Capítulo 01

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Eu acredito que todas as pessoas deveriam receber uma quantidade mínima de amor durante sua vida.
É quase como precisar de comida pra viver. A diferença é que sem comida você morre, segundo um jornal que li, em um mês. E sem amor, você vai morrendo aos poucos. Você pode morrer a vida toda, a cada dia e nunca perceber. E como eu sei disso?
Porque eu nunca recebi nenhuma Migalha de amor. E olhando para trás só vejo um grande vazio, não há lembranças bonitas, meu passado é cinza e escuro. Assim como a maioria dos colégios internos que frequentei. Cresci sem a minha mãe e meu pai parece estar disposto a fazer da minha vida um inferno, e ele esta conseguindo com êxito, principalmente hoje....

Estou sentada em uma poltrona a sua espera. Quase nunca entro em seu escritório e não me surpreendo por encontrar apenas uma foto dele com Amanda e Rebeca sobre a mesa. Minha mente esta criando milhares de teorias, do porque ele me chamou aqui, nos não voltamos a nos ver desde que ele viajou nas ferias. Eu não pude ocultar minha magoa ao saber que ele me presenteou com uma viagem a Angra Dos Reis, enquanto ele viajava com minha madrasta e a filha dela para Paris.

Quando meu pai entra, eu espero que fale algo, mas ele apenas se senta em sua  cadeira, coloca seu óculos e começa a ler uma folha que estava em suas mão. Sua frieza comigo continua a mesma,  nem se quer me olhou. Me levanto para sair quando ele interrompe.

  - Sente-se. Eu ainda não falei com você. - Volto a me sentar, e ele continua lendo o maldito papel. Observo tudo dele, desde os cabelos grisalhos até ao relógio de pulso, sua aparência está velha e cansada. Lembro de como era bonito quando era casado com minha mãe, talvez fosse porque ele sorria mais. Mas com a morte dela, muitas coisas mudaram. Ele se tornou frio e distante comigo. Me fez passar a infância e toda a adolecência em colégios internos. E quando eu finalmente volto para casa para fazer uma faculdade, descubro que ele esta casado e tem uma enteada, a quem ele trata como filha e dá todo amor que deveria ser meu.

- Maite, eu estive pensando muito sobre você ultimamente. - Ele diz.
- Pensando sobre mim? - Pergunto cheia de esperanças.
  - Sim, você cresceu e esta na hora de tomar um rumo na vida. - Murchei quando percebi que falava sobre trabalho. Mas ao menos ele se importava com isso.
  - Eu sei. Não vejo a hora de começar a exercer a minha profissão...
  -   Não estou falando disso, e sim de casamento.
  - Casamento?
  - Sim, hoje uns amigos irão jantar conosco, o William filho dele esta interressado em você.
  - Interressado como? Ele me conheçe?
  - Não.
  - Então como...
  - Isso não importa, você apenas tem que se comportar e tudo será resolvido. Se casará com um homem rico e bem sucedido. O que mais poderia querer da vida? - Franzo a testa, totalmente confusa. Ele quer me casar com algum estranho?

  - Pai... você só pode estar brincando comigo.
- Eu não brinco, Maite. E você sabe disso. Vou me tornar sócio do Senhor Afonso Santiago, e esse casamento só irá me benificiar. - Como sempre, tudo se tratava de dinheiro.
- Mas e a mim? Em que irá me benificiar? Em nada papai. Eu não quero me casar com alguém que não conheço. Eu não posso me casar sem amor. - Ele riu.
  - Não seja tola Maite. Amor é apenas um artificio inventado para iludir as pessoas, o amor não existe. - Nego com a cabeça.
 
  - Você amava minha mãe. - Ele me encara como se eu tivesse falado um palavrão, mas continuo. - Eu lembro de como a tratava, como era amoroso com nós duas, mas depois que ela morreu, você mudou muito comigo...
 
- CALE A BOCA. - Estremeço  com seu grito. - Esta na hora de deixar de ser uma garotinha mimada e se tornar uma adulta responsável. Você vai se casar e ponto, não é uma escolha sua. Agora saia, tenho muito trabalho a fazer. - Lagrimas embaçam minha visão. - E pare de chorar. Você chora por qualquer coisinha agora? - Obrigo minhas pernas a andarem e saio do seu escritório.

Ao chegar em meu quarto, pego a caixinha vermelha onde guardo as fotos da minha mãe e vou para cama. Mais uma vez estou chorando abraçada ao meu travesseiro e a sua foto. Ele não pode me obrigar a isso, um casamento aranjado irria acabar com meus sonhos de contruir uma familia amorosa e de ser amada, porque é apenas isso o que eu desejo, um pouquinho de amor, algo que foi me negado a vida inteira. Jorge não poderia acabar com isso, ele já me machucou demais.

Migalhas De AmorWhere stories live. Discover now