Capítulo 38

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Abro a porta do meu apartamento com pressa, e entro, estou congelando, aqui em Nova York está muito frio, deveria ter trazido outro casaco.
Acendo a luz, me deparando com a sala de estar, ando por ela olhando a cozinha ao fundo e as escadas para o segundo andar, tudo continua exatamente igual, mas parece tão diferente. Desde que eu comprei esse apartamento e o decorei do meu jeito, sentia que fosse meu lar,  mas porque agora sinto que não é mais assim? É como se aqui fosse apenas um  apartamento qualquer. Respiro fundo sabendo o porque, é por causa dela, Maite mudou tudo. E agora eu só me sinto em casa ao seu lado e no nosso apartamento. Preciso saber como ela está, pego o meu celular no meu bolso, e procuro o seu  número, depois de chamar algumas vezes, eu finalmente ouço sua rouca voz de sono. Droga, esqueci do fuso horário. Aqui já é passado das oito horas então, lá deve ser passado das dez horas.
— Alô? — Ela fala de novo.
— Bela, sou eu.
— William... —Fecho os  olhos ouvindo sua voz.
— Sim, me desculpe te acordar, eu não lembrei do fuso horário.
— Não tem problema, eu queria mesmo saber se havia chegado bem. —  Sorrio por saber que ela se preocupa.
—  Estou bem, acabei de chegar no meu  apartamento. 
— Ainda está zangado comigo? — Nego com a cabeça, mesmo ela não estando aqui pra ver.
— Não, eu não consigo ficar zangado com você.
— Que bom. — Ouço alguém resmungar e fico atento. — Espera um pouco. —Ela sussura e quase não a ouço. Se ela estava dormindo, como tem alguém com ela?
— Pronto, pode falar. — Ela diz. 
— Quem está ai com você?
— A Camilla, ela está dormindo comigo, trouxe uma garrafa de vinho e eu não deixei ela voltar dirigindo. — Bufo.
— O que foi?
— Nada, eu só estou morrendo de inveja dela agora. — Ouço Bela suspirar.
— Já estou com saudade.
— Eu também. — Falo sincero, desde que sai da casa, eu já sinto sua falta.
—  Dormir sozinho vai ser horrível. — Ouço ela rir.
— Camilla está me roubando a coberta toda hora, dormir sozinha não é tão ruim. —  Sorrio. — Mas lógico que eu prefiro dormir com você.
— Idem. — Digo rindo e abro a porta do quarto. — Estou entrando no quarto que vai ser o nosso quando viermos morar pra cá. — Eu estou disposto a trazer essa mulher pra minha vida. Trazer ela de verdade.
— Hum e como ele é?
— Bem, as paredes são cinzas, tem uma enorme janela com varanda dando uma visão privilegiada do Central Parque.
— Sério? Sempre quis conhecer esse parque.
— É bem perto, podemos passear lá sempre. — Imagino nos caminhando de mãos dadas. E gosto disso. — E pra finalizar tem uma cama, grande demais pra dormir sozinho. — Já imagino ela nua sobre a cama e gosto muito mais disto. — Bem, vou deixar você dormir.
— Prefiro falar com você. — Sorrio. — Mas você deve também estar cansado,  então é melhor desligarmos. Vai me ligar amanhã?
— Vou sim, toda noite até eu voltar.
— Ta bem. Volta logo.
— Vou tentar.
— Boa noite, dorme bem.
— Boa noite Bela, dorme bem também.
— Tá bom, beijo.
— Beijo. — Com um suspiro desligo o celular. E olho a cama vai ser uma longa noite.

— Will, acorda.
— Bela... — Sussurro, mas ao abrir os olhos me reparo com minha mãe.
— Mãe?
—  Sim, sou eu. — Ela está sentada na cama, ao meu lado. E séria, brava com alguma coisa. — Você dorme junto com ela? Ou ela te acorda todo dia, pra você ter chamado o nome dela? — Passo a mão pelo rosto, zonzo.
— Do que ta falando?
— Você me chamou de Bela.
