prometeu nunca deixar.

— Tudo bem. — Tentei ser forte, lutando contra o choro. — Eu te entendo. Mas eu presico ir, e eu vou ir.
— Está bem... Mas vai conseguir ficar longe do Guilherme? — Olhei para o meu pequeno em meus braços e em seguida pra William.
— Mas eu... Eu vou leva-lo comigo.
—  Não, você não vai.
— O que?
— Eu não vou permitir que seu pai chegue perto do meu filho, isso não.
— Eu não pensei em levar ele pra ver meu pai, só vou levá-lo comigo.
— De qualquer forma... Ele está muito pequeno pra viajar, não quero que leve ele.
— Mas...
— Isso eu não vou aceitar, Bela. É minha ultima palavra. — O olhei chocada diante da sua reação, nunca pensei que ele seria capaz de me separar do meu filho.
— Ele precisa de mim, você sabe disso. Eu não posso deixa-lo sozinho.
— Eu vou cuidar dele.
— William por favor...
— Ele não vai, Bella.
— Não me chame de Bella. — Limpei as lágrimas com raiva. — Como pode fazer isso comigo?
— Como pode me pedir pra deixar meu filho ver o homem que tentou mata-lo? — Virei o rosto consolando meu pequeno que havia começado a chorar junto comigo, quando ergui o olhar, William não estava. 

Migalhas De AmorWhere stories live. Discover now