Camilla e Rafael

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Eu havia acordado a alguns minutos, mas permaneci quieta sendo acolhida entre os braços de Rafael. Não lembrava de nada da noite anterior, só que ele tinha me trazido pra casa, mas não precisa ser um gênio pra deduzir o que aconteceu, além do mais eu estou sem roupa. Me sinto tão estupida,  havia prometido a mim mesma que não deixaria isso voltar a acontecer. Irritada o empurro, saindo do seu aperto.

— O que? Camilla? —  Ele coça os olhos confuso.
— Que droga Rafael! O que está fazendo aqui? — Me cubro com o edredom até o pescoço, ficando do meu lado da cama.
— Vai me dizer que não lembra? —  Faço que sim com a cabeça. 
— Claro que não. Estava bebada, e você se aproveitou de mim como sempre. — Ele encara o teto, respirando fundo. 
— Só pra você saber, não aconteceu nada entre nós. Tá legal?
— Ah não? Então porque estou sem roupa?
— Porque chegamos nos agarrando, loucos de tesão, tirei sua roupa e enquanto tirava a minha, você dormiu. — Abro a boca, mas fico sem palavras, minha vontade é rir até a barriga doer.
— Você me deixou na seca. — Ele reclama.
— Humm! Vou fingir acreditar que você me deixou dormir, como o bom moço que é.
— E o que mais eu poderia fazer? Não sou nenhum estuprador.
— Sei...
— Porque essa marra toda em Camilla? Já ficamos antes e foi muito bom, além disso  somos solteiros, qual é o problema? — Eu faço como ele, encaro o teto, fingindo-me de brava, enquanto penso em uma boa desculpa, porque o real problema, não é nada que ele deva saber. 
— Você gritou comigo. Esqueceu? — Ele mexe a cabeça rindo. E meus olhos se perdem no seu peitoral largo...
— Gritei porque você estava ofendendo a minha mãe doente.  
— Me não importa o motivo, eu não deixo ninguém gritar comigo, não vou te perdoar por isso. 
— Está fazendo tempestade em um copo de água. 
— Que seja. 
— E se eu te pedir desculpas? 
— Não quero as suas desculpas. 
— O que você quer então? 
—Nada! — Digo irritada. — Ou melhor, quero que saia do meu apartamento. — Ele me encara por um segundo, antes de pular pra fora da cama.
— Você só pode ser louca, passei a noite cuidando de você e é isso que recebo em troca. — Ele resmunga enquanto junta a calça a vestindo com raiva. E eu sinto algo preso em minha garganta, uma vontade de chorar, de implorar que ele fique comigo.
— Rafa... Você é muito novo... — Ele me olha enquanto fecha o ziper. — Nos nunca dariamos certo mesmo. Eu... Eu já tenho uma vida, casa, carro. Quero alguém maduro ao meu lado e você nem começou a faculdade.
— Agora resulta que eu sou imaturo? Desculpa, mas eu não sabia que faculdade definiria a minha maturidade. — Droga! Agora ele ficou mais bravo! Eu só estava tentando encontrar um motivo que fosse convincente, pra ele não me procurar mais. Mas não quero que ele me odeie. 
— Você não entendeu... 
— Sim Camilla! Eu sou novo, mas já sou  homem o suficente para saber o que fazer da minha vida. Tenho meus sonhos, minhas metas e não vai ser uma louca como você que vai me chamar de imaturo. 
— Não me chama de louca. — Me sento na cama, irritada. 
— Sabe porque não começei a faculdade? Porque a minha mãe enlouqueceria se eu saísse de casa. Então começei a trabalhar com William só um período e conquistei meu espaço na agência, não estou lá de favor não. É óbvio que vou fazer uma faculdade mais pra frente, mas isso não me define em nada. — Fico quieta, pra não falar mais besteiras, sei que me expressei mal, mas eu só estava tentando me explicar...
— Você não sabe nada sobre mim Camilla e fica me julgando como se fosse um grande exemplo de maturidade. Sendo que fica bêbada na primeira oportunidade que aparece. E dai é o imaturo aqui que trás pra casa e cuida da sua ressaca.
— Não te pedi nada. — Óbvio que eu não ia aguentar ficar quieta. — Você queria se aproveitar de mim, por isso veio aqui, não se faça de santo.