— Ah... Sim, durmo com ela. — Falo como se fosse óbvio.
— Eu pensei que era um casamento de mentira, filho.
— Nunca foi. — Me sento na cama e ela continua me encarando séria. — O que foi mãe?
— Vou preparar o seu café até que tome um banho e se vista. — Seguro sua mão antes que se levante.
— A senhora, não vai me falar porque está tão séria?
— Nunca concordei com esse casamento mas aceitei porque sabia que contaria a verdade a ela e se divorciariam. E agora me diz que nunca foi de mentira?
— No início era...
— E o que aconteceu? Ela seduziu você?
— Mãe... Para, eu não vou falar disso com a senhora.
— Eu apenas me preocupo com você.
— Não sou mais nenhuma criança.
— Mas ainda é meu filho e não quero que essa aproveitadora...
— Não continue. Eu não permito que fale assim dela.
— William, ela foi criada pelo pai...
— Ela foi negligênciada pelo pai e ainda assim, ela é uma pessoa maravilhosa. E mesmo estando casada comigo, se deu mais ao respeito do que muitas filhas de amigas suas aliás, com quem eu sai.
— Tudo bem... — Ela respira fundo e se levanta.
— Mãe, não tem motivos pra você não gostar dela. Não notou no jantar como ela é? Ela se preocupou tanto em fazer um jantar pra vocês e agora a senhora esta falando dela assim.
— Eu só me preocupo com você filho, não tenho nada contra ela.
— Eu estou bem, ela cuida muito bem de mim. — Volto a lembrar dela e de seu carinho. Sinto tanta sua falta, me contentaria apenas com um abraço, se fosse possível.
— Tudo bem, vou fazer seu café. — Minha mãe diz saindo do quarto, as vezes ela exagera no cuidado comigo.
Antes de ir pro banho pego meu celular e mando uma mensagem dando bom dia pra Bela. Espero um pouco, torcendo pra que ela responda, mas ela está ofline então vou tomar um banho. Coloco uma roupa quente e um sobretudo por cima durante o café da manhã, percebo que minha mãe continua brava e evito falar sobre a Bela ou vamos brigar.

— Vai ver a Isabel que horas, filho?
— Agora se for possível, ela continua internada?
— Sim, mas deve ganhar alta logo. Posso te levar no hospital se quiser.
— Sim. Não tem um horário de visitas?
— Tem, mas podemos ligar para o seu tio e ele sai do quarto, assim você entra como acompanhante.
— Tá bem, pretendo tirar a manhã pra conversar com ela. E a tarde vou para a agência, quero voltar logo para o Brasil.
— Porque?
— A senhora não vai gostar da resposta, mãe. — Digo rindo e ela acerta um tapa no meu ombro.
— Me respeite William Guilherme. Com certeza é por causa daquela mulher, não é?  — Não posso negar, não vejo a hora de estar com ela.
— Mãe... Como pode não gostar dela? Maite é tão doce, simpática, educada.
— Vejo que você conhece muito bem as qualidades dela. — Rio de novo. E como conheço. Sua maior qualidade, é sua doçura, me encanta e me excita.
— Melhor irmos logo pro hospital sim?
— Sim.
A minha mãe me deixa na porta do hospital e ligo para Heriberto pedindo pra que ele saia do quarto. Depois de falar alguns instantes com ele, eu entro pra falar com a Isabel. Bato na porta e a abro se devagar.
— William. — Isabel está sentada na cama e seu sorriso aumenta quando me vê. — Eu estava te esperando.
— Oi tia. — Me aproximo da cama e ela me abraça apertado. Quando me solta eu sento na cama. — Como a senhora está?
— Bem... Você não trouxe ela não é? — Seu sorriso já sumiu e vejo que seu olhar está na porta, esperando Maite entrar a qualquer instante.
— Não tia, eu falei que dessa vez ela não poderia vir junto. — Ela tenta me dar um sorriso, mas vejo a decepção em seus olhos.
— Lembra que eu falei do passaporte? Então, ele vai demorar mais um tempo pra ficar pronto.
