Capítulo 57

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Eu estava completamente sozinha. De verdade! Ninguém poderia me salvar dessa dor que esta partindo meu peito ao meio, pois foi provocada pelas duas pessoas que eu mais amava no mundo. Lágrimas vieram aos meus olhos, sem que eu pudesse controlar desceram pelo meu rosto e não importava quantas vezes eu as enxugasse elas continuavam vindo. Quentes e molhadas, queimando minha pele, deixando um rastro de dor e tristeza. Então William me pede pra abrir a porta. Eu deveria abrir a porta. Eu quero abrir a porta. E ele continua... Sua voz abafada pela madeira, incentiva as lágrimas a rolarem pelo meu rosto. Num ato de desespero coloco a mão sobre a maçaneta, estou prestes a abrir a porta, quero estar em seus braços, quero acreditar em suas palavras, quero ser protegida e amada, mas então a sua voz cessa e eu desisto, voltando a realidade. Estou sozinha! Um único soluço escapou dos meus lábios e, em seguida eu já não conseguia mais controlar isso, meu corpo todo começou a tremer. Deslizei até o chão, envolvi meus  braços ao redor do meu corpo, me abraçando com força, me amparando. Porque ele mentiu, ele mentiu e agora estou sozinha, sozinha de novo... 

Ouvi gritos e reconheci a voz como sendo de Camilla, lembro de ter ligado pra ela em algum momento. Camilla esteve presentes nos piores e nos melhores momentos, ela me apoiou e me ajudou quando ninguém o fez e sei que sem ela eu não seria quem eu sou hoje. E novamente eu preciso dela agora. Mas estou anestesiada de alguma forma, olhando fixamente a nossa cama desarrumada, ela nunca está arrumada, ouvir a voz de Camilla fez meus olhos se encherem de lágrimas novamente. Então me esforço pra levantar do chão e abro a porta. Os seus olhos azuis, agora vermelhos, demonstram tanta compaixão, que me agarro nela com força, como se fosse a minha salvação e de fato, ela é, sempre foi. Lágrimas embaçam minha visão, mas por um milésimo de segundos eu o vi, William, e seu olhar de pena, acabou comigo, realmente acabou comigo. 

- Senta aqui. – Camilla me coloca sobre a cama , deito no seu ombro sentindo ela me acolher, me apertando com força, alisando meu cabelo devagar. Eu não conseguia parar de chorar, os soluços e as lágrimas pareciam ter vida própria.  E Camilla não disse nada, ela apenas ficou ali, abraçada comigo por um longo tempo, ela sabia que eu não queria palavras reconfortantes e nenhum discurso inspirador de como tudo vai ficar bem, eu sei que não vai. Eu só queria sentir alguém do meu lado, sentir que não estou completamente sozinha. Odeio estar sozinha, mas as pessoas que amo tem o costume de me abandonarem. Eu sempre pensei que iria perder o William, ele é bonito demais, perfeito demais, rico demais pra mim, mas não imaginei que seria dessa forma, não por uma mentira dessa magnitude, pensei em algo mais simples, como... ele me trocar por outra, uma mais bonita, mas eu estava enganada. É muito pior que isso! E muito mais doloroso.

 - Ele mentiu... - Sussurro baixinho, como se fosse um segredo. E Camilla respira fundo.  

- Eu sei... Ele é um canalha, mentiroso, maldito, odioso, nojento, detestável, e um mal carácter desgraçado. Mas não se preocupe, vamos fazer ele pagar por todo mal que te fez, ele vai comer o pão que o diabo amassou. - Aperto ela negando, não quero que ela faça nenhum mal ao William, eu não quero que ele sofra, eu o amo, ainda o amo. 

- Sinto muito Bel, mas seu pai é tudo isso e muito mais, ele não merece um pingo de compaixão sua. - Um sorriso quase aparece em meu rosto, aliviada por ela não estar falando do William e sim do meu pai. Outro que mentiu... 

— Todos eles mentiram... — Me afasto de Camilla a olhando. — Me manipularam como se eu fosse uma idiota, e o pior foi que eu acreditei em tudo, tudo... Minha mãe não estava morta, ela só foi embora com um amante, refazer a vida dela e me deixou... sozinha. - A constatação foi como uma facada em meu peito. A única pessoa pessoa no mundo que eu pensava que realmente me amou incondicionalmente, é a pessoa que não se importou em me abandonar. 

— Mas ela te explicou alguma coisa? Disse porque foi embora? Porque não te levou junto com ela? Ou porque ela só  voltou agora quase 20 anos depois? — Nego sem nem sequer ter ouvido direito as perguntas dela, acho que estou em choque! Um soluço escapa da minha garganta trazendo consigo todo o desespero, fazendo meu corpo tremer.

— Tudo bem... — Camilla me puxa pro seu ombro novamente, abraçando-me, alisando as minhas costas até eu me acalmar um pouco e conseguir respirar normalmente. — Eu acho que deve falar com ela, exigir uma explicação de tudo que aconteceu, ela te deve isso.

— Não, eu não quero ver ela... 

— Tudo bem, não precisa ser hoje, no dia que se sentir confortável, mas ouça o que ela tem a dizer e pense com calma no que vai fazer, a volta da sua mãe, pode mudar muitas na sua vida...

— Eu sei... eu vou perder o William... — A dor em meu peito é tanta que eu preciso me curvar e as lágrimas pingam no chão. É como se eu tivesse recebido um soco muito forte no estômago, que remexeu com todas as minhas entranhas. Camilla alisa minhas costas devagar, segurando meu cabelo, talvez imaginando que eu fosse vomitar. 

— Tudo bem? - Confirmo, mas não me movo. - Eu não entendo. Porque perderia o William? Quando cheguei ele parecia muito aflito e preocupado com você presa aqui dentro. — Fico erecta olhando um ponto fixo na parede.

— Não está preocupado, ele só sente pena,  porque sou a menina rejeitada e abandonada, a pobre Maite que merece ser digna de pena. 

- Claro que não, William ama você, e é lógico que está preocupado.  - Fecho os olhos, como eu queria acreditar nessas palavras...

- Ela pediu pro William se casar comigo, minha mãe, ele se casou por pena e por obrigação... Ele não me ama, nunca amou... — Deixo as lágrimas virem, da forma que elas desejarem, lavando meu rosto. 

- O que? Como assim? - Eu deveria saber que com Camilla não tem enrolação, mas não consigo pronunciar nenhuma palavra. E ela, acho que percebendo meu estado, me abraça forte, muito forte, e está respirando fundo, acho que também está chorando. Nós permanecemos abraçadas por um longo tempo. Somente meus soluços interrompiam o silêncio e foram se dissipando com o passar do tempo... 

- O que eu faço Camilla? O que eu vou fazer com a minha vida sem ele? _ Sussurro e ela respira fundo. 

- Quem te disse aquilo? Que William se casou por pena? A sua mãe? 

- É mais ou menos, e ele confirmou. 

- Ele teve coragem de te falar isso? Que se casou por pena? 

- Não... Ele disse que se casou porque ela pediu, porque não queria ver ela sofrer. 

- E de onde ele a conhecia? 

- Não sei... Eu não sei de nada, eu corri pro quarto depois disso. 

- Então é isso que você deve fazer, falar com ele e pedir uma explicação já que não quer ver a sua mãe... É estranho falar assim da sua mãe no tempo presente, estranho ela estar vida, enfim essa história toda é estranha. 

- Então não fale dela... 

- Ta bem... 

- Mas o que eu faço se ele falar que se casou por pena mesmo? Que não me ama e que só me iludiu? - Meu peito se comprime, só de imaginar. 

- Bata nele, bata com força, com toda a força que conseguir e depois corra, venha morar comigo, o resto nos vemos depois, nos damos um jeito, sempre demos um jeito. - Confirmo com a cabeça e enxugo as lágrimas me afastando do seu abraço, ela arruma meu cabelo, me olhando em silêncio. 

- Certo, eu vou chamar ele então e te espero lá fora, qualquer coisa grita. - Confirmo com a cabeça. E ela toca meu ombro, como se me passasse coragem e vai até a porta saindo do quarto. 

Sinto as batidas do meu coração acelerar e me forço a parar de chorar, enxugando meu rosto mais uma vez. Então a porta se abre e ele entra, para um instante me olhando. Eu abaixo o rosto e o olhar, porque não consigo olhar pra ele, não depois de tudo que aconteceu. Estou muito magoada e confusa. E não quero voltar a chorar na frente dele. Ele se ajoelha na minha frente e  eu luto contra o choro. Ele puxa minha mão e antes que eu perceba estou no seu colo. Ele tem os braços envolta de mim e seu nariz esta no meu cabelo. Queria ter forças pra lutar, pra manter uma distância segura, mas... Ele está me pressionando contra seu peito! E sinto o seu coração bater sem parar. Eu derreto! É aqui que eu quero estar, aqui é o meu lugar, nos seus braços. Descanso minha cabeça contra ele, deixando as lágrimas lavarem minha alma. 

- Bela, não chore, pode me bater se quiser, mas não chore, isso eu não posso suportar. - Sua voz contribuiu para o meu choro aumentar, mas de alguma forma acalmou meu coração, me aninhei no seu peito desnudo, enquanto ele me embalava e desfrutei da sensação, pois talvez seja a ultima vez, que eu faça isso. 

Migalhas De AmorWhere stories live. Discover now