— Se eu tivesse vindo aqui só por sexo, eu teria de deixado dormindo e teria ido pra balada comemorar meu aniversário, lá eu conseguia sexo fácil e nenhuma delas me deixariam tão louco de raiva, como você me deixa.
— Então porque não foi? — Debochei.
— Porque sou um estupido, que não foi capaz de te deixar sozinha quando deitou em meu peito. — Sinto um nó em minha garganta, e uso todas as minhas forças pra não chorar. — Mas hoje a noite vai ser diferente, você pode beber e curtir a sua ressaca sozinha, porque eu vou estar bem longe do seu apartamento e na cama de outra se possível. — É estranho preferir ouvir ele dizer que vai ficar com outra, do que dizer que ficou cuidando de mim? Sim é estranho, mas prefiro ficar com raiva dele, do que me sentir daquele outro jeito.
— Você se acha o tal, mas só consegue me levar pra cama, quando eu fico bêbada. — Ele ri. 
— Não é verdade e você sabe, ou não se lembra das noites que me ligou pedindo pra vir aqui? Me esperava núa e gemia pra que eu metesse na sua bocetinha. — Viro o rosto não querendo lembrar disso. — Nós ainda estaríamos assim, se eu não tivesse cometido a estupidez de gritar com você. Porque ai você teve uma desculpa pra fugir de mim.
— Não estou fugindo de você. — Rio de nervosa. 
— Ah não? —Ele se aproxima da cama e eu tranco a respiração. — Pois não é o que parece. Você só baixa a guarda quando está bebada, depois arranja mil motivos pra me manter longe. —  Nego com a cabeça, mas sei que essa é a mais pura verdade. — Sabe o que eu acho Camilla? Que você gosta de mim, por isso está agindo assim. — Rio como se fosse a maior idiotice que eu ja ouvi.
— É você que gosta de mim. —  Retruco. Ele sorri. 
— Sim eu gosto, não estou negando. —  Minha respiração perde o ritmo, como se meu coração fosse sair pela minha boca. E Rafael continua sorrindo. — Gosto desse seu jeito espontâneo, que faz todo mundo rir, que fala o que quer, na hora que quer. Você é assim com todo mundo, até comigo... Quando estamos na frente das pessoas. Mas quando estamos sozinhos, não, você pensa  antes de falar, parece ter medo que eu descubra algo... O que? Que você gosta de mim de verdade? E que está encontrando mil motivos pra me manter afastado? Isso eu já sei Camilla, não adianta esconder. — Eu perco a voz, a razão, o pensamento... Não a nada que eu possa fazer pra negar isso, ele já sabe de tudo. Desvio o olhar dele, com medo que possa ver até a minha alma. Ele parece ver tudo em mim, como se eu fosse transparente, não importando quantas barreiras eu coloque diante de mim. 
— Me desculpa! Mas eu sou assim! — Dou de ombros, como se não me importa-se.
— Não, você só é assim comigo. Eu queria saber o porque?
— Não vai me desculpar? — Mudo de assunto.
— Está desculpada. — Ele sorri levemente, pegando o ténis.
— Então... — Quase implorei pra que ficasse. Que me fizesse esquecer todas as minhas paranóias.
— Então o que?
— Porque... continua vestindo a roupa?
— Porque vou trabalhar, enquanto não me falar o porque de me tratar assim, não vai rolar nada entre a gente. 
— Porque? — Digo desanimada. Fico em meus joelhos deixando o edredom cair, relevando meu corpo nú... Estou doida por ele, vou usar as arma que tenho. Seu olhar desce pelo meu corpo, hipnotizado, mas então ele vira o rosto rapidamente.
— Você sabe o porque, Camilla. — Nego com a cabeça.
— Não estou afim de passar uma noite incrivel com você e no dia seguinte ser expulso da sua cama.
— Eu não vou fazer isso. 
— Você diz isso agora. — Ele termina de amarrar os tênis e se levanta. —  Enquanto não tiver uma resposta descente pra mim, é melhor que não nos vermos. Tchau. — Ele se vira e eu pulo da cama. 
— Espera... — Puxo seu braço fazendo ele me olhar.  Coloco as mãos no seu pescoco, mas ele as segura, impedindo o possivel beijo. E suspiro, cansada.

Migalhas De AmorWhere stories live. Discover now