— Eu sei... mas eu tinha uma esperança sabe, de que ela viesse.
— Entendo tia, mas infelizmente, dessa vez, não foi possível trazer ela.
— Tudo bem, ao menos você está aqui, obrigada, por vir.  — Seguro a sua mão, Isabel me parece bem agora, mas como Rafael disse, ela sempre parece bem até desabar de novo. — Mas... Me fala mais dela, me conta tudo. — Sorrio por ver sua animação. A segundos atrás, pensei que ela iria chorar. Isabel é assim, passa do riso ao choro em segundos. Ela não é instável, isso que nós preocupa.
— Bem... Nem sei por onde começar.
— Como ela é?
— Linda... Muito linda, muito parecida com a senhora por sinal.
— Sim, o Heriberto acha o mesmo, nos dois  vimos a foto dela numa festa que vocês foram, ela estava tão bonita com um vestido vermelho.
— É, eu lembro. — Lembro do prazer que foi tirar aquele vestido.
— E o que ela fala de mim?
— Ela não fala muito, pois ela não se recorda muito da infância, mas lembra da senhora com muito carinho e é muito nítido o quanto sente sua falta.  — Ao terminar, vejo que Isabel tem os olhos marejados.
— Eu também sinto sua falta, é como se ouvesse um buraco profundo no meu coração desde que a deixei. — Ela tenta limpar as lágrimas.
— Olha tia, eu não posso afirmar com toda certeza, mas eu acho que ela vai te perdoar quando contarmos a verdade, Maite não é rancorosa, ela foi até muito compreensiva com as tiranias do pai.
— Ela talvez, mas eu nunca vou me perdoar por ter abandonado ela.
— Não teve escolha.
— Eu tive sim, William, eu poderia ter lutado mais, só que eu foi fraca e depois deixei essa maldita doença tirar a minha lucidez.
— Por isso que tem que lutar contra ela, precisa estar forte pra conquistar a sua filha de novo.
— Eu tento mas... — Seguro seu queixo fazendo ela me olhar.
— Maite precisa de você, ela precisa de uma mãe que esteja forte, pra cuidar dela quando descobrir como o seu pai foi um maltido mentiroso, ela não vai aguentar sozinha, ela é frágil. — Sinto um nó na minha garganta, ao pensar por tudo que ela vai ter que passar.
— Eu estava sendo forte , eu estava conseguindo, mas de repente eu me vi no chão do banheiro, com uma cartela de comprimidos vazia e Heriberto estava gritando...
— Eu soube... Tia, não adianta estarmos se sacrificando pela senhora, se não está disposta a cooperar.
— Eu estou, eu estava tentando ser forte, e quero estar bem pra quando ela voltar pra mim.
— Então me prometa, que nunca mais, vai tentar tirar a própria vida. — Isabel leva a mão na boca assustada.
— Eu não estava tentando me matar, já disse, estava nervosa e tomei pra me acalmar, William. Foi só isso.
— Tudo bem, eu acredito, mas não faça de novo. — Ela concorda com a cabeça. E eu abraço.
— Obrigada, por tudo. — Ela sussura.
— De nada. — E quando me solta, limpa as lágrimas.
— Mas continua, me falar dela... Quando o passaporte vai ficar pronto?
— Ah... em um mês. Até lá vamos ter que esperar. — Ela nega.
— Não é necessário, eu já estou muito bem, vou receber alta logo, posso voltar com você para o Brasil. E então falamos com ela. — Oh Merda, preciso de tempo, pra falar com a Maite, sobre nós. Saber se ela sente o mesmo, pensar no que vou fazer a partir de agora. Enfim, preciso desse tempo.
— Melhor não tia, nos não fizemos tudo isso porque o Jorge prometeu machucar a Maite se voltasse a se aproximar?
— Mas, agora ela não está mais com ele, está sob sua proteção.
— De qualquer forma... Não. — Ela franze a testa, idêntica a Maite.
— William, porque não quer que eu veja a minha filha?
— Porque... Eu me apaixonei por ela tia...









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