Capitulo 68

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Ouvi o médico falar sobre a gravidez, mas meus sentidos ainda estavam aturdidos com a notícia e por mais que eu tentasse não conseguia compreender suas palavras. Pedi que parasse de falar, que eu não estava me sentindo bem, se fosse em outra ocasião eu ficaria quieta, para não incomodar, mas agora tem um bebê dentro de mim e tenho que colocar ele em primeiro lugar. Então ele me examinou imediatamente, disse que a minha pressão estava baixa e me colocou no soro, deixando-me em observação. 

Alguns minutos depois finalmente fiquei sozinha no quarto, estava me sentindo exausta, mas por dentro estava agitada, emocionada. Eu ainda não sabia como me sentir diante dessa novidade, foi uma total supresa, de verdade, jamais me passou pela cabeça que eu estava gravida! Aconteceram tantas coisas esse últimos dias que nem reparei que minha menstruação já estava atrasada dois meses. Agora sabendo a verdade, parece tão obvio, todos os sintomas apontaram pra isso e eu nem percebi.

Eu não sei como pude ser tão irresponsável, nos fizemos sexo tantas vezes sem proteção e eu sempre ia deixando pra ir no médico depois, pra comprar a pílula no outro dia... E no fim acabava esquecendo, deixando pra lá, como se não fosse nada importante, mas era. E eu devia estar me sentindo culpada agora, mas não estou. Porque eu imagino um bebê, fofinho, lindinho, sorrindo pra mim e... de repente eu quero tanto esse bebê, que fico feliz por não ter comprado a pílula.

Quando me dei conta estava chorando, não sabia o que estava sentindo, só sabia que eu queria um bebê, queria muito esse bebê.  Deslizei minhas mãos até minha barriga, fechando os olhos, imaginei como ele seria e sorri em meio as lágrimas. Nunca havia sentido algo assim, amar algo que eu nunca tinha visto, um rostinho que só estava em minha imaginação, mas de alguma forma, eu amava. Amava com toda a minha alma esse serzinho dentro de mim, como se eu tivesse esperando por ele a minha vida toda, pra completar a minha nova família, completar a minha felicidade ao lado do homem que eu amo. Lembrei de William imaginei como reagiria e fiquei com medo por um instante, nosso casamento era recente, haviamos falado de filhos, mas isso foi antes de descobrir que ele se casou porque Isabel pediu e planejava se divorciar de mim. O medo se esvaiu dando lugar a ansiedade em contar pra ele, quando lembrei dele, em como ele era, bondoso, amoroso e no quanto ele me amava, e soube no fundo do meu coração que ele ficaria feliz. Feliz ao saber que vamos ter um bebê.

Não sei a hora que adormeci, mas acordei com o doutor me chamando. Ele me examinou de novo e disse que eu estava bem agora, que a gravidez estava entrando na oitava semana e que eu deveria começar logo o pré-natal com uma obstetra da minha confiança. E realçou a ordem de não tomar nenhum remédio sem a prescrição de um médico. Pedi se o remédio que eu comprei varia algum mal a gravidez, tirei da bolsa e lhe mostrei, ele confirmou que se eu tomasse ele regularmente, eu poderia sofrer um aborto e não evitei as lágrimas, ao ver o quão longe o meu pai pode chegar pra me machucar.
Gustavo se desculpou varias vezes antes de sair do quarto me dando alta, mas eu sei que a culpa não foi dele, Jorge é persistente quando quer algo e se tratando de me machucar, ele vai até o fim, mas dessa vez, o que ele fez é imperdoável. Colocou a vida de um ser inocente em risco e a minha própria, eu jamais vou perdoa-lo por isso, jamais.
Peguei meu celular pra chamar um taxi e fiquei surpresa ao ver que já eram quase cinco horas da tarde, o soro me colocou pra dormir mesmo, mas em compensação me sinto mais forte. Olhei as mensagens e havia uma de William, curta e direta dizendo que Pedro estava a minha disposição caso eu precisasse dele pra voltar. Ele deve estar uma fera, mas ainda assim se preocupou em me ceder o motorista, são coisas como essa que me fazem ama-lo ainda mais. Liguei para Pedro e ele chegou em meia hora, era quase seis quando cheguei em casa. Candinha colocou a mão no peito quando me viu e depois veio correndo me abraçar, eu quase chorei, doida pra contar a novidade, mas queria que o William soubesse antes de todo mundo.
—  Já voltou pra casa?
— Sim, voltei ontem a noite. — Ela suspirou aliviada.
— Que bom, porque eu estava pronta pra ter uma conversa seríssima com William sobre uma calcinha vermelha que eu encontrei nos pés da cama hoje cedo. — RI, sabendo que ela brigaria mesmo com ele. E a abraçei forte, sem conseguir evitar as lágrimas.
— Eu te amo Candi, você é a minha mãe de coração, obrigada por tudo.
— Eu também te amo, minha menina. O que ouve? — Não aguentei e chorei abraçada a ela no sofá. Não comentei nada sobre meu pai e menti dizendo que era saudade de casa. Falei com ela sobre a conversa que tive com a minha mãe e a crise dela depois disso, Cândi disse que ela era uma boa pessoa, meu pai que sempre foi ruim com ela e ela nunca havia me falado nada sobre isso, porque queria que tivesse uma lembrança feliz da minha mãe, imaginando que ela havia ido em paz. Depois de ouvir Candi tive a certeza do tipo de homem que meu pai é e de que fiz bem em não tratar mal a minha mãe. Eu ainda me sinto magoada pelos anos que ela me deixou sozinha e sei que vai demorar pra eu a ver como a minha mãe amada, mas eu quero que ela fique bem e que possamos um dia, ter uma relação de mãe e filha, agora mais do que nunca eu preciso dela.
— Vou preparar algo pra você, está tão magrinha. — Revirei os olhos pra Cândi, o doutor me pesou e eu engordei dois quilos, mas aceitei a comida, precisava me manter saudável pelo meu bebê. Comi uma salada de frutas com iogurte, estava uma delicia. Mas só de sentir o cheio da carne que Cândi estava preparando para o jantar meu estômago revirou e eu tive que correr pro quarto fugindo do cheiro da comida.
Deitei na cama e as lagrimas voltaram fortes, me dói tanto pensar que meu próprio pai faz de tudo pra me machucar. Peguei um papel e uma caneta e escrevi tudo o que eu sentia, toda a dor e a raiva pelo que ele fez, tudo o que eu sofri em suas mãos, todas as humilhações que passei e  terminei dizendo o quanto eu estava feliz, em como eu teria uma família de verdade, que me amaria e cuidaria de mim como ele nunca fez, enfatizei que ele nunca veria o neto que tentou matar, e que William o mataria caso tentasse.
Sim usei essas palavras, sem pena nenhuma, ele merecia e eu não o queria perto de mim, nem do meu bebê. E por fim disse que ele nunca foi meu pai e eu estava deixando de ser sua filha, que se o visse na rua, fingiria não conhece-lo porque de  hoje em diante, ele não passava de um verme pra mim.
Chorei em cada palavra, vendo que desperdicei a minha vida toda, tentando ganhar o seu amor e respeito, e ele nunca mereceu nada do que fiz e sacrifiquei por ele. Guardei a carta na cômoda ao lado, prometendo a mim mesma enviar no dia seguinte. E esquecer de uma vez por todas ele e tudo que me fez.
Voltei a me deitar, me enrolando embaixo das cobertas, controlando a respiração pra tentar me acalmar, sabia que chorar não fazia nada bem ao bebê.  Foi quando William chegou, ouvi a porta do quarto se abrir e me virei olhando. Ele parecia cansado, e me olhava sério, obvio que ainda estava bravo e emburrado.
— O que seu pai fez dessa vez? — Perguntou com deboche. Eu havia parado de chorar, mas os meus olhos vermelhos e inchados não negavam, que havia acontecido algo. Virei-me novamente abraçando as cobertas, não queria brigar, nem falar do meu pai, só queria dar a noticia mais importante das nossas vidas, sem chorar como uma criança, quero que seja um momento bonito, afinal vamos lembrar disso pra sempre. Pensei que ele ia insistir, mas foi pro banheiro sem falar nada e logo ouvi o barulho do chuveiro.  A minha ansiedade é tanta que não consigo ficar na cama esperando, levanto e enxugo os meus olhos, embora já não restasse nenhuma lágrima. Retiro toda minha roupa e insistivamente olho no espelho tocando a minha barriga, ela parece maior, mas acho que é só impressão, ainda não deu tempo dela crescer.
Paro de fantasiar coisas e entro no banheiro atrás de William. Pelo vidro embaçado posso vê-lo, o rosto erguido deixando a água cair sobre seu corpo. Abro o box devagar e pergunto:
— Posso tomar banho com você? — William está de costas pra mim e me olha por cima do ombro. Seu olhar sério desce percorrendo meu corpo, me fazendo sentir envergonhada, mas então ele confirma com um leve aceno de cabeça, dando espaço pra eu entrar. Vou embaixo do chuveiro, deixando a água me relaxar, estou de frente pro William e quando abro os olhos, vejo seu olhar  em mim, como se quisesse ler a minha mente.
— Porque estava chorando? — Nego com a cabeça.
— Já passou... — Desvio o olhar não querendo voltar a chorar.
— Bela? Se aquele Arthur fez algo... Ou o seu pai, eu vou... — Coloco meu dedo sobre sua boca, e ele para de falar.
— Esquece eles... — Sussurro, implorando com o olhar, querendo que ele pense somente em nois dois nesse momento. Então ele afirma com a cabeça, mordendo o lábio, nitidamente irritado. E pega o sabonete começando a se ensaboar, sem me olhar.
Fecho meus olhos enquanto lavo meu cabelo, a minha vontade é chorar até não poder mais. Eu estava tão ansiosa pra contar pra ele, mas agora estou com medo de como vai reagir, talvez ele não queira um filho agora, mal começamos a nossa vida juntos... Sem falar da agência que demanda um tempo muito grande dele, e eu nem começei a trabalhar, tudo que faço é dar despesas a ele... Paro de pensar ou vou voltar a chorar como uma criança. Eu sempre faço isso fico me martirizando antes do tempo e no fim, tudo acontece diferente do que eu pensei, talvez ele goste da notícia e fique feliz. Rezo pra que isso aconteça, não quero me sentir um estorvo na sua vida.
O silêncio dentro do box apertado é angustiante,  enquanto eu o olho pensando numa maneira de contar pra ele, William finje ignorar a minha presença.
— Você acha... que eu estou gorda?
— Não. — Diz curto e grosso. Cortando o assunto na hora. Dou as costas pra ele chateada e continuo meu banho quieta.
— Não está gorda, está linda... Você é linda. — Ele completa, me fazendo sorrir. Mesmo bravo, irritado e com ciúmes, ele faz de tudo pra que eu me sinta bem.
— Talvez eu fique gorda... — Me viro pra ele, e piso em cima de algo escorregadio, num deslize quase colocando tudo a perder, mas William me segura, antes que eu caia.
— Não me deixa cair. — Imploro. Me segurando  firme em seus braços, com medo. Me dando conta que de um instante pro outro, eu posso perder  a única coisa realmente minha nesse mundo, meu filho...
— Não vou... —  Ele me olha sério, talvez não entendendo  a minha reação, mas me ergue, pra que eu possa me afirmar no chão. — Tudo bem?... — Afirmo respirando fundo. William  agarra o meu cabelo, me fazendo olhá-lo, pela primeira vez desde que chegou, seu olhar está terno, doce... Então seus lábios descem nos meus, numa carícia suave, sua lingua vasculhando minha boca...
— Vamos pra cama... (Beijo) Esquecer tudo isso... (Beijo) Passei um dia infernal longe de você... — Confirmo, perdida, esquecida de pensar, focando apenas no sabor do seu beijo. Me agarro nele, enquanto ele passa uma toalha em volta de nois dois e caminhamos juntos pra fora do banheiro, sem separar nossas bocas.
Ele esfrega a toalha na minha pele, querendo me secar o mais rápido possível, quando me vira de costas pra ele, vejo a nossa imagem refletida no espelho, sua boca morde meu ombro enquanto desliza a toalha pelas minhas costas, queria parar de pensar e me entregar a esse momento de corpo e alma, mas não posso...
— William, preciso te contar uma coisa... — Ele ergue o olhar, encontrando o meu pelo espelho. A expressão suave se transforma em seria, num milésimo de segundos. Me viro pra ele, meu peito se acelerando, as palavras somem da minha mente. E tudo que consigo fazer é agarrar suas mãos e guia-las até a minha barriga. Lágrimas inundam meus olhos.
— Bela? — Seu olhar confuso, encontrou o meu. E respirei fundo.
—Quando estávamos separados, você me ligou e disse que queria formar uma família comigo... É verdade? — Ele sorri como se estivesse aliviado.
— Você tem alguma duvida disso? Eu quero tudo com você, meu amor.
— Então... — Ele me interrompe.
— Quero te dar tudo que você nunca teve...
— Você já me deu... Está aqui dentro... — Aperto suas mãos sobre a minha barriga. William franze a testa olhando minha barriga, então, de repente sua expressão se suaviza, e ele abre um sorriso.

Bela se mostrando forte em alguns aspectos, mas sempre com aquela insegurança por dentro, amo escrever ela, ir aos poucos mudando a personagem ❤ E sobre William, um príncipe, mesmo quando tenta ficar bravo com a Bel rsrs

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Bela se mostrando forte em alguns aspectos, mas sempre com aquela insegurança por dentro, amo escrever ela, ir aos poucos mudando a personagem ❤ E sobre William, um príncipe, mesmo quando tenta ficar bravo com a Bel rsrs. Que casal lindo da porra ❤❤❤❤❤💑 O próximo capitulo vai ser do Wil, descrevendo como se sentiu ao saber que vai ser papai.